Sociedade | 19-09-2022 07:00

Carla Silva luta há seis anos para recuperar a guarda do filho

Carla Silva está determinada a recuperar o filho que não vê há 10 meses

Menino foi institucionalizado aos dois anos quando a mãe, por falta de condições, pediu ajuda. Carla Silva está desde essa altura a tentar recuperar a guarda da criança e promete levar a sua luta para a porta do Tribunal de Santarém.

Carla Silva garante que vai continuar a lutar para recuperar a guarda do seu filho, André Tomás, nem que para isso tenha que fazer greve de fome à porta do Tribunal de Santarém. O menino, de oito anos, está institucionalizado desde Julho passado, mas a história da separação desta mãe e filho começou quando André tinha apenas dois anos e meio e Carla decidiu, num momento de aflição, pedir ajuda à Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ). Nessa altura, André Tomás foi institucionalizado e nunca mais voltou para os braços da mãe.
“O André está numa instituição não porque o retiraram de mim, mas porque decidi pedir ajuda. O meu filho não precisa de uma nova família, precisa da mãe. Estou a perder o crescimento dele, provavelmente pensa que o abandonei, mas vou lutar por ele sozinha e vou até onde puder”, diz, lamentando que por via de uma advogada já tenha feito vários pedidos para aceder ao processo do menino, o que até hoje não foi possível.
Enquanto fala com O MIRANTE, no Parque Urbano do Cevadeiro, em Vila Franca de Xira, Carla Silva não tira os olhos da tatuagem que tem no braço com o nome do filho que não vê há 10 meses. Diz que se pudesse voltar atrás no tempo tinha feito diferente e jamais teria recorrido à CPCJ quando perdeu o emprego, a casa e estava a sofrer psicologicamente por o seu filho ter sofrido de abuso sexual. O caso, que envolveu uma acusação contra o marido da ama de André Tomás e testes de medicina legal, acabou arquivado por falta de provas; já o menino estava numa instituição em Lisboa. Carla Silva assinou a 11 de Julho de 2016 um acordo em como a institucionalização só duraria por um período de seis meses para “conseguir reorganizar a vida”. A 20 de Agosto “já tinha trabalho e uma casa mobilada com todas as condições para o receber”, mas André continuou na instituição porque, alegadamente, a mãe não tinha estabilidade emocional para cuidar dele.

“Chorava e desesperava quando me diziam que o meu filho ia para adopção”
Carla Silva, tal como o pai e a madrasta do menino, foi ao Hospital de Vila Franca de Xira fazer avaliação psicológica, tendo sido determinado que nenhum dos três tinha condições para receber o menino. “Na instituição diziam-me que eu não era uma resposta válida porque ria e chorava nas visitas que lhe fazia; nunca faltei a nenhuma. Mas sim, chorava e desesperava quando me diziam que o meu filho ia para adopção”, conta. André acabou por sair dessa instituição por intermédio de uma irmã sua filha do mesmo pai, e com Carla Silva a concordar – para afastar a hipótese de o menino ser adoptado – desde que o pudesse visitar.
Assim aconteceu e durante anos Carla Silva visitou o filho que estava ao cuidado da irmã do menino, residente em Almeirim. Nesses encontros, que também passavam por Alpiarça e Santarém, mãe e filho desfrutavam como podiam do “pouco tempo” que passavam juntos. “Não estávamos à vontade para fazer o que quiséssemos. Por exemplo, gostava de o ter levado ao cinema, mas tínhamos de ficar sentados numa das mesas do shopping”, recorda. Farta de imposições e limitações Carla Silva avança com um pedido ao tribunal para que as visitas fossem feitas em sua casa, o que leva, por sua vez, uma assistente social a fazer uma avaliação à sua habitação. “Tinha todas as condições e o André passou a ir para lá de sexta-feira a domingo, diz”.
Durante três meses, Carla Silva acreditou que tudo estava a ir no bom caminho. “Brincávamos, dava-lhe banho, adormecia-o à noite e ele adorava a Nina, uma cabra que o meu marido lhe comprou”. Mas a irmã de André “começou a dificultar” as visitas. “Fui à Segurança Social de Almeirim, disse que queria recuperar o meu filho e que não esperava mais. Foi então que me voltaram a dizer para ir com calma porque o menino estava bem integrado e que a mudança podia não ser boa”. Carla Silva acata o conselho da assistente social, mas escreve ao tribunal a pedir para as visitas serem mais frequentes para o menino se adaptar. A resposta demora a chegar.

Menino é institucionalizado novamente sem o conhecimento da mãe
No dia 19 de Julho de 2022 André Tomás volta a ser institucionalizado, desta vez no Fundão. Tudo porque a sua irmã fez em Maio um pedido de institucionalização alegando que deixou de ter condições financeiras para cuidar da criança. Carla Silva garante nunca ter sabido desse pedido, nem pelo tribunal nem pela irmã de André que, ao que tudo indica, terá a guarda da criança. A mãe diz que por diversas vezes pediu para falar com o menino ao telefone mas disseram-lhe que ele não queria falar. “Para o André este foi mais um abandono. Ele não sabe que estou a tentar recuperá-lo e não me deixam. Não temos acesso a nada do processo que está no Tribunal de Santarém”, diz com ar sofrido mas determinado.
Carla Silva faz parte do movimento Órfãos de Pais Vivos, constituído por pais e mães a quem foram retirados os filhos e que tem vindo a público denunciar casos do que consideram ser retiradas abusivas de crianças e falhas do sistema jurídico português. O movimento conta com mais de duas centenas de membros, cujas histórias têm protagonistas diferentes mas o guião repete-se, nomeadamente nas decisões tomadas tendo por base única relatórios de técnicos, psicólogos ou outras entidades de suporte aos tribunais.

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