Sociedade | 23-05-2022 15:00

Crianças e jovens em risco são apoiados pelo Lar de Infância e Juventude de Torres Novas

Lar de Infância e Juventude de Torres Novas acolhe 12 jovens que nasceram no seio de famílias disfuncionais

Nasceram no seio de famílias disfuncionais e estão à guarda do Lar de Infância e Juventude de Torres Novas por ordem do tribunal. Rui Azevedo, assistente social e director técnico da instituição, conta a O MIRANTE como é lidar com jovens problemáticos e com comportamentos de risco.

Uma casa igual às outras, num bairro harmonioso em Torres Novas, acolhe 12 crianças e jovens, todos rapazes, que se encontravam em situação de risco. Rui Azevedo, 37 anos, assistente social e director técnico do Lar de Infância e Juventude (LIJ), explica a O MIRANTE o contexto em que viviam os utentes: “Alguns miúdos chegam aqui com 15 anos sem saberem ler ou escrever. São violentos, partem tudo, lançam mobília pela janela; outros mutilam-se na casa-de-banho com lâminas e objectos perfurantes. Infelizmente já tivemos pessoas com problemas muito graves, mas nos últimos tempos temos tido o grupo mais tranquilo”, assegura.
O LIJ foi inaugurado em 2011 e faz parte do Centro de Bem Estar Social da Zona Alta (CBESZA). É uma casa onde já entraram jovens em perigo de vida e mais tarde saíram homens com sonhos traçados e bem encaminhados para os realizar. Elvira Ferreira, 59 anos, educadora social, trabalha no LIJ desde o início do projecto e tem como função ensinar os utentes a fazerem um pouco de tudo. Passam a ferro, limpam os quartos, aprendem a cozinhar; ali ninguém está autorizado a ficar de braços cruzados. Depois de alguns dias ou meses há uma ligação afectuosa que se desenvolve. “Alguns pedem abraços, querem o carinho que nunca tiveram”, explica, com emoção, acrescentando que é esse afecto que vai contribuir para a reabilitação psicológica das crianças e jovens.
Enquanto uns jovens estudam nos quartos outros vêem televisão na sala comum. Algumas divisões são maiores que outras, mas nenhuma delas é pequena o suficiente para impedir que estejam juntos ao mesmo tempo. Apesar da existência de regras, a autonomia e a liberdade de movimentos são determinantes na metodologia adoptada pelos técnicos do LIJ.
Rui Azevedo explica que “dar mundo” é essencial para o seu desenvolvimento pessoal. “Eles não precisam de contenção física se trabalharmos bem a componente emocional. As regras são adaptadas a cada caso. A proximidade e as avaliações que a equipa de técnicos faz diariamente é crucial para acompanhar de perto o progresso, sem os prender demasiado”, refere.
Francisco é um dos utentes que tem apresentado maior evolução na instituição. Conversa com O MIRANTE ao mesmo tempo que pega na cadela Kikka ao colo, a coqueluche da casa que o jovem de 16 anos mima com todo o cuidado. É de Espite, concelho de Ourém, e quase todos os fins-de-semana vai visitar os pais. Afirma que gostava de lá ficar e que nem sempre é fácil regressar ao lar que o recebeu quando tinha 11 anos. No entanto, reconhece a sua evolução e garante que não quer ficar por aqui. “O Rui Azevedo recomendou-me fazer um curso agrícola no Centro de Reabilitação e Integração Torrejano (CRIT) e já me inscrevi no Centro de Emprego. Agora tenho que conseguir terminar o 9º ano e começar essa formação já no Verão”, afirma com convicção.

Muitas instituições fecham por falta de apoio do Governo
O Lar de Infância e Juventude é tutelado pela Segurança Social que identifica situações de jovens e crianças em risco de pobreza, negligência ou violência física, com origem nos progenitores. Os tribunais analisam os casos e definem medidas e um destino. A lei diz que as medidas deviam ser executadas em 18 meses, mas Rui Azevedo alerta que “isso nunca acontece e é muito raro ficarem menos de dois anos”. Habitualmente o LIJ recebe jovens e crianças do distrito de Santarém, mas há quem venha de mais longe.
O director aproveita o momento e aborda um assunto que diz ser pouco ou nada falado: “Muitas instituições fecharam, como é o caso do Patronato Santa Isabel, em Abrantes, porque há sempre falta de vontade e de apoio do Governo para projectos que não visam lucro”, lamenta. Actualmente, o LIJ tem três jovens que vão sair em breve e a esperança é que tenham capacidades para entrar no mercado de trabalho e bases para no futuro terem a sua própria família.
O projecto começou em 2011 e a gestão da casa é feita ao milímetro. Existem três técnicos especializados que avaliam todos os dias o desenvolvimento dos utentes. Os cuidadores são seis pessoas e trabalham por turnos, para nunca deixarem a casa sem um adulto a supervisionar. Enquanto a reabilitação não estiver concluída os utentes vão fortalecendo amizades. “Primeiro trabalhamos para introduzir bons hábitos nos miúdos. Só depois partimos para a dimensão académica ou profissional. Aqui o que nos interessa é construir relações com afecto e rigor”, conclui Rui Azevedo.

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