Sociedade | 19-08-2022 14:59

Devoção a Sousa Martins está a perder fiéis em Alhandra

Exposição “Devoção” está patente na Galeria Augusto Bértolo, na Casa Dr. Sousa Martins, em Alhandra, até 28 de Agosto

Pela primeira vez a comunidade pode ver algumas das ofertas feitas ao médico com fama de milagreiro – excepto as jóias, por motivos de segurança – numa exposição na Galeria Augusto Bértolo, em Alhandra. Oferendas e devotos estão a diminuir.

Há cada vez menos fiéis devotos ao médico com fama de milagreiro Sousa Martins e um espelho disso é a redução das ofertas que ficam à guarda da junta de freguesia. As peregrinações têm cada vez menos gente e os tempos estão a mudar. A reflexão veio a lume durante a inauguração de uma exposição destinada a mostrar algumas das oferendas que foram sendo entregues ao longo dos anos pelos fiéis.
Com o passar dos anos as gerações que eram devotas a Sousa Martins começam a desaparecer e as gerações seguintes começam a não estar tão envolvidas com a história e até mesmo com a religião. No entanto, continua a haver senhoras de idade que se deslocam diariamente ao museu somente para rezar ao doutor, contam a O MIRANTE as técnicas Elsa Ribeiro e Rute Simões, do Museu Municipal de Vila Franca de Xira.
A exposição “Devoção”, promovida pela União de Freguesias de Alhandra, São João dos Montes e Calhandriz, está patente na Galeria Augusto Bértolo, na Casa Dr. Sousa Martins, em Alhandra, até 28 de Agosto e traz a público, pela primeira vez, algumas das mais de 500 oferendas em homenagem a José Tomás de Sousa Martins, figura incontornável da medicina nacional e da história de Alhandra, onde nasceu e faleceu.
De um universo de mais de 500 artigos, as técnicas municipais construíram uma exposição com um pouco de tudo: vestidos de noiva, colchas, trajes de primeiras comunhões, roupas de bebé, uma capa académica e vários elementos artísticos, como quadros ou esculturas. Fora da exposição ficaram as jóias por questões de segurança, apesar de todas elas estarem a passar em diapositivos num ecrã na sala.
O presidente da junta de freguesia, Mário Cantiga, que no passado gerou polémica quando defendeu que a junta vendesse o espólio de ouro doado em pagamento de promessas para gerar receita que pudesse ser reinvestida em prol da comunidade, garante agora que nenhuma peça acabou por ser vendida e todas ficaram guardadas e inventariadas em cofre. “Permanecerão para sempre nesse cofre”, garante. Ainda assim, a quantidade de peças de ouro é residual.
O autarca defendeu, durante a inauguração da exposição, que o Museu Municipal Casa Dr. Sousa Martins se tornasse fiscalmente uma entidade individual. “Sinto que seria melhor para todos se fosse criada uma associação dedicada a este museu, para que todo o dinheiro e oferendas ficasse registado em título próprio do museu, para que tudo seja ainda mais transparente”, defende. Actualmente, o dinheiro oferecido encontra-se numa conta bancárias de onde só sai verba para obras de restauro do próprio museu.

Romagem ao jazigo de Sousa Martins, no cemitério de Alhandra, em 18 de Agosto de 2004
Romagem ao jazigo de Sousa Martins, no cemitério de Alhandra, em 18 de Agosto de 2004

Alhandra não quer turismo religioso
O autarca, apesar de reconhecer que a vila de Alhandra tem dois picos de turismo religioso dedicado ao médico, a 7 de Março e 18 de Agosto, datas do seu nascimento e morte, não tem qualquer vontade de tirar proveito desses momentos. “O Dr. Sousa Martins tem família. Tudo o que é feito por nós tem o conhecimento deles e trabalhamos em parceria para que tudo seja sempre de acordo com a sua vontade. Abomino a ideia de ter pessoas a vender roupa ou objectos com a cara do doutor sem dar o devido conhecimento à família. A vila de Alhandra orgulha-se do médico e da sua história, mas longe de nós criarmos aqui um ponto de turismo religioso com o intuito de tirarmos proveito financeiro disso”, explica.
José Tomás de Sousa Martins é uma figura incontornável da história da medicina, mas sobretudo “um filho amado pela sua terra”, conta Mário Cantiga. Para o autarca, a figura do médico é uma imagem de dedicação e esforço, preferindo olhá-lo enquanto mestre na sua arte científica e não tanto como possível santo laico. “Não sou eu que vou decidir quem é ou não santo, não creio nisso. Para mim o Dr. Sousa Martins foi um dos melhores médicos que este país já viu e eu sinto-me tremendamente orgulhoso por ser alhandrense” conclui.

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