Sociedade | 12-04-2022 07:00

Edição Semanal. Jovem sepultado no cemitério de VFX sem nome e sem que a família soubesse da sua morte

Corpo sepultado no cemitério de Vila Franca de Xira só pode ser trasladado ao fim de três anos

Família só soube da morte de Afonso Ferreira 21 dias após ter sido sepultado sem nome no cemitério de Vila Franca de Xira. Corpo esteve quase dois meses na morgue à espera de ser levantado. Acabou por ser levado para a sepultura pela Misericórdia da cidade que realiza em média sete funerais sociais por ano.

Afonso Ferreira desapareceu a 8 de Janeiro deste ano
Afonso Ferreira desapareceu a 8 de Janeiro deste ano

Afonso Ferreira foi enterrado sem nome, sem família presente e sem cerimónia fúnebre no cemitério de Vila Franca de Xira quase dois meses após a sua morte. O corpo, sem qualquer identificação, esteve na morgue do hospital da cidade à espera que alguém o reclamasse, mas ninguém apareceu. Em Lisboa, a família e amigos do jovem de 30 anos, que já tinham participado o desaparecimento, continuavam as buscas e lançavam apelos na esperança de o encontrar.
Depois de ter saído de casa sem qualquer documento de identificação Afonso Ferreira vagueou durante sete dias. A 15 de Janeiro de 2022, pelas 18h45, foi colhido por um comboio, em Vila Franca de Xira, e o corpo transportado ao hospital da cidade.
Em Lisboa, após notar o desaparecimento do neto, a avó, São, foi à esquadra da PSP de Alvalade e fez uma participação. Mas como o jovem era maior de idade e não era a primeira vez que saía de casa sem avisar a avó ou os dois irmãos, o que ouviram da Polícia, refere uma vizinha, foi que era provável que “tivesse desaparecido porque quis”. Até 31 de Março nunca tiveram pistas sobre o paradeiro de Afonso, que dois meses antes tinha sido diagnosticado com depressão.
O funeral solitário de Afonso teve apenas a presença do coveiro e dos trabalhadores da agência funerária contratada pela Misericórdia de Vila Franca de Xira, entidade que organizou o funeral. Nenhum dos presentes conhecia ou sequer tinha visto alguma vez o defunto. Não sabiam a idade nem a causa da morte. O coveiro apelidou-o de “sem nome”.
O corpo de Afonso Ferreira, enterrado a 10 de Março, vai ter que permanecer durante alguns anos na campa 23 do último talhão do cemitério da cidade ribatejana, para desgosto da família. Sobretudo da avó que o criou e “muito sofreu durante o seu desaparecimento”. Com mais de 80 anos São tem feito um esforço para visitar a campa do neto desde que soube da sua morte e paradeiro a 31 de Março através da Polícia Judiciária.
Depois disso, já tentou levá-lo para o cemitério de Alvalade, freguesia onde reside. Mas, por lei, esclarece a Câmara de Vila Franca de Xira em resposta a O MIRANTE, “após a inumação é proibido abrir qualquer sepultura antes de decorridos três anos, salvo em cumprimento de mandado da autoridade judiciária”.

Mortos que não chegam a ter nome
O pedido de sepultamento, acrescenta a autarquia, foi apresentado pela Misericórdia de Vila Franca de Xira, no sentido de ser realizado um funeral social uma vez que o corpo não foi reclamado e se desconhecia a sua identidade.
Enterrar os mortos, explica o provedor, Armando Carvalho, “faz parte das obras de misericórdia” e foi por isso que o hospital contactou a instituição depois de cumpridos os prazos legais para se tentar identificar o corpo e encontrar a família. “É triste mas o corpo não podia ficar para sempre na arca frigorífica do hospital”.
Ser enterrado sem flores e sem ninguém por perto não é uma triste realidade exclusiva de Afonso Ferreira. Por ano, segundo Armando Carvalho, a Misericórdia de Vila Franca de Xira realiza em média seis ou sete funerais sociais. “Alguns morrem e nem o nome deles se sabe, outros têm a indicação de uma morada errada indicada pelos familiares”, conta, explicando que nestes casos a instituição nem chega a receber o subsídio de funeral da Segurança Social contando apenas com a isenção do pagamento da taxa de inumação à câmara.
Para o provedor, o funeral social que mais o impressionou foi o de uma criança deixada pela mãe no Hospital de Vila Franca de Xira e que acabou por morrer. “A mãe disse que tinha que sair para tratar de uns assuntos e nunca mais apareceu. Tivemos que ser nós a fazer-lhe o funeral”, recorda.

Linha de apoio de prevenção ao suicídio

Linha SOS voz amiga – 213 544 545 / 912 802 669 / 963 524 660. Diariamente das 15h30 às 00h30.

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