Luís Miguel Garrido tinha estado a trabalhar em Angola, onde sofreu um acidente que lhe feriu a boca, e tinha regressado à Chamusca para recuperar e, perante a doença da mãe, acabou por ficar pela terra arranjando trabalho como mecânico na Resitejo, onde na segunda-feira, 11 de Abril, morreu num acidente ainda por explicar. Tinha 46 anos, era solteiro, muito conhecido na vila, e o falecimento num acidente de trabalho deixou a população consternada.
Não era uma pessoa de muitas palavras mas gostava de marcar presença em iniciativas das associações da terra ou em almoços e jantares de convívio com o seu círculo de amigos mais próximos. O Jogo do Quartão, em Quarta-Feira de Cinzas, era um dos momentos altos do ano para Luís Garrido. As motas e os carros eram a sua grande paixão e sempre que havia um passeio ou uma prova de todo-o-terreno só não marcava presença se não pudesse mesmo.
Os pais, que são agricultores e costumam produzir melão e melancia e vendem à beira da estrada na saída da Chamusca para Alpiarça, já tinham perdido o outro filho há 24 anos num acidente em que a moto em que seguia embateu num tractor. O acidente de Pedro Garrido ocorreu na estrada do campo, que liga a sede de concelho a Vale de Cavalos, bastante frequentada por veículos agrícolas.
Luís Garrido parecia, à primeira vista, uma pessoa fria, mas quem o conhecia diz que isso também se devia a alguns azares que lhe foram acontecendo ao longo da vida. Antes de de emigrar para Angola costumava trabalhar com os pais na agricultura. No entanto, saiu do país para conseguir melhores condições de vida que não estava a conseguir com a actividade agrícola. Foi agricultor durante uma grande parte da vida tendo aprendido a profissão com os pais, Emília e António Garrido, pessoas muito acarinhadas na Chamusca. A família tem também ovelhas e é frequente ver-se António Garrido a conduzir o rebanho nos campos da Chamusca. A mãe está neste momento a passar por graves problemas de saúde.
Luís Garrido, que faria 47 anos no dia 2 de Outubro, estava a arranjar uma viatura no fosso da oficina da empresa intermunicipal de gestão e tratamento de resíduos, situada no EcoParque do Relvão, na Carregueira, quando rebentou um sistema pneumático dos travões, sem explicação plausível, até porque não é uma situação previsível de acontecer. A explosão atingiu-o na face e quando chegaram as equipas de socorro já não havia nada a fazer. Em Angola era costume fazer a manutenção de viaturas da empresa onde trabalhava.

Mais acidentes mortais na empresa
Em Janeiro de 2020 um trabalhador de 51 anos, que trabalhava na Resitejo há 10 anos, morreu quando o empilhador que manobrava se tombou. O corpo da vítima ficou debaixo da máquina. Apesar dos esforços de reanimação o funcionário acabaria por morrer no local.
Em 2018, também em Janeiro, um trabalhador perdeu a vida quando foi atropelado nas instalações da Resitejo por um camião da empresa. O trabalhador, com 73 anos, foi apanhado pela viatura que fazia marcha-atrás e cujo condutor não se tinha apercebido da presença do colega.

Cinco mortos e 10 feridos graves no ano passado
No ano passado a Autoridade para as Condições do Trabalho registou cinco acidentes de trabalho mortais no distrito de Santarém, os mesmos que em 2020, e 10 acidentes com feridos graves, menos oito em comparação com o ano anterior. Nos últimos quatro anos no distrito o pior em acidentes de trabalho mortais foi o de 2018, com 10 vítimas. O ano em que se registaram mais feridos graves foi o 2019, com 44 casos.