Sociedade | 21-02-2022 07:00

Edição Semanal. “Não consigo compreender a leviandade com que se trata a vida humana”

Thelma e Bruno Marques acreditam que se o parto de Lara tivesse corrido normalmente a menina, que teria agora 10 anos, ainda estaria viva. Na foto, os pais com a filha mais nova, Luzia

Pais de Lara têm a certeza que a menina teria sido uma criança saudável se não tivesse havido erros na altura do parto.

A primeira gravidez de Thelma Marques, aos 28 anos, decorreu sem complicações até ao momento do parto. Rebentaram-lhe as águas a 15 de Dezembro de 2010 e foi para um hospital público em Coimbra. Thelma estava deitada num quarto, juntamente com outras grávidas, e recorda-se que uma enfermeira fez o chamado CTG (exame que faz a avaliação do bem-estar do bebé dentro da barriga da mãe) a todas as parturientes mas não a si. “Questionei o porquê de não me terem feito aquele exame e a enfermeira só me respondeu que eu tinha que caminhar pelo hospital para fazer a dilatação”, recorda a O MIRANTE.
Passou a noite com muitas dores e foi quando ia tomar banho que sentiu um grande peso na barriga e esta a ficar como gelatina. Gritou por ajuda e apareceu uma enfermeira que ao apalpar a barriga de Thelma Marques demonstrou a sua preocupação e chamou médicos que a levaram imediatamente para a sala de partos. “Entre levarem a Thelma para a sala de partos e levarem a Lara para o recobro não demorou cinco minutos”, conta o pai Bruno Marques.
A bebé ficou com paralisia cerebral e totalmente dependente de terceiros. O casal, que vive em Minde, concelho de Alcanena, confessa que andou ‘perdido’ durante muito tempo mas que processaram o hospital por negligência médica. Recorreram ao tribunal cível porque para o criminal teriam que ter apresentado queixa no prazo até seis meses depois dos acontecimentos, o que não aconteceu. Confessam que só se sentiram em condições de lutar mais de um ano depois do nascimento da filha mais velha. O processo arrastou-se em tribunal mais de sete anos e foi arquivado.
Bruno Marques e Thelma Marques, ambos de 39 anos, não se conformam com o arquivamento do processo. “Os médicos são uma classe que, para o bem e para o mal, protegem-se e o tribunal parece que faz deferência por serem médicos. Se tivesse havido cuidado a Lara teria nascido saudável. Não consigo compreender a leviandade com que se trata a vida humana. Se nos tivessem explicado como as coisas aconteceram, o que correu mal e pedissem desculpa era o suficiente. Todos cometemos erros. Desvalorizar o que se passou é que não aceitamos”, critica Bruno Marques.
O casal teve receio mas decidiu ter mais um bebé. Luzia nasceu há quatro anos de cesariana num hospital privado. Bruno e Thelma não quiseram correr mais riscos. A filha mais nova veio estimular muito Lara. No entanto, Lara faleceu em Agosto do ano passado vítima de paragem cardiorrespiratória. Uma dor que veio trazer ao de cima memórias antigas como o nascimento de Lara que, segundo os pais, foi vítima de negligência médica.

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