Sociedade | 05-06-2022 12:00

“Escola na Floresta” é projecto de ensino inovador em Ourém

Escola na Floresta é um projecto que está implementado na aldeia de Vale Travesso (concelho de Ourém) onde crianças em idade pré-escolar aprendem através do contacto com a natureza

Cátia Lopes implementou um projecto na aldeia de Vale Travesso onde cerca de duas dezenas de crianças em idade pré-escolar aprendem através do conctacto com a natureza. A O MIRANTE a professora não esconde a ambição de alargar o projecto para crianças do 1º e 2º ciclos.

Um ensino diferente, ao ar livre, em contacto directo com a natureza, e que respeita o tempo que cada criança precisa para aprender. A Escola na Floresta, projecto inovador praticado em Vale Travesso, concelho de Ourém, tem 17 crianças em idade pré-escolar acompanhadas pela professora Cátia Lopes e pela educadora Vanessa Figueiredo.
A reportagem de O MIRANTE encontra a pequena Beatriz a tentar fixar um prego num sobreiro para que os seus colegas de turma o consigam subir. A actividade é acompanhada por Cátia Lopes, que procura ensinar a arte da escalada com recurso a objectos mais básicos. A professora não esconde a felicidade de ver nas suas crianças um espírito colaborativo e a destreza para os trabalhos manuais e para a comunicação verbal. “O contacto com a natureza ajuda ao desenvolvimento pessoal das crianças, dos mais jovens. No entanto, é importante respeitar o ritmo diferente de cada uma e saber conciliar o tempo para brincar e para aprender”, afirma.
O espaço onde exploram a natureza e realizam actividades didáticas tem dimensão superior a um campo de futebol. Por estar inserido numa zona florestal há muita vida para partilhar; árvores de muitas espécies, insectos de muitos tipos, rastejantes e voadores, e até um jumento, baptizado de Baltazar, que é alimentado pelas crianças como se de um animal doméstico se tratasse. Vanessa Figueiredo, educadora de infância, confessa que nem todos os pais estão preparados para proporcionarem aos filhos novas formas de aprendizagem. “É uma aprendizagem em que as crianças passam a respeitar a natureza, ao mesmo tempo que trabalham a coordenação motora, caindo e aprendendo a levantarem-se sozinhas”, explica, com um sorriso no rosto, acrescentando que o ideal é “sair da linha” sem deixar de enquadrar as dinâmicas da vida real.
Duas toalhas no chão servem de apoio para as crianças brincarem a pintar a cara umas das outras. Cátia Lopes explica que o procedimento “não pretende descaracterizar as crianças, mas valorizar a individualidade de cada uma partindo do princípio que todas se devem dar bem”.
A base de trabalho na Escola na Floresta é sensível às particularidades de cada criança. Procura-se que questionem e tenta-se despertar ao máximo a curiosidade. O inglês já é habitualmente ouvido entre os alunos e um deles que fala francês está a tornar o ambiente multilíngue. A dinâmica do grupo prova que o ensino não pode continuar a ser ministrado apenas no interior de um edifício. No entanto, essa prática tradicional não deixa de integrar os planos. Vanessa Figueiredo reconhece que “o importante é o equilíbrio”.

Aluna alimenta o burro que foi baptizado de Baltazar
Aluna alimenta o burro que foi baptizado de Baltazar

Alargar o modelo ao 1º e 2º ciclos
As escolas na floresta (Forest School) tiveram origem nos países escandinavos, mais especificamente na Dinamarca. Neste momento o Reino Unido tem 108 escolas certificadas pelo Ministério da Educação e foi de lá que Cátia Lopes retirou a ideia. Em Portugal existem apenas disponíveis alguns projectos pilotos. Cátia Lopes iniciou o caminho em 2021 e, no próximo ano, já vai ter 25 crianças inscritas, mas quer chegar mais longe; a professora, natural de Alburitel, assume que o seu grande objectivo é aplicar o modelo a crianças do primeiro e segundo ciclos.
A Escola na Floresta é uma associação que adoptou um regime de ensino misto, entre o modelo de origem britânica e o programa pré-escolar nacional. Estabeleceu-se na antiga escola primária de Vale Travesso, com o apoio do município de Ourém, que cedeu uma das salas. Cátia Lopes dava aulas em Inglaterra quando pensou em fundar o projecto no concelho onde nasceu. Neste momento já assinou protocolos com a Escola Superior de Educação e Ciências Sociais de Leiria, que pretende ampliar conhecimentos na área e fazer um estudo sobre o desenvolvimento das crianças inseridas neste tipo de projecto.

Mais Notícias

    A carregar...
    Logo: Mirante TV
    mais vídeos
    mais fotogalerias

    Edição Semanal

    Edição nº 1657
    27-03-2024
    Capa Vale Tejo
    Edição nº 1657
    27-03-2024
    Capa Lezíria/Médio Tejo