Sociedade | 07-08-2022 12:00

Esgotos industriais da Caima poluem o Tejo em Constância

No dia 19 de Junho, os esgotos corriam para o Tejo a meio do rio, através deste emissário colapsado que outrora ligou a rede de esgotos de Constância à ETAR da Caima

Análises químicas às águas residuais que descarregavam no meio do Tejo demonstraram que afinal não se tratava de esgotos domésticos da vila e que os parâmetros apresentados são consistentes com a indústria de celulose.

Os esgotos sem tratamento que em meados de Junho estavam a ser descarregados no meio do rio Tejo em frente à vila de Constância eram de natureza industrial e a sua composição química consistente com a indústria de celulose, segundo análises laboratoriais que dois cidadãos de Constância mandaram fazer após terem recolhido amostras.
Segundo o relatório das análises químicas, a que O MIRANTE teve acesso, “o facto de existir na amostra um forte cheiro a enxofre, a cor que apresenta, bem como as concentrações de sulfato e sulfito, indica que esta amostra é proveniente de uma descarga de águas residuais cujo processo utiliza compostos de enxofre, como por exemplo os utilizados no cozimento da madeira das companhias de celulose”. E indústrias de celulose por ali só há uma: a fábrica da Caima.
A 20 de Junho de 2022, O MIRANTE online publicou um vídeo em que associou essa descarga poluente aos esgotos domésticos, que poderiam estar a verter para o rio através do emissário colapsado que outrora ligava a rede de esgotos da vila à ETAR da Caima. As informações que na altura nos foram dadas pelo presidente da Câmara de Constância reforçaram essa ideia.
Contudo, os mesmos cidadãos alertaram-nos que o líquido que escorria desse tubo no meio do Tejo não era semelhante ao que corre na boca de esgotos domésticos que descarrega para o rio na margem direita, perto da confluência com o Zêzere, essa sim, da responsabilidade do município. Pedimos novos esclarecimentos ao presidente da câmara, que confirmou que o município só descarrega esgotos no Tejo através dessa saída na margem direita do Tejo, perto da foz do Zêzere, e que o tubo que surge nas imagens é do emissário colapsado.
Os moradores recolheram amostras desses dois pontos de descarga no dia 20 de Junho e mandaram fazer análises laboratoriais que confirmaram que os esgotos que na altura vertiam do tubo no meio do Tejo eram de efluentes industriais não tratados. Já os parâmetros da amostra dos esgotos que correm para o Tejo na margem direita são consonantes com os valores de descarga de águas residuais urbanas, embora também sem o tratamento adequado, como anteriormente já tínhamos noticiado.
Tejo seco deixou esgotos à mostra
Foi o escasso caudal que o rio Tejo já registava em meados de Junho que deixou à vista, em Constância, um tubo de esgoto no meio do rio a descarregar efluentes acastanhados e com cheiro a ovos podres. Um péssimo bilhete postal numa terra que tem nos seus rios um dos principais cartazes turísticos e que inaugurou em Julho uma praia fluvial no Zêzere. Pouco tempo depois de O MIRANTE divulgar as imagens, a 20 de Junho, as descargas cessaram, desconhecendo-se com exactidão a sua origem e quanto tempo duraram.
O MIRANTE contactou a Caima, fábrica de pasta de papel situada na margem esquerda do Tejo, para apurar se as descargas foram da sua responsabilidade e se eram realizadas frequentemente ou se se tratou de uma situação anómala. A empresa do grupo Altri não respondeu às questões até ao fecho desta edição.

Esgotos mortíferos para a fauna

No relatório de análises químicas a essas duas amostras de águas residuais refere-se que a água é considerada limpa e saudável com valores acima de 5 miligramas/litro (mg/l) de oxigénio dissolvido. Abaixo dos 3 mg/l pode ser prejudicial às diversas formas de vida. Quando abaixo dos 2 mg/l é considerada hipóxica e causa a morte da maioria das espécies de peixe. É o caso da amostra recolhida na boca do esgoto municipal, que apresenta 1,5 mg/l. Abaixo dos 0,5 mg/l é considerada anóxica e põe em perigo todas as espécies piscícolas, sendo o caso da amostra recolhida a meio do rio cujo valor de oxigénio dissolivido é zero.

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