Estuário do Tejo pode chegar aos 100 mil utentes sem médico de família
Situação é grave e utentes juntaram-se à porta do Centro de Saúde de Alverca em protesto. Governo não tem resposta e por isso as comissões de utentes anunciaram novo protesto para 6 de Dezembro, em frente à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira.
O problema da falta de médicos de família nos cinco concelhos servidos pelo Agrupamento de Centros de Saúde do Estuário do Tejo (ACES) está a agravar-se, com um aumento dos pedidos de reforma de vários clínicos ao serviço e a situação pode deixar até cem mil pessoas sem médico de família já a partir do próximo ano.
As comissões de utentes da região temem um Inverno difícil e um futuro incerto e por isso prometeram endurecer os protestos. Os concelhos de Azambuja – onde há apenas um médico para toda a comunidade – Alenquer e Vila Franca de Xira são os mais afectados. O Centro de Saúde de Alhandra, que dá resposta a 12 mil utentes, vai ficar reduzido a um médico, o mesmo acontece com as unidades do Bom Sucesso e Forte da Casa, também no concelho de Vila Franca de Xira. O Centro de Saúde da Póvoa de Santa Iria tem vários médicos ao serviço mas não estão a conseguir dar resposta aos utentes de Benavente, Azambuja e do próprio concelho de Vila Franca de Xira que estão a ser encaminhados para lá.
A CDU de VFX estima que mais de 50 mil pessoas no concelho já não têm médico atribuído e são obrigadas a recorrer a consultas de recurso e a esperas à porta dos centros de saúde que, em alguns casos, como na Póvoa de Santa Iria, podem ser superiores a sete horas. David Pato Ferreira, da coligação Nova Geração (PSD/PPM/MPT) garante que dentro de semanas os números no concelho vilafranquense vão escalar para os 72 mil utentes sem médico e apela a soluções urgentes do Governo.
Utentes pedem mais respeito
A Comissão de Utentes do Centro de Saúde do Bom Sucesso e Arcena e a Comissão de Utentes do Centro de Saúde de Alverca reivindicaram na sexta-feira, 4 de Novembro, mais médicos de família, melhores condições de atendimento nas unidades da freguesia e respeito pela saúde. Anunciaram também para dia 6 de Dezembro uma vigília de protesto à porta da Câmara de Vila Franca de Xira.
Num protesto realizado em frente ao Centro de Saúde de Alverca, onde está sediado o ACES do Estuário do Tejo, uma centena de utentes lamentou a resposta cada vez mais precária dos centros de saúde. Os utentes relataram um cenário caótico e degradante dos serviços de saúde, longas filas de espera, falta de acesso a receitas médicas, a incerteza na obtenção de consultas e a perda de médicos. Maria Pinto, da Comissão de Utentes do Centro de Saúde do Bom Sucesso e Arcena, fez a O MIRANTE um balanço positivo da acção de protesto. “Vamos continuar a lutar por um direito que é nosso. Fico muito contente por termos tanta gente junta e pronta para lutar”, afirmou.
O presidente do Conselho Directivo da Administração Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), Luís Pisco, já tinha alertado recentemente, em declarações a O MIRANTE, que a situação só deverá começar a melhorar daqui a dois ou três anos, no melhor dos cenários.
Prestação de serviços para manter USF do Forte a funcionar
O reforço do quadro de médicos de Medicina Geral e Familiar nos cuidados de saúde primários é uma prioridade para o Governo. A garantia foi dada pelo Ministério da Saúde aos deputados do Bloco de Esquerda no Parlamento que questionaram sobre os problemas sentidos pelos utentes da Póvoa de Santa Iria e Forte da Casa. O Governo lembra que do concurso para colocação de quatro médicos na Póvoa três foram admitidos, proporcionando médico de família a 8.900 utentes, e prevê para breve novo concurso para reforçar o quadro de médicos. Segundo o Governo o ACES vai também tentar manter a USF do Forte da Casa em funcionamento através da contratação de uma prestação de serviços médicos de forma transitória.