Sociedade | 01-03-2022 18:00

Edição Semanal. Evandre Francisco dedicou uma vida ao trabalho e às viagens

Evandre Francisco mostra uma batata doce com mais de oito quilos que apanhou da sua horta

Trabalhou nas cerâmicas, como mecânico de bicicletas, e dedicou mais de meio século à construção civil. Actualmente, Evandre Francisco passa a maior parte do tempo na sua horta, em Casais da Barroca, Santarém, onde recentemente colheu uma batata doce com mais de oito quilos.

No lugar de Casais da Barroca, freguesia da Romeira, concelho de Santarém, Evandre Francisco leva a sério o ditado popular de “ser pau para toda obra”. Não tem problemas em afirmar que “fala pelos cotovelos” e que está sempre pronto para desempenhar qualquer tipo de actividade, não importa qual seja o ramo, e ajudar os seus amigos e familiares que têm menos destreza, e alguns vontade, de trabalhar.
O som das galinhas a cacarejar, dos cães a ladrar e das ovelhas a balir é o primeiro cartão de visita para quem entra na sua propriedade, que tem mais de dois hectares de terreno. A visita surpresa de O MIRANTE acontece porque um amigo de Evandre contou que este ano apanhou uma batata doce com mais de oito quilos. O tubérculo, que Evandre ainda está para decidir se vai confeccionar, está em exposição no pátio da sua casa para os seus amigos poderem apreciar a sua dimensão.
Foi no pátio que o repórter o encontrou a partir nozes e a escolher o miolo a dedo para depois colocar dentro de sacos de plástico e vender. “Ganha-se bom dinheiro com as nozes, mas isto dá muito trabalho”, sublinha. Não é por acaso que o agricultor, que trabalhou uma vida inteira na construção civil, como patrão e trabalhador, tem um nogueiral com mais de um hectare nas traseiras da sua casa. Para além disso, construiu sozinho uma estufa de grandes dimensões onde cultiva alface, agrião, feijão, tomate, melão, melancia cenoura, rabanete e batata. “Foi desta estufa que saiu aquela batata”, salienta.
Evandre Francisco tem 73 anos, está reformado mas afirma que não consegue perder a vontade de trabalhar. Em jeito de brincadeira, lamenta que não haja mais pessoas “a estar com bicho carpinteiro” porque acredita que dessa forma o “mundo andaria para a frente”. O dinheiro da reforma, garante, não chega para a poder gozar com dignidade. É na horta que passa a maior parte do tempo. A filha e o genro dando uma mãozinha sempre que têm tempo livre dos seus empregos; as três netas ainda não têm idade para trabalhar, mas gostam de mexer na terra e ajudar o avô.

TRABALHAR muito
MAS TAMBÉM NAMORAR
Evandre Francisco, viúvo, vive em Casais da Barroca há mais de quatro décadas. Já emigrou para trabalhar, mas também já viajou muito para namorar, entre outras coisas. O seu primeiro ordenado conquistou-o a trabalhar nas cerâmicas, quando completou 13 anos de idade. Antes disso já ajudava os pais na horta quando ainda moravam em Tremês. Mais tarde, a meio da adolescência, aprendeu o ofício de mecânico de bicicletas e trabalhou numa oficina onde está actualmente o W-Shopping, em Santarém. “Depois trabalhei na casa das malhas, na Rua Serpa Pinto, até que um amigo do meu pai lhe disse: ‘tem o rapaz a trabalhar para ganhar meia dúzia de tostões. Se quer que ele ganhe dinheiro é nas obras a trabalhar comigo’”, recorda.
A partir dessa conversa nunca mais largou o mundo da construção civil tendo também constituído uma empresa no final dos anos 80, que trabalhava maioritariamente para privados e juntas de freguesia. Pelo meio emigrou para a Venezuela, mais propriamente para Porto Ordás, e esteve em várias cidades francesas a trabalhar. Também já visitou a Alemanha, Suíça, Israel e Cabo Verde. “É verdade, também já fui muitas vezes a Marrocos. Tinha lá duas ou três namoradinhas; às vezes estava aqui no sofá sem fazer nada e decidia meter-me no carro e ir até Marrocos para as ver”, conta, com um sorriso no rosto.
Evandre Francisco não hesita em afirmar que vai continuar a trabalhar para não morrer. “Conheci muitos empregados de escritório em Lisboa que, quando se reformavam, iam para casa, sentavam-se o dia inteiro a ver televisão e passado uns anos morriam. Ainda sou daqueles que acha que o trabalho é que dá saúde”, sublinha.

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