Ex-bastonário da Ordem dos Engenheiros arrasa solução Montijo para novo aeroporto
Parlamento ouviu durante mais de três horas várias entidades sobre o concurso público para a avaliação ambiental estratégica sobre a localização do novo aeroporto de Lisboa e restaram poucas dúvidas que a solução Alcochete é o caminho a seguir. Líder de plataforma cívica acusa o processo de ser uma fraude. Ex-bastonário da Ordem dos Engenheiros fala num aeroporto “metido a martelo” num espaço sem condições.
O ex-presidente da Ordem dos Engenheiros, Carlos Matias Ramos, arrasa por completo a solução Montijo para a localização do novo aeroporto internacional de Lisboa e não tem dúvidas que a solução Alcochete, em que uma das pistas já entrará dentro do concelho de Benavente, é a direcção a seguir para o futuro.
Ouvido no dia 21 de Junho, numa audição na Comissão de Economia, Obras Públicas, Planeamento e Habitação sobre o concurso público para a avaliação ambiental estratégica sobre a localização do novo aeroporto, o responsável não poupou nas críticas ao processo e diz que se trata de uma tentativa da concessionária Vinci, dona da ANA Aeroportos, para “enfiar a martelo” um aeroporto num espaço inviável do ponto de vista da engenharia.
“É meter o Rossio na rua da Betesga. A documentação fornecida no concurso é totalmente desajustada e suscita imensas dúvidas sobre a sua exequibilidade”, afirmou. Perante os deputados, Carlos Matias Ramos não teve dúvidas e afirmou que Alcochete não compromete o futuro, o bem-estar e a saúde das populações e tem “racionalidade estratégica, económica e ambiental” e que a solução Portela/Montijo não tem qualquer futuro. O também professor na Universidade Lusófona conhece de perto os impactos de ter aviões a sobrevoar as habitações. “Quando passa um avião para a Portela tenho de interromper a aula. O Montijo vai afectar 130 mil habitantes com excesso de ruído”, avisa.
Ou se resiste ou se desiste
O ex-bastonário diz que é preciso continuar a resistir e a questionar todo o processo do novo aeroporto do Montijo. “Tenho lutado para que não haja achismo neste processo. Toda a gente acha alguma coisa. O que é preciso são factos. Dizer que o Montijo é mais rápido de construir é uma falácia”, acusa o engenheiro que, sustenta, em Alcochete até poderia nascer uma cidade aeroportuária, com serviços, dormidas e, quiçá, campos de golfe. “Lá porque tenho um calhambeque, por mais que tente não o consigo transformar num Rolls Royce. É isso que querem fazer no Montijo”, critica.
Um exemplo passa pelos fluxos máximos de aviões por hora: 24 estimados para o Montijo face aos 100 de Alcochete. “É preciso um grande esforço de imaginação para ver no Montijo uma boa solução. Estão a deitar areia para os olhos das pessoas. Nenhum país usaria uma solução destas”, criticou.
Na audição foram também ouvidos o Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) – que defendeu que Alcochete é a melhor solução a longo prazo para o país – e a plataforma cívica “Aeroporto no Montijo Não”, com o seu líder, José Encarnação, a avisar que a solução Montijo “destruiria o Samouco” e que todo o processo é um “intricado de coisas nublosas”, começando pelo acordo de entendimento assinado entre o Governo e a concessionária do novo aeroporto. “É uma fraude”, acusa.