Sociedade | 07-06-2022 12:00

Faltam profissionais na área da saúde mental no Médio Tejo

Especialistas debateram medidas para reduzir impactos dos estilos de vida actuais na saúde mental das crianças e jovens durante a Semana da Saúde Mental em Ourém

Semana da Saúde Mental em Ourém juntou especialistas para falar sobre medidas para reduzir os impactos dos estilos de vidas actuais na saúde mental das crianças e jovens. Duas das conclusões foram que as unidades hospitalares precisam de trabalhar em rede e faltam profissionais para dar resposta às necessidades.

No final de 2021 a Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), através de um documento que faz um retrato da saúde dos portugueses, revelou que o peso das doenças mentais é de 22,5% no total das patologias. A percentagem significa que um em cada cinco portugueses sofre de doença mental.
Teresa Maia, coordenadora da Administração Regional de Saúde (ARS) de Lisboa e Vale do Tejo, acredita que “o atraso na área da psiquiatria é enorme, havendo poucos profissionais face à avalanche de situações que exigem acompanhamento continuado”, alertou durante o debate “Saúde Mental: Dinâmicas Locais de Intervenção”, que se realizou no Teatro Municipal de Ourém, a 24 de Maio.
A saúde mental das crianças e dos adolescentes foi um dos temas em foco no encerramento da Semana da Saúde Mental. Teresa Maia mostrou-se preocupada com a falta de psiquiatras especializados na área da infância e adolescência (Pedopsiquiatria) disponíveis na região do Médio Tejo; “Este ano apenas cinco alunos passaram os exames e um deles foi para Itália. É curto”, frisou.
A escassez de profissionais aptos a lidarem com os problemas mentais dos mais novos reflecte-se noutras áreas. Renato Bento, director da Segurança Social de Santarém, revelou existirem situações extremas nos lares de acolhimento juvenis, onde “só o Sistema Nacional de Saúde sabe e pode dar a devida resposta”. Teresa Maia admitiu que a medicalização nestes lugares é importante e que todas as semanas um psiquiatra deveria fazer consultas individuais às crianças e adolescentes que vivem nestas casas, mas “os recursos estão longe dessa realidade”, lamentou.

Trabalho em rede para compensar dificuldades financeiras
Convidados especializados na área da psiquiatria abordaram os desafios que a sociedade tem pela frente. Garantir que as unidades e centros hospitalares trabalham em rede para cuidar da saúde mental dos cidadãos foi uma das principais conclusões da sessão. Teresa Maia recorda que “não há milagres financeiros e para dar resposta aos problemas actuais e do futuro é essencial trabalhar em rede”.
Em meio ano a Equipa Comunitária de Saúde Mental da População Adulta (ECSM-PA), do Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT) acompanhou 411 doentes, realizou 1.074 consultas médicas, 719 consultas de enfermagem, 245 consultas de psicologia e 253 visitas domiciliárias. No entanto, não há como esconder que continuam a existir dificuldades financeiras, falta de profissionais e muitos doentes a precisarem de acompanhamento continuado.
Ainda assim, Jorge Carvalheiro, coordenador do projecto, mostrou-se satisfeito com o seu impacto na comunidade. Explicou que o trabalho da ECSM-PA é dar resposta a grupos vulneráveis, no concelho de Ourém e áreas limítrofes, inclusive pessoas com doenças mentais, idosos isolados sem médicos de família e com dificuldades em deslocarem-se a unidades hospitalares. O serviço domiciliário que prestam é um dos destaques.

Resposta tem melhorado na região nos últimos anos
Para uma plateia com meia centena de pessoas Luísa Delgado, directora do serviço de Psiquiatria do CHMT, apontou as dificuldades que a região atravessava no capítulo das doenças mentais. “Até 2007 as pessoas da nossa região eram internadas no Hospital Júlio de Matos, em Lisboa. A população era frágil e tinha poucos ou nenhuns apoios. Hoje em dia já não é assim”, vincou.
No fecho da sessão a vereadora do município de Ourém, Micaela Durão, elogiou os progressos e conclusões da Semana da Saúde Mental. A autarca realçou que estes projectos têm contribuído para “atenuar as assimetrias que infelizmente continuam a existir nos tratamentos da saúde mental”.

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