Sociedade | 05-08-2022 10:00

Fisioterapeutas não são endireitas, já têm ordem e lutam para valorizar profissão

António Lopes viveu a infância em Santarém e guarda boas memórias e amigos desse tempo

Entrevista a António Lopes, o primeiro bastonário da Ordem dos Fisioterapeutas, nascida em 2019, após duas décadas de luta para instalar uma entidade que quer valorizar a profissão e garantir serviços de qualidade.

António Manuel Fernandes Lopes é o primeiro bastonário da Ordem dos Fisioterapeutas, criada em Setembro de 2019 pela Lei 122/2019, e pela qual lutou desde 1999 quando pela primeira vez se entregaram os documentos para a sua formalização. Está no cargo há pouco mais de sete meses, depois da tomada de posse dos órgãos estatutários em 14 de Dezembro do ano passado. 

A fisioterapia, designação surgida em Portugal no início do Século XX, tem tido um caminho árduo e só foi integrada no ensino superior em 1993. António Lopes, alentejano, que fez a sua infância e adolescência em Santarém, quer ser o garante da valorização da profissão e da qualidade dos serviços prestados aos utentes, com uma ordem que não exige exames e estágios nem se quer armar em sindicato. 

A escolha da profissão foi influenciada pela poliomielite, doença de que padecia a tia e que o sensibilizou para as questões da deficiência e das incapacidades. Ainda há quem confunda os fisioterapeutas com endireitas ou massagistas, mas hoje a profissão tem cada vez maior destaque e importância, devido em grande parte ao trabalho que é feito no desporto.  

Excerto da entrevista que pode ler na íntegra na edição semanal em papel:

A ordem surge numa altura em que o Governo disse pretender limitar os poderes das ordens profissionais. Isso é motivo de preocupação? 

Vejo essa situação com alguma tranquilidade. A ideia de limitar os poderes das ordens tem a ver com o facto de haver ordens que restringem o acesso de profissionais, que impõem estágios e exames, dizendo que não chega a formação académica. No nosso caso basta ter a licenciatura para exercer a profissão. Uma das coisas que me parece que a nova lei irá impor será a existência de um provedor do utente. Fazemos uma regulação do interesse de quem servimos. Não queremos ser uma espécie de estrutura sindical.  

Mas há ordens que mais parecem sindicatos. 

Estamos preocupados com a prestação de cuidados e o acesso da população a bons cuidados de fisioterapia. O nosso objectivo é dignificar a profissão. É claro que isto vai trazer problemas de ligação e interacção social com outras profissões, com outras estruturas. Eventualmente vai trazer problemas no que diz respeito a carreiras. Há um sindicato dos fisioterapeutas com o qual a ordem tem uma relação positiva.  

O número de fisioterapeutas é suficiente? 

Há entre 8 a 10 mil fisioterapeutas a trabalhar diariamente, dos quais só 1500 é que estão no Serviço Nacional de Saúde. É um número baixo, mas temos vários factores de crescimento. Nos últimos 20 anos o número de fisioterapeutas não é em nada comparável ao número que ficou para trás. Estão a sair anualmente 700 novos fisioterapeutas e não há 700 que saem, pelo que já se sente dificuldades em arranjar emprego, apesar de haver trabalho nos lares, nos clubes de futebol e em outras entidades. O problema é que não conseguem pagar-lhes. A geração mais nova tem sido mais empreendedora e está a abrir os seus próprios gabinetes. 

Os médicos olham para essa profissão de lado, como uma coisa menor? 

Exatamente. Podem não conhecer quais são as vantagens deste recurso. Uma pessoa tem uma dor nas costas, se calhar é mais fácil fazerem uma prescrição de um medicamento que lhe tire a dor do que mandar para um fisioterapeuta, que mais do que lhe tirar a dor, vai ensiná-la a viver com a dor, porque mais dia, menos dia, a dor vai voltar.  

Para se ser um bom fisioterapeuta basta ter umas boas mãos? 

As são importantes, inclusive sabemos cientificamente que o toque terapêutico tem relevância, é benéfico. Mas diria que os fisioterapeutas têm também uma componente muito grande como educadores. Sou professor e fui coordenador do curso em Alcoitão durante muitos anos e quando me perguntavam o que era preciso para ser um bom fisioterapeuta, costumava dizer duas coisas: Se não gostam de lidar com pessoas não escolham esta profissão porque vão lidar com utentes em sofrimento físico mas também mental. Um desportista que tem uma lesão antes de uma prova importante fica em sofrimento, numa inquietude enorme. Ou a situação de uma mãe que tem uma criança com paralisia cerebral e que percebe que vai ter de a acompanhar o resto da vida. Muita das vezes o nosso trabalho não é com o próprio doente é com os cuidadores. 

*Leia a entrevista completa na edição semanal em papel desta quinta-feira, 4 de Agosto

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