Sociedade | 12-04-2022 10:00

Galeria de Fotos. Crianças ucranianas encontram em Santarém uma escola que as faz sentir em casa

Escola Ucraniana em Santarém acolheu 15 novos alunos que fugiram da guerra

Na Escola Ucraniana em Santarém ensinam-se as primeiras palavras em português a mais de uma dezena de crianças que fugiram da guerra. Criar um ambiente familiar e ajudar à integração é fundamental para atenuar os traumas e sofrimento, alerta a professora Tetiana Tarnavska.

No Centro Ucraniano Educacional e Cultural de Santarém a professora Tetiana Tarnavska dá as boas vindas aos alunos ucranianos que aos poucos vão entrando e compondo a sala. Entram os habituais e alguns dos 15 novos alunos fugidos da guerra, para os quais o sábado passou a ser dia de aprender português num ambiente familiar onde também há espaço para brincar e para conversar na língua materna.  
Às dez da manhã Anna Grygorchu aproxima-se da porta de mãos dadas com os filhos Mark e Alexandra, que vão viver o seu primeiro dia de escola na nova cidade. Chegaram a Santarém há duas semanas depois de uma longa viagem que começou em Chernivtsi, na Ucrânia, onde ficou o seu marido e pai das crianças de seis e oito anos. “Anna veio ter com o seu pai que já mora aqui há vários anos ”, esclarece Tetiana Tarnavska traduzindo para português as palavras de Anna que sorri quando se apercebe que Mark e Alexandra já tomam a iniciativa de se apresentar às outras crianças.
O comportamento surpreende-a por saber que a guerra deixou marcas psicológicas que não sabe se irão passar. “Quando ouvem ou vêem aviões automaticamente baixam-se e tapam as cabeças porque assistiram a bombardeamentos”, traduz a professora, acrescentando que na decisão de deixar o país de origem o que mais pesou foi a insegurança e o facto de estarem psicologicamente abalados.

Escrever para ajudar e exprimir emoções
Na sala os mais pequenos brincam enquanto Aurora Onosova toca piano. Em inglês, a jovem de 13 anos conta que depois de conseguir sair de Kiev com a sua mãe atravessou a Ucrânia até à fronteira com a Eslováquia. O plano já estava traçado: chegar a Santarém onde as esperava uma tia. “Agora quero aprender português porque não sei quando vamos poder voltar”, diz.
Às 10h30 Tetiana Tarnavska põe ordem na sala. Aos mais velhos distribui folhas soltas – porque ainda não há cadernos para todos – e pede-lhes que escrevam uma composição onde exprimam as suas emoções e expliquem porque as estão a sentir. “É importante que se libertem” dos medos e anseios, até porque todos continuam a ter os seus pais e grande parte da família na Ucrânia. Os mais novos, que ainda não sabem ler nem escrever, vão simplesmente continuar a brincar ao mesmo tempo que aprendem as primeiras palavras em português “sem pressão” e com a dinâmica de “um dia de escola normal”.

“É muito bom ter um pedaço da Ucrânia em Portugal”
Para Denis Zbigley ir para a escola ucraniana ao sábado de manhã é uma rotina com dois anos. “Não posso esquecer a língua ucraniana porque quero encontrar lá a minha namorada, que era da minha sala”, diz com um sotaque português quase perfeito próprio de quem nasceu em Portugal e passou apenas três anos a viver numa aldeia no oeste da Ucrânia.
O Centro Ucraniano de Santarém funciona há 20 anos num dos edifícios da antiga Escola Prática de Cavalaria como uma escola para ucranianos radicados em Portugal, onde além da Matemática, Ucraniano, Inglês e agora Português, se transmite a cultura, história e tradições da Ucrânia.
“É muito bom ter um pedaço da Ucrânia em Portugal. Foi por isso que vim para esta escola”, explica em português Daniel Stetsiuk, que tem 15 anos e vive há cinco em Santarém. Aos dias de semana é aluno da escola EB 2,3 Alexandre Herculano e aos sábados assume agora o papel de integrador dos novos colegas na escola ucraniana. “Também tenho lá família escondida em bunkers, mas felizmente consigo falar com eles todos os dias”, atira, certo de que a Rússia vai sair derrotada da guerra.
Durante toda a manhã as aulas prosseguiram calmamente com pausas para o lanche e para a brincadeira. Mas o dia de escola só terminou depois de uma visita de estudo pelas ruas e alguns dos principais monumentos de Santarém, para que aos poucos os novos alunos vão conhecendo a cidade que passou a ser a sua nova morada.

Mark e Alexandra no primeiro dia de aulas
Mark e Alexandra no primeiro dia de aulas

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