A manhã de sábado começa com a habitual formação em marcha. Vestidos com a farda vermelha e as botas pretas concentram-se para que nenhum movimento falhe. “Esquerdo, direito. Oiçam o bater dos pés uns dos outros”, alerta o bombeiro Jorge Carvalho, enquanto os infantes e cadetes dos Bombeiros Voluntários de Castanheira do Ribatejo entram em ordem unida no quartel, antes de os seus conhecimentos serem postos à prova numa recriação de salvamento com uma vítima de trauma.
São crianças e jovens entre os 12 e os 16 anos que integram o projecto Brigada Kids, criado em Setembro de 2021 com o propósito de atrair novos elementos para a corporação, composta por 40 bombeiros. Ricardo Santos, um dos profissionais que coordena as actividades, espera que alguns possam seguir para a escola de formação conjunta do concelho de Vila Franca de Xira e ingressar na carreira de bombeiro, que já foi mais atractiva. “Para já está a correr muito bem. Começámos com 18 elementos e três deles já passaram para essa formação”, revela.
Durante o treino além da concentração, o respeito tem que estar no nível máximo. Nenhum aprendiz avança para a prova sem antes ouvir atentamente as indicações dos seus superiores hierárquicos. “Aqui aprendem sobretudo a respeitar-se uns aos outros, a trabalhar em equipa e a colocar o egoísmo de parte”, dá conta a bombeira Sofia Gomes, explicando que ali aprende-se o básico no que toca aos procedimentos de suporte básico de vida, situações de trauma, resgate e salvamento.
Foi precisamente a oportunidade de aprender a intervir numa situação de emergência, a par com a organização militarizada, a despertar a curiosidade de Henrique Fernandes no dia em que alguns elementos seniores da corporação fizeram uma demonstração na sua escola. Aos 16 anos, o jovem natural do Rio de Janeiro a residir no Carregado, acabou por juntar-se ao grupo e agora, confessa, ambiciona ingressar na escola de bombeiros e profissionalizar-se.
Tal como Henrique Fernandes, a cadete Beatriz Moura não tem nenhum familiar bombeiro nem tinha o sonho de seguir a profissão. A sua entrada neste projecto, explica, deve-se à paixão pela área da saúde e vontade de começar a ganhar experiência. “Não trazia expectativas nenhumas, mas temos crescido imenso enquanto grupo e individualmente”. Ao mesmo tempo, confessa, começou também a crescer nela o sonho de continuar.

Fanfarra foi em tempos o chamariz para atrair jovens
Antes de existir a Brigada Kids, a maior parte dos jovens que ingressava na escola de formação e posteriormente na corporação entrava através da fanfarra que era uma boa forma de atrair elementos. Mas com a sua suspensão, explica o comandante Bartolomeu Castro, houve a necessidade de criar um projecto que fosse atractivo e que envolvesse actividades em contexto de treino. “Queremos reactivar a fanfarra e estamos a fazer um esforço para que aconteça brevemente”, diz o comandante, ressalvando que o novo projecto é para continuar.
Mariana Modesto foi uma das crianças que iniciou o seu percurso na fanfarra aos 10 anos. Agora tem 15 e a certeza que assim que tiver idade vai tentar a sua entrada na escola de bombeiros. “É um sentimento que não dá para explicar. Quero muito ser bombeira”, diz a jovem natural de Castanheira do Ribatejo e que pertence à minoria que tem bombeiros na família.