Sociedade | 20-02-2022 18:00

GNR em Lisboa quis dar nas vistas e arranjou um problema em Santarém

GNR em Lisboa quis dar nas vistas e arranjou um problema em Santarém

Operações, como a que obrigou milhares de pessoas a ficarem retidas mais de duas horas na Auto-Estrada A1, em Santarém, são delineadas em Lisboa e mandadas executar por quem está no terreno. Apesar de quem manda fazer a fiscalização nem sempre conhecer o terreno nem perguntar, segundo referiram alguns militares a O MIRANTE.

A operação que causou o caos na Auto-Estrada nº 1 (Lisboa-Porto) com o corte total do sentido norte-sul e o desvio dos carros para a área de serviço de Santarém foi delineada em Lisboa, nas altas esferas do comando-geral da GNR. Para alguns guardas com quem O MIRANTE falou, as indicações vindas da capital têm de ser cumpridas mas por vezes são programadas sem um real conhecimento das condições do terreno e dos movimentos do trânsito. Quem está no terreno acaba por só ter intervenção na mobilização do efectivo e na coordenação dos elementos no terreno, dando a cara pelas acções mandadas por Lisboa.
Segundo alguns militares da GNR, acontece por vezes que os responsáveis pelas operações que estão no comando-geral além de não saberem a realidade local também não perguntam. Os guardas sabem que fazer operações na auto-estrada é sempre complicado, até porque se corta o trânsito todo ou se deixa uma faixa de circulação, o que pode levar à ocorrência de acidentes. E a operação de 6 de Fevereiro, para cumprir ordens de um plano mensal emanado de Lisboa, tinha muito para correr mal, por ser feita ao início da noite de um domingo, dia em que habitualmente há um fluxo de trânsito intenso em direcção a Lisboa de pessoas e famílias que regressam de um fim-de-semana de lazer ou na terra natal.
As operações que se fazem nos destacamentos de trânsito, como o de Santarém, são delineadas mensalmente e enviadas aos comandantes da zona, com o tipo de operação que se pretende, data e horas. O comandante de destacamento de trânsito de Santarém, capitão Tiago Machado, que se foi desdobrando em entrevistas para as televisões convidadas pelo comando-geral para estarem no terreno, levou com uma enxurrada de críticas quando basicamente o seu papel foi coordenar meios e pedir reforços. Num pedido de explicações ao comando da GNR em Lisboa, após a operação que criou 10 quilómetros de filas e esperas de mais de duas horas na A1, este, apesar de questionado, não respondeu sobre quem preparou a acção de fiscalização.

Operação para telespectador ver

A operação foi um falhanço a todos os níveis, a começar pelo facto de a retenção de milhares de pessoas na A1 apenas ter resultado em 65 autos de contra-ordenação. A Guarda tinha inicialmente determinado que a operação iria durar entre as 20h00 e as 24h00 de domingo, 6 de Fevereiro. Ao fim de duas horas teve de ser cancelada. As televisões convidadas para divulgar a operação acabaram por mostrar e questionar o cenário caótico. Mesmo após o cancelamento da operação a meio o trânsito na A1 só começou a normalizar ao fim de mais de uma hora.
O comando-geral, questionado sobre os incómodos provocados, tentou desculpar-se dizendo que “o combate à criminalidade e à sinistralidade rodoviária constitui uma prioridade estratégica da Guarda, pelo que, essencialmente, foi nesse enquadramento que foi realizada esta operação de grande envergadura”. Mas reconheceu que estas operações “acabam por causar constrangimentos aos condutores” dizendo que por isso “não são realizadas com muita regularidade”.

Outros casos da centralização da GNR

Além das operações impostas aos comandos territoriais (distritais) é também o comando-geral em Lisboa que define os modelos de escalas dos militares. Uma situação que alguns guardas dizem ser responsável pela falta de meios nos postos. Anteriormente os comandantes locais conseguiam ir adaptando o efectivo disponível às necessidades. Ou seja, um guarda podia fazer mais horas numa altura mais complicada e depois compensar noutra semana fazendo menos serviços. Agora cada guarda tem de fazer 40 horas semanais e não pode fazer mais que as horas normais durante o dia. O que significa que muitos dos postos precisam do dobro do efectivo se quiserem ter um número de elementos aceitável diariamente.

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