A dependência de medicação psiquiátrica é cada vez mais precoce nos jovens. A pandemia veio expor ainda mais a fragilidade das famílias e das crianças e jovens com o aumento de casos de saúde mental. A informação foi dada a O MIRANTE pela presidente da Comissão de Protecção de Crianças e Jovens (CPCJ) de Santarém, Ana Saramago, à margem da apresentação do Plano Local de Promoção e Protecção dos Direitos das Crianças e Jovens. A iniciativa decorreu na manhã de sexta-feira, 3 de Junho, no W Shopping.
“Cada vez há distúrbios mais precoces. O isolamento social, a falta de actividades desportivas, de lazer, a falta de socialização prejudicou muito as crianças e jovens assim como os adultos. Ainda não temos dados de como a pandemia afectou as pessoas mas já conseguimos perceber que teve um efeito nefasto”, afirma Ana Saramago.
A presidente da CPCJ de Santarém realça que o teletrabalho veio prejudicar muito a rotina das famílias. Na sua opinião a actividade profissional é de extrema importância numa família e o facto de ter que se trabalhar em casa e, ao mesmo tempo, acompanhar as aulas dos filhos originou casos de violência verbal e, nalguns casos, física. “Houve mais queixas de violência física e verbal em 2020, mas não aconteceu o mesmo em 2021. Ainda não temos dados que nos expliquem o porquê”, disse.
Teresa Jesus, representante do Ministério da Educação na CPCJ de Santarém, referiu que actualmente a maioria dos pais não valoriza a importância do brincar na vida das crianças. “Existe um problema muito grave que é a extrema importância do trabalho na organização da família. Acaba por não restar tempo para dar atenção às crianças e isso cria efeitos negativos como a falta de treino da liberdade individual ou as funções motoras e cognitivas que estão menos exercitadas”, esclarece, acrescentando ser fundamental valorizar a participação das crianças e jovens na vida em comunidade.
Ana Saramago sublinha também o excesso de permissividade na educação dos filhos. “Este não é um problema só das famílias com poucos recursos financeiros e baixa escolaridade. Existe falta de autoridade parental em casa e isso leva a que crianças e jovens não tenham respeito pela autoridade na escola que são os professores e auxiliares e também não há tanto respeito pela farda da polícia. Os pais são muito permissivos”, lamenta Ana Saramago.

Um plano para envolver a comunidade
Promovido pela Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção das Crianças e Jovens (CNPDPCJ) através do Projecto Adélia, (ao qual a CPCJ de Santarém aderiu em Outubro de 2019), o Plano Local de Promoção e Protecção dos Direitos das Crianças e Jovens foi elaborado pela CPCJ de Santarém com base num trabalho de diagnóstico que envolveu a comunidade através da aplicação de questionários, dirigidos, entre outros às crianças, famílias, escolas, jardins-de-infância e da análise de documentação diversa.
O plano prevê a realização de acções em articulação com várias instituições da cidade, como o Círculo Cultural Scalabitano, as escolas e as associações de pais e de estudantes, o envolvimento das famílias na dinamização de actividades e a abordagem das problemáticas da negligência e da exposição a comportamentos que possam comprometer o bem-estar e o desenvolvimento das crianças e dos jovens.
Presente na iniciativa, o presidente da Câmara de Santarém, Ricardo Gonçalves, enalteceu o trabalho desenvolvido pela CPCJ de Santarém e referiu que este plano resulta disso. “Este plano estratégico, orientador e actualizável tem como prioridades a garantia de um adequado meio familiar a todas as crianças, a promoção do seu bem-estar e a prevenção e combate da violência contra as crianças, sendo este um instrumento também essencial a outras áreas do município”.