Sociedade | 19-02-2022 10:00

Liga dos Amigos do Hospital de Abrantes sonha com unidade de cuidados continuados

Júlio Miguel, José Terras Marques e José Alberty, elementos da direcção da Liga dos Amigos do Hospital de Abrantes, à entrada da unidade hospitalar onde está um piano que qualquer pessoa pode tocar, se quiser

A Liga dos Amigos do Hospital de Abrantes foi fundada a 27 de Dezembro de 2001. O objectivo principal é apoiar os doentes que se encontram em situações vulneráveis.

Mas o seu papel vai muito além disso. O dinheiro que conseguem angariar tem sido para benefício do Hospital de Abrantes, onde tem a sua sede. Esperam que depois da pandemia os voluntários apareçam e que os mais jovens também queiram ajudar nesta missão. Sonham construir uma unidade de cuidados continuados num dos pisos da unidade hospitalar.

A Liga dos Amigos do Hospital de Abrantes tem desenvolvido um papel muito importante no edifício do Hospital de Abrantes, um dos três que integram o Centro Hospitalar do Médio Tejo (CHMT), a par com os de Tomar e Torres Novas. O dinheiro angariado nos últimos anos com a exploração do bar do hospital e as acções desenvolvidas permitiram tornar-se uma Instituição Particular de Solidariedade Social (IPSS) de destaque no concelho.
Um dos objectivos da direcção da Liga dos Amigos do Hospital de Abrantes é criar no piso 10 – que antes da pandemia estava sub-aproveitado – uma unidade de cuidados continuados destinada a doentes que têm alta mas não têm para onde ir e por isso continuam no hospital, a ocupar camas. “Seria uma alavancagem tremenda para a Liga mas criar uma unidade dessas é muito exigente e tem que existir uma estrutura profissional por isso dizemos que ainda é um sonho”, refere o tesoureiro e coordenador da IPSS, Júlio Miguel.
A Liga conseguiu apoio da Câmara de Abrantes, empresas e mecenas particulares para criar uma nova unidade de esterilização, a melhoria da unidade de cuidados intensivos e foi a responsável pela impermeabilização e pintura da unidade hospitalar. A instituição comemorou duas décadas de existência a 27 de Dezembro de 2021. Aproveitaram o apoio de dez mil euros da Câmara de Abrantes para comprarem uma máquina automática para o bar que exploram. A carrinha de nove lugares para fazer transporte, de pessoas e medicamentos, entre os três hospitais do CHMT (Torres Novas, Abrantes e Tomar) foi paga pela Liga em 2019. Um ano antes ofereceram oito macas especiais, que custaram cerca de oito mil euros. Cadeiras de rodas foram outros dos equipamentos adquiridos.
A pandemia veio dificultar muito o trabalho da Liga. De 11 funcionários vão passar a 9 por não terem capacidade financeira. Com a pandemia foi encerrado o bar do piso 2. Era ali em frente que funcionavam as consultas externas que com a pandemia foram transformadas na área Covid-19. Ficaram a explorar apenas um bar e o quiosque que, além de jornais e revistas, vende os chamados jogos de fortuna, que tem ajudado na contabilidade.

Voluntariado suspenso por causa da pandemia

A prioridade da Liga é apoiar os doentes mas também os colaboradores do hospital. O voluntariado é a sua causa principal mas tem estado suspensa por causa da pandemia. Todos os bebés que nascem na maternidade de Abrantes recebem um enxoval com roupas feitas por voluntárias. Também pagam os transportes dos doentes considerados carenciados. Antes da pandemia tinham uma equipa de mais de 60 voluntários, sendo que estavam em actividade permanente entre 30 a 40, com idades acima dos 50 anos.
A elevada idade dos voluntários é uma das grandes preocupações da Liga que já começou a apelar a que os voluntários adiram novamente à causa depois da pandemia. Há alguns anos chegaram a realizar um protocolo com a Escola Superior de Tecnologia de Abrantes para os alunos que quisessem praticar voluntariado. “Até correu muito bem. O problema tem sido mesmo a pandemia que tornou tudo mais difícil e suspendeu a nossa actividade. Os doentes estão sozinhos e isso entristece-nos”, afirma Júlio Miguel.

A voluntária que resgatou três crianças que viviam em condições desumanas

José Alberty tem 80 anos e é voluntário na Liga há cerca de quatro anos após a sua esposa ter falecido. Isabel Alberty foi enfermeira e coordenadora do grupo de voluntários da Liga. Segundo o vice-presidente da Liga, José Terras Marques, foi a principal dinamizadora do voluntariado da Liga e tem sido uma referência motivadora, assim como a sua mãe, Maria Ramiro Godinho, que foi voluntária até aos 92 anos.
José Alberty sentiu necessidade de continuar o caminho da sua esposa. O empresário recorda que aprendeu a ser voluntário desde que casou. Lembra-se de, numa noite chuvosa de Inverno, Isabel lhe ter pedido para ir com ela a um local ermo e semi-abandonado. Tinha tido conhecimento que estavam lá três crianças abandonadas. Chegados ao local José Alberty arrombou a porta e levaram os meninos para o hospital. “Estavam em péssimas condições e um deles ficou internado no hospital durante um ano. É gratificante fazer o trabalho que sei que ela estaria a fazer se estivesse viva”, afirma.
A direcção da Liga não esquece o presidente da direcção, Luís Fernandes, que foi sócio-fundador. Médico cirurgião, presidiu à comissão instaladora do novo hospital e foi presidente do conselho de administração do Hospital de Abrantes durante 16 anos até à sua reforma. Continua ligado à LAHA, embora actualmente esteja mais ausente por motivo de doença. “É com o seu papel humanista e a determinada procura da qualidade que Luís Fernandes incute a sua liderança neste projecto da Liga dos Amigos do Hospital de Abrantes”, sublinha José Terras Marques, de 78 anos.

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