Sociedade | 13-11-2022 10:00

Meia centena de moradores do Frade de Baixo vive sem água canalizada nem saneamento

Moradores do Casal dos Tolilas, em Alpiarça, queixam-se de não terem água canalizada nem saneamento e alcatroamento

Em pleno século XXI ainda há quem viva sem água canalizada na sua casa.

É o que acontece com os moradores do Casal dos Tolilas, no Frade de Baixo, concelho de Alpiarça. As casas estão ilegais há décadas mas os residentes estão dispostos ao que for preciso para as legalizar. Tudo para que possam ter acesso a água canalizada e saneamento básico. Câmara de Alpiarça reconhece problema e está a tentar junto da Águas do Ribatejo encontrar uma solução.

Glória Garcia viveu na Bélgica com o marido e os filhos antes de regressarem a Portugal. Decidiram fixar residência no Frade de Baixo, concelho de Alpiarça, mais concretamente num lugar conhecido por Casal dos Tolilas. Nessa zona mora cerca de meia centena de pessoas sem água canalizada, sem saneamento básico e sem acessos alcatroados. Glória Garcia nunca imaginou que um dia iria viver num local sem serviços hoje considerados básicos. “Sempre quisemos viver aqui porque é onde vive a família e é um local muito tranquilo mas não é nada fácil, com quatro filhos, não termos água canalizada”, afirma.
O que vai valendo são os poços que fornecem a água para tomar banho e lavar roupa. Para beber recorrem a água engarrafada. Fátima Barros, de 60 anos, morou cerca de 20 anos em Espanha até que decidiu regressar para o Casal dos Tolilas. Não se arrepende porque está junto da família mas lamenta não terem os mesmos direitos que os outros cidadãos. Quando precisa de água vai até ao furo de um primo, que a disponibiliza. Tem um poço pequeno que no Verão seca.
Manuel Carvalho recorda que vive ali desde que nasceu, há 50 anos, e os seus pais e avós já ali viviam. As casas foram construídas sem licença. “Dizem que o Plano Director Municipal não permite legalizar. Pagamos os nossos impostos, legalizamos tudo o que for preciso, mas gostávamos de ter direitos iguais a quem mora nos centros urbanos”, afirma o morador.
Outro dos problemas é a estrada não estar alcatroada. É frequente os pneus dos automóveis rebentarem, como aconteceu com Manuel Carvalho recentemente. “Tenho que comprar dois pneus mas não deveria ser eu a pagá-los porque não tenho culpa da estrada estar em mau estado”, critica. A mãe de Manuel Carvalho, Constança Glória, de 77 anos, vive no Casal dos Tolilas há meio século. Está habituada a utilizar água do poço para cozinhar e tratar das roupas. As suas laranjeiras este ano quase secaram devido à falta de água. Lamenta que durante toda a vida tenha vivido sem água canalizada nem saneamento. “Não é maneira de se viver, já para não falar da despesa de ter de comprar água engarrafada”, ressalva.

Autarquia procura soluções
A presidente da Câmara de Alpiarça explicou a O MIRANTE que estão a tentar acelerar a revisão do Plano Director Municipal (PDM) com o objectivo de criar melhores condições e permitir o desenvolvimento e crescimento em termos territoriais. Sónia Sanfona referiu que pretendem legalizar determinadas situações, como é o caso do aglomerado de moradias no Casal dos Tolilas. “Já fizemos uma pesquisa junto da Águas do Ribatejo para saber quanto custará investir ali em água canalizada e aguardamos resposta. Estamos à procura de encontrar meios para solucionar uma questão que é preocupante e existe há demasiados anos”, afirma.
Sónia Sanfona explica que dificilmente o município tem capacidade para assumir um encargo financeiro tão grande, sobretudo quando se trata de “fazer chegar saneamento e água a um núcleo populacional de génese ilegal”. A autarca diz que a intenção é legalizar as moradias para que as pessoas tenham acesso a esses serviços. Em relação ao alcatroamento, explicou que os serviços estão a analisar essa possibilidade, mas sem o saneamento será difícil alcatroar.

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