Sociedade | 04-06-2022 21:00

Edição Semanal. Melhor dia do ano na Chamusca é para apanhar a espiga e ver a entrada de toiros

Apanha da espiga na Chamusca reúne gerações em Quinta-Feira de Ascensão

A apanha da espiga em Quinta-Feira de Ascensão na Chamusca é celebrada com afinco. As preces de fertilidade e boas colheitas são razão para alguns populares se dirigirem aos campos e manterem uma tradição que une gerações. A seguir, uma multidão enche a rua principal da vila para assistir à entrada de toiros num dia que todos os chamusquenses consideram como o melhor do ano na Chamusca.

Lucinda Grilo, trajada de campina, leva na ponta da língua os versos que perpetuam as histórias das gentes da Chamusca: “mais uma apanha da espiga, com alegria e animação, canta-se uma cantiga e mantemos a tradição”, improvisa. Ao repórter de O MIRANTE conta com orgulho que nasceu e cresceu na Chamusca e que a vida agrícola lhe corre nas veias. Mas se a tradição da apanha da espiga resiste ao tempo, por carolice de duas ou três dezenas de pessoas, o trabalho agrícola precisa cada vez menos de mão-de-obra. “Antigamente os campos da Chamusca enchiam-se de jovens e adultos para trabalhar. Eram dias de muito trabalho, mas também de muita amizade e camaradagem”, recorda, com nostalgia.
Três dezenas de pessoas, de várias idades, juntam-se no feriado municipal de Quinta-Feira de Ascensão para apanhar a espiga. Os mais velhos levantam-se de madrugada depois de uma noite de sono, os mais jovens, segundo os próprios, não chegam a sentir a textura dos lençóis. Às 08h00 em ponto juntam-se no Jardim Joaquim Maria Cabeça, vulgo Maria Vaz, para iniciar a tradicional romaria. Montados em charretes, de tractor ou de bicicleta, conversam sobre como tem corrido a Semana da Ascensão, a maior festa do concelho.
Os mais velhos explicam aos mais novos o propósito da tradição. “As espigas simbolizam o amor, a vida, a saúde, a paz e a fartura. São compostas habitualmente por espigas de trigo, malmequeres, papoilas, um ramo de oliveira, um esgalho de videira e um pé de alecrim ou rosmaninho. Depois penduram-se em casa à espera da boa sorte”, referem.
Rui Martinho, presidente da União de Freguesias da Chamusca e Pinheiro Grande, responsável pela organização da iniciativa, não esconde a satisfação por ver gente jovem a cumprir a tradição. O mesmo sentimento é partilhado por Rosário Sousa, professora há 13 anos na Escola Básica e Secundária da Chamusca. Na sua charrete estão cinco antigos alunos, da disciplina que lecciona, Educação Visual. A felicidade por revê-los é expressa nas palavras “criámos laços para a vida”. A professora confessa o orgulho de os ver, mas não hesita em dar um raspanete, em tom de brincadeira, por ainda não terem ido à cama.
“A Quinta-Feira de Ascensão é o melhor dia do ano”, é uma das frases que mais se ouve e que é repetida algumas vezes por Lídia Carapinha, de 38 anos. Recorda-se da infância e de calcorrear os campos de mãos dadas com o avô. “Aprendia os segredos da ruralidade, a distinguir a direcção dos ventos e a respeitar o funcionamento da natureza. É difícil os jovens de hoje compreenderem a importância desses momentos na vida de uma pessoa”, salienta, enquanto colhe uma mão cheia de espigas de trigo.

Multidão na entrada de toiros
O regresso ao centro da vila é apressado pela chegada do momento por que todos os chamusquenses aguardam durante o ano: a entrada de toiros em Quinta-Feira de Ascensão. Uma multidão com milhares de pessoas encheu a Rua Direita de São Pedro para assistir à corrida desenfreada de toiros, guiados por cabrestos, campinos e cavaleiros, ao logo dos cerca de 1,45 quilómetros que separam o edifício da antiga Adega Cooperativa da Chamusca da praça de toiros. A entrada teve início por volta das 13h00, demorou cerca de três minutos e decorreu sem qualquer incidente.

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