Sociedade | 02-08-2022 17:59

Moradores de Azambuja queixam-se de inércia e uso indevido da força pela GNR

Populares garantem que há militares que fazem uso indevido da força

Filipe Rodrigues diz ter sido ameaçado e mantido sem acesso a água no posto da GNR de Azambuja. Hélder Santos alertou a Guarda que a sua casa estava a ser vigiada mas ninguém apareceu. Foi agredido e assaltado. Populares de Azambuja estão revoltados com a inércia de alguns militares que noutras situações abusam da força e do poder para deter e multar.

Alguns populares do concelho de Azambuja queixam-se da inacção da Guarda Nacional Republicana (GNR) quando esta força da autoridade é chamada a intervir e de terem que recorrer ao posto do concelho vizinho de Alenquer em situações de emergência. Por outro lado, alegam que há militares a fazer uso excessivo de poder para autuar, ameaçar, agredir e efectuar detenções. 

O empresário Filipe Rodrigues, de 42 anos, conta a O MIRANTE que esteve durante quatro horas detido numa sala do posto local, sem acesso ao telemóvel, a água ou alimentação e a ser ameaçado física e verbalmente por dois militares, sendo um deles o comandante do posto. “Tenho problemas de coração e já nessa manhã tinha sido assistido pelo INEM. Pedi água várias vezes, mas foi-me sempre negada”, afirma, enquanto mostra o relatório médico e o termo de responsabilidade que assinou para não ser transportado ao hospital por início de uma paragem cardiorespiratória.  

Na origem da detenção, ocorrida a 22 de Julho, terá estado um desentendimento com um dos militares que se preparava para autuar o empresário do ramo automóvel por ter perto de duas dezenas de veículos sem seguro estacionados na via pública. “Começou a tirar fotografias aos carros, o que por si só é estranho, e a dizer que me ia multar em 500 euros. Tentei explicar-lhe que aqueles carros são do stand e que não precisam de ter seguro, apenas a inspecção, porque eu e o meu sócio temos seguro de carta”, conta, acrescentando que já tinha solicitado uma reunião ao presidente do município, Silvino Lúcio, com o objectivo de conseguir formalizar a autorização para ter os veículos em estacionamento público. 

Manuel Castanheira, de 19 anos, que assistiu à detenção, assegura que o militar estava a ter um comportamento arrogante, agressivo e prepotente. Numa tentativa de acalmar os ânimos, prossegue, colocou-se entre Filipe Rodrigues e o guarda, mas acabou por ser “várias vezes empurrado com força” por este último. “Depois tirou um extensível e tentou bater-me”, conta o jovem que garante ainda que os outros dois guardas estavam com ar de quem estava a “achar tudo aquilo desnecessário”, mas nada fizeram.  

Por outro lado, fonte oficial da GNR, refere ao nosso jornal que na sequência de uma acção de fiscalização a viaturas foi efectuada a detenção “por crime de injúrias e ameaças contra agentes da autoridade, tendo a mesma ocorrido sem incidentes”. 

Contactado por O MIRANTE, o presidente da Câmara de Azambuja confirma que não tinha sido passada qualquer autorização para a permanência dos veículos do stand em espaço público, mas que já tinha sido contactado por Filipe Rodrigues, interessado em regularizar a situação. Silvino Lúcio sublinhou ainda que ao abrigo do regulamento municipal só é considerado estacionamento abusivo ao fim de 30 dias, mas que sendo as viaturas de uma empresa o caso muda de figura, uma vez que é necessária uma autorização e o pagamento de taxas.  

Filipe Rodrigues refere ainda que na noite anterior tinha chamado a GNR depois de se aperceber que estavam vários indivíduos a rondar os carros do stand estacionados na via pública, possivelmente com o intuito de furtar peças valiosas, como os catalisadores. O problema, continua, é que após quatro chamadas “nem um guarda apareceu”, pelo menos até telefonar para o posto da GNR de Alenquer que enviou uma patrulha.  

“Fui assaltado e agredido porque a GNR não quis saber”  

Eram 02h00 da madrugada de 25 de Outubro quando Hélder Santos e a esposa foram surpreendidos pela entrada de quatro homens encapuzados dentro de casa, em Casais da Rascôa, na freguesia de Azambuja. “Fui amarrado, agredido com um bastão e roubado em 800 euros e dois telemóveis”, conta o morador, garantindo que nos dias anteriores havia ligado para o posto da GNR a dar nota da presença de uma carrinha a rondar a sua habitação. “Fui assaltado e agredido porque a GNR não quis saber”. Além disso, refere, por se ter tratado de um assalto violento a GNR deveria ter informado a Polícia Judiciária.  

A O MIRANTE a Guarda assegura que a PJ ficou responsável pela investigação, mão esclarecendo, contudo, o motivo pelo qual não se deslocaram ao local após várias chamadas de alerta. 

Segundo Hélder Santos, o pior veio depois de ter reclamado da inacção dos guardas. “Um mês após o assalto comecei a ser multado, por tudo e por nada. Veja-se que chegaram ao ponto de me passar uma multa por uso de telemóvel quando não estava a usá-lo. A justificação que me deram foi que um dia me tinham visto a passar de carro na vila a falar ao telemóvel e que se não me multaram dessa vez multavam-me agora”, diz. 

“Se pedimos ajuda não aparecem e depois andam a perseguir as pessoas e a inventar falsas ilegalidades para passar multas”, atira Manuel Silva, de 70 anos. O empresário residente em Azambuja conta que o seu filho foi autuado em 500 euros e ficou com os documentos apreendidos por não ter o selo do seguro na viatura. “Aconteceu junto ao portão de casa e mesmo depois de termos explicado e mostrado que tínhamos a carta verde por engano numa outra viatura, não quiseram saber”, conta, considerando que se trata de abuso de poder e má fé da parte de alguns guardas.  

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