Sociedade | 04-08-2022 15:01

Morreu Fernando Santos: um dirigente associativo e amigo da Chamusca

Fernando Santos teve uma participação activa na vida política, empresarial e associativa da Chamusca mas foi pouco reconhecido pelo poder político local

Fernando Santos era há vários anos presidente da União Desportiva da Chamusca e esteve sempre ligado ao movimento associativo da terra. Rosto de uma das farmácias da vila, foi líder concelhio do PS e proprietário, durante vários anos, do “Poiso do Bezouro”, um restaurante que marcou uma época no concelho. A sua morte apanhou os chamusquenses de surpresa.

A população da Chamusca foi apanhada de surpresa com a notícia da morte de Fernando Santos, um homem muito acarinhado na vila, também conhecido como o “Fernando da Farmácia”, por ter trabalhado vários anos nas farmácia mais antiga da vila. As causas da morte ainda estão por apurar, mas tudo aponta para ataque cardíaco, tendo em conta as circunstâncias em que o acidente ocorreu.
Segundo O MIRANTE apurou, Fernando Santos estava a mudar de habitação e no final das mudanças avisou a família que estava a sentir-se demasiado cansado. Deitou-se descansar e quando a esposa o foi chamar já o encontrou sem vida.
Nos últimos dias têm sido várias as manifestações de pesar e de homenagem a Fernando Santos, um homem que marcou a dinâmica associativa, empresarial e política do concelho da Chamusca. Deixou a carreira na área farmacêutica para assumir a gestão do “Poiso do Bezouro”, um restaurante que marcou uma época na Chamusca e que recebia pessoas de toda a região e país. O espaço fechou há meia dúzia de anos por falta de clientela, como explicou Fernando Santos, em entrevista a O MIRANTE, em Fevereiro de 2014. “O comércio na vila da Chamusca está a morrer, não há investimento, não há massa crítica, nem empresários que invistam. Não há nada aqui. Chega a ser assustador”, referiu.
No seu currículo há uma longa passagem pela vida política, tendo sido líder concelhio do Partido Socialista. Abandonou o partido quando o PS ganhou a Câmara da Chamusca pela primeira vez e Paulo Queimado, seu ex-genro, assumiu o lugar de presidente da autarquia. “O PS na Chamusca não existe. Existiram e existem socialistas. Mas a dinâmica socialista não existe. Como socialista sempre tive vontade de ver o PS ganhar, o problema é que não gosto do que estou a ver”, disse.
Fernando Santos passou os últimos anos da sua vida a trabalhar para uma das maiores e mais antigas associações da terra. Como presidente da União Desportiva da Chamusca resolveu os problemas de tesouraria, fez obras de requalificação na sede para aproximar os sócios da colectividade e apostou nos escalões de formação e em novas modalidades, como a patinagem artística.
Fernando Santos nunca teve papas na língua, como provam as suas últimas frases na conversa com o nosso jornal. “Eu sou amigo da terra e trabalho para a terra sem pensar em mais nada. Tudo fecha na Chamusca. Não há vida associativa porque não há economia nem líderes. O importante não é quem governa a câmara, mas quem faça alguma coisa antes que a vila morra de vez. As pessoas desaparecem daqui. A Chamusca parece estar à venda e ninguém a quer comprar”, sublinhou.
Uma das últimas iniciativas em que O MIRANTE esteve com Fernando Santos foi a “Segunda-feira de Sestas”, uma tradição antiga, que juntou cerca de uma centena de pessoas junto à Ermida da Senhora do Bonfim, em Abril deste ano. Acompanhado pela mulher, Ana Maria, pelos seus dois filhos, Sofia e Filipe Santos, e por vários amigos, Fernando Santos mostrou-se como sempre: alegre, bem-disposto e sempre com um sorriso no rosto.
Fernando Santos era filho de Fernanda e Manuel da Silva Santos um fadista amador dos maiores que a Chamusca já conheceu.

Opinião

Fernando Santos não teve muita sorte com a Chamusca

Morreu o maior dirigente associativo da Chamusca que certamente ficará na história como um dos maiores.

Nem toda a gente tem o direito de figurar nos álbuns da sua terra natal por ter trabalhado para a comunidade ou ter servido as suas instituições. Não é o caso de Fernando Santos, que acabou de morrer depois de um final de vida igualmente ligado ao associativismo, mas com uma vida pessoal e profissional cheia de problemas por causa da falta de saúde e do negócio lhe ter corrido mal, depois de ter deixado o ofício de farmacêutico.
Falo abertamente de Fernando Santos porque ninguém vive numa redoma, as terras são pequenas e todos sabemos até a que horas as formigas começam a trabalhar e as cigarras a cantar. Na vila, que dantes se podia chamar Terra Branca, agora não porque é uma terra a precisar tanto de cal como de boa gente para a governar, Fernando Santos foi pau para toda a obra; desde dirigente associativo, cultural e político, esteve sempre na primeira linha dos que nasceram com a vocação de trabalharem para fazerem os outros felizes.
Nunca escrevi neste registo sobre uma pessoa na condição em que escrevo sobre Fernando Santos; sempre vivi perto dele e nunca fui seu amigo, nem amigo dos seus amigos. O Fernando era a cara do Partido Socialista da Chamusca para além de ser o dirigente associativo que estava em todas. Não fosse o caso de Sérgio Carrinho ser um líder incontestado que esmagou todos os que lhe quiserem roubar o lugar, e Fernando Santos podia ter tirado melhor proveito da política no seu afã de ser útil aos da sua terra.
No dia em que a CDU e Sérgio Carrinho caíram do pedestal, Fernando Santos estava lá ainda no seio do PS local, na luta pela política e pelo associativismo. Só que teve azar; já não tinha ao seu lado os velhos amigos de sempre, que entretanto foram às suas vidas, se reformaram da vida pública, foram para novas paragens, mas os novos boys do partido, aqueles de calça pelo joelho, horário de trabalho reduzido e meninos de bronze.
Ao contrário daquilo que normalmente acontece, assim que o Partido Socialista ganhou a Câmara da Chamusca, Fernando Santos foi visto como um estranho para os novos líderes, um militante a mais, um daqueles que bem podia atrapalhar a dolce vita dos novos ricos da terra.
Uma ligação familiar, por meio de um dos seus filhos, ao novo homem forte dos socialistas da Chamusca custou-lhe ainda os olhos da cara. Como toda a gente sabe, os tipos das novas gerações têm cabelos no coração, não olham ao tamanho da bulldozer com que mandam arrasar os seus supostos inimigos, não têm sentimentos, e se têm afogam-nos nos copos de vinho ou de cerveja, quando não é no consolo dos peralvinhos de que se rodeiam, que são mais atrasados que eles e que nunca ouviram nem leram que o mundo tem milhões de anos e que um ser humano só vive em média entre 70 a 80 anos.
Morreu o Fernando da Farmácia e embora nunca tenha sido amigo dele deixo aqui um exemplo da sua firmeza de carácter e do tamanho das suas convicções: o restaurante que ele explorava foi para insolvência, mas antes disso procurou o jornal para pagar os euros que devia de uma publicidade que tinha contratado por altura de uma semana da Ascensão. JAE.

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