Sociedade | 27-06-2022 18:00

Negócio de 40 mil euros em livro de arqueologia compromete autarcas da Chamusca

Joaquim José Garrido, Presidente da Assembleia Municipal da Chamusca, em primeiro plano na foto, factura com a autarquia através da empresa dos seus filhos

O presidente da Câmara da Chamusca não considera ilegal, nem eticamente reprovável, ter adjudicado a compra de mil exemplares de um livro a uma empresa dos filhos do presidente da assembleia municipal, Joaquim José Garrido, que por sua vez contrataram a empresa do pai para realizar a paginação, acabamentos e impressão da “Carta Arqueológica do Concelho da Chamusca”.

Paulo Queimado considera que a aquisição, por adjudicação directa, de mil exemplares da “Carta Arqueológica do Concelho da Chamusca” a uma empresa dos filhos do presidente da assembleia municipal não é ilegal. Em declarações a O MIRANTE, o presidente da Câmara da Chamusca diz que a autarquia não desrespeitou nenhuma regra moral e ética, mesmo sabendo da possibilidade de os filhos de Joaquim José Garrido poderem contratar a empresa do pai para realizar a paginação, acabamentos e impressão da obra, como aconteceu. “Houve um processo de consulta ao mercado e a Zaina foi quem ofereceu melhores condições. A partir daí, não faço ideia, nem preciso de saber, como são realizadas as subcontratações. Não tenho dúvidas da clareza do procedimento administrativo”, referiu.
Tal como O MIRANTE noticiou na edição de 24 de Março, o município pagou 18.600 euros pela primeira edição de 500 exemplares, valor que um ano depois voltou a pagar por uma segunda edição com o mesmo número de exemplares. O caricato da situação é que o município pagou o mesmo valor unitário pela reimpressão dos livros. Sobre esta questão, Paulo Queimado limitou-se a responder que houve necessidade de mandar imprimir mais 500 exemplares.
“A Carta Arqueológica do Concelho da Chamusca” tem 274 páginas, foi impressa em papel de luxo, com um corpo de letra e um espaçamento dos textos que demonstra que houve intenção de fazer render o volume do livro. O presidente justificou a sumptuosidade da publicação, e o seu preço, por ser uma homenagem a Mário “Pisco”, um chamusquense apaixonado por arqueologia que faleceu há cerca de quatro anos. “Prometi ao Mário que íamos fazer um livro técnico que também fosse bonito e que dignificasse o trabalho que ele tanto gostava. Tendo em conta a qualidade da impressão e a capa dura não acho que tenha sido caro. Achei que devia investir”, sublinhou, embora não tivesse falado da importância da arqueologia do concelho da Chamusca.
Na ficha técnica das duas edições impressas não consta, como devia, o número de exemplares e a gráfica onde a obra foi impressa. No entanto, na página da Internet do repositório da Universidade de Évora, onde qualquer pessoa pode ler o livro sem qualquer custo, a ficha técnica diz que o livro foi impresso, paginado e acabado na “Garrido Artes Gráficas”. Sobre este assunto Paulo Queimado afirma que “fazia sentido que o nome da gráfica aparecesse na ficha técnica do livro” e que não faz a mínima ideia de como a “Carta” apareceu no repositório da Universidade de Évora para consulta livre.
Questionado sobre se tem consciência que o favorecimento de cargo político suscita uma possível perda de mandato o presidente do município reafirma que “o procedimento de contratação é completamente claro”.

Opinião

Um negócio das arábias com a arqueologia da Chamusca

Presidente da assembleia municipal factura à descarada com a empresa dos filhos numa autarquia onde desempenha um dos cargos políticos mais importantes.

A Câmara da Chamusca pagou cerca de 40 mil euros a uma empresa dos filhos do presidente da assembleia municipal (AM) que têm um negócio que dá trabalho à empresa do pai. Conclusão: o presidente da AM factura à descarada com a empresa dos filhos numa autarquia onde desempenha um dos cargos políticos mais importantes. O livro parece feito para dar a ganhar dinheiro. Pesa dois quilos e meio e é paginado e desenhado de forma que causa vergonha alheia. O negócio tem particularidades que exigem investigação. Ninguém compra 500 exemplares de um livro de luxo, com uma folha de obra que incluiu todo o trabalho de edição e impressão do livro, para oferecer no mercado, e depois manda fazer uma re-impressão pagando o mesmo preço. Se este negócio não é meter a mão nos dinheiros públicos à descarada então vivemos numa República das Bananas.
Como o livro não está à venda no mercado é difícil acreditar que a Câmara da Chamusca não ande a oferecer livros de 2,5 kg sobre arqueologia para justificar uma obra que custou 40 mil euros. Joaquim José Garrido foi até há pouco tempo, dentro do Partido Socialista, adversário político de Paulo Queimado. Perdeu sempre. Nos últimos tempos seguiu o velho ditado: “Se não os consegues vencer junta-te a eles”.
Paulo Queimado cometeu mais um deslize que prova que não é um bom gestor dos dinheiros públicos. Ninguém pode fazer de forma séria a gestão de um município fazendo negócios com os filhos de um camarada que vão dar dinheiro a ganhar ao pai. O texto em cima prova que Paulo Queimado não está preocupado com as questões da ética na política, muito menos com o julgamento dos munícipes. Ele sabia desde o início que o negócio era desastroso para a autarquia. A conclusão é que o executivo da câmara está a delapidar dinheiro em negócios ruinosos com a agravante de favorecer camaradas do partido misturando interesses públicos e privados.
Segundo informação recolhida nos serviços da autarquia da Chamusca, foram oferecidas algumas dezenas de livros a políticos e instituições do concelho e enviados algumas centenas para bibliotecas de todo o país. Mas mil livros com 2,5 quilogramas não se despacham do pé para a mão e não há assim tanta gente interessada na “arqueologia” do concelho da Chamusca. Será que um dia destes alguém vai ter interesse em investigar se os livros já chegaram todos à câmara municipal? JAE .

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