Sociedade | 18-09-2022 07:00

O folclore está de boa saúde em VFX mas começa a faltar sangue novo

Rancho Folclórico do Centro Social e Cultural do Bom Sucesso é formado por 30 elementos, a maioria acima dos 30 anos

As danças e cantares tradicionais estiveram em destaque nas festas da Póvoa de Santa Iria, onde três ranchos do concelho de Vila Franca de Xira evidenciaram que o folclore está de boa saúde e já ultrapassou os efeitos nocivos da pandemia. No entanto, a renovação dos grupos começa a ser motivo de alguma apreensão devido ao desinteresse dos jovens.

O folclore está de boa saúde no concelho de Vila Franca de Xira, como ficou demonstrado recentemente durante as Festas da Póvoa de Santa Iria, onde na Noite do Folclore e da Sardinha Assada estiveram em palco o Rancho Folclórico do Centro Social e Cultural do Bom Sucesso, o Rancho Folclórico “Os Camponeses”, do Grupo Desportivo Santa Eulália, e o Rancho Folclórico “Os Alegres Bragadenses”, do Grupo Recreativo e Desportivo Bragadense. Algumas centenas de pessoas aplaudiram as danças e cantares dos três grupos, cujos elementos contaram a O MIRANTE o que os leva a manter acesa a chama da preservação das tradições e identidade locais.
João Pereira, 85 anos, fundador há mais de quatro décadas do Rancho Folclórico do Centro Social e Cultural do Bom Sucesso, de Alverca do Ribatejo, diz a O MIRANTE que a motivação para cantar e dançar vem do público que os aplaude e do gozo que lhe dá saber que ainda consegue fazer algo que vem da sua juventude. Para ele, o folclore é algo que se sente e se aprende a gostar, mas admite que a mudança de gerações acabe por afastar os mais novos desse meio. Apesar disso, entre os 30 membros do grupo, a maioria está na faixa etária entre os 30 e os 40 anos, seguindo-se o grupo com 50 e mais anos.
O Rancho Folclórico “Os Camponeses”, do Grupo Desportivo Santa Eulália, de Vialonga, é o que coloca mais jovens em palco. António Mateus, 51 anos, ensaiador do grupo há cerca de duas décadas, diz que se trata do único rancho folclórico do Ribatejo cuja ligação também se estende à zona saloia, pela sua proximidade territorial com Loures. Essa característica torna-se notória quando às modas ribatejanas se juntam o corridinho e o fandango saloios. O ensaiador diz que as actuações e ver a alegria nos rostos dos companheiros enquanto cantam, tocam e dançam são aquilo que mais gosta no mundo do folclore, garantindo que enquanto houver saúde vai continuar ligado ao grupo.
Paulo Carriço, 55 anos, é ensaiador e o porta-voz do rancho das Bragadas, na freguesia de Póvoa de Santa Iria. O Rancho Folclórico “Os Alegres Bragadenses” sobe ao palco com apenas dois ensaios, após paragem forçada de dois anos devido à pandemia de Covid-19. Ao contrário dos restantes grupos, não regressou ao activo no inicio deste ano. Algumas desistências e falecimentos levaram os membros a colocar em espera a paixão pelo folclore durante mais tempo. O ensaiador conta que, após o contacto por parte da comissão de festas da Póvoa de Santa Iria, “acendeu-se uma pequena chama no interior de alguns membros do grupo que começaram a puxar uns pelos outros e com apenas dois ensaios para desenferrujar” atreveram-se a participar “sem medo de errar”.

Rancho Folclórico “Os Camponeses” do Grupo Desportivo de Santa Eulália é o que coloca mais jovens em palco
Rancho Folclórico “Os Camponeses” do Grupo Desportivo de Santa Eulália é o que coloca mais jovens em palco

Desinteresse dos jovens causa apreensão
Durante a conversa com os três representantes dos ranchos folclóricos ficou clara a motivação em manter vivas as tradições, pois sem elas “desaparecem as raízes, a história e a identidade que nos torna tão únicos”, como afirma António Mateus. Mas subsiste também alguma apreensão quanto ao envolvimento das novas gerações nessa missão. Para os elementos dos três ranchos, é visível a falta de renovação geracional nos grupos, com elementos cada vez mais velhos e onde menos jovens vão aparecendo.
“Quando era jovem era isto que queria fazer sempre que havia oportunidade, porque não havia muito mais alternativas. Hoje os jovens têm uma enorme variedade de desportos à disposição, têm televisão, computador e telemóvel com Internet, já não vão aos bailes para conversar com os amigos, e quando se encontram é nas discotecas com música que anda na rádio e na Internet, enquanto a história de um povo se perde por desinteresse”, desabafa João Pereira. Mas, como Paulo Carriço garantiu, “até morrermos todos, o folclore não morrerá, para o bem e para o mal”.

Rancho Folclórico “Os Alegres Bragadenses” do Grupo Desportivo e Recreativo Bragadense subiu a palco com apenas dois ensaios depois de uma longa paragem devido à pandemia
Rancho Folclórico “Os Alegres Bragadenses” do Grupo Desportivo e Recreativo Bragadense subiu a palco com apenas dois ensaios depois de uma longa paragem devido à pandemia

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