Sociedade | 02-03-2022 12:00

Edição Semanal. Pandemia deixou cineclubes sem apoios

Lurdes Martins é a nova presidente da Federação Portuguesa de Cineclubes

Associações precisam de realizar 30 sessões por ano para garantirem financiamento do Instituto do Cinema e Audiovisual. Com o confinamento e as salas fechadas perderam-se actividades e receitas mas a hora, agora, é de retoma. Até porque nem só de passar filmes vivem os cineclubes.

A pandemia veio agravar ainda mais a situação dos cineclubes em Portugal uma vez que têm a obrigatoriedade de realizar cerca de 30 sessões por ano para não perderem apoios financeiros oficiais. Se não cumprirem essa meta são penalizados e podem perder a importante comparticipação do ICA (Instituto do Cinema e Audiovisual), o que sucedeu durante o período de pandemia. A informação foi dada a O MIRANTE por Lurdes Martins, que tomou posse em Janeiro como presidente da Federação Portuguesa de Cineclubes (FPC).
A dirigente da associação Palha de Abrantes e do cineclube Espalhafitas explica que é difícil retomar uma actividade após uma longa paragem. “É prejudicial porque existe o medo. Há pessoas que só vão voltar a uma sala de cinema quando tudo isto estiver ultrapassado. A exigência dos testes antigénio também não ajuda. Temos que recomeçar e um longo caminho para percorrer”, refere.
O distrito de Santarém tem actualmente quatro cineclubes a funcionar. Além do da capital de distrito, existem os de Abrantes, Torres Novas e Tomar. O Espalhafitas, de Abrantes, está a funcionar no Centro Cultural Gil Vicente, no Sardoal, e o de Torres Novas tem desenvolvido actividade no Teatro Virgínia. Lurdes Martins considera que como os filmes que passam nos cineclubes não provocam enchentes nas salas de cinema poderiam ter continuado a funcionar. “O problema é que as directivas do Governo mandaram encerrar tudo e tivemos que cumprir”, sublinha.
Lurdes Martins defende que os cineclubes têm feito um bom trabalho nos últimos anos mesmo com o ‘streaming’ a invadir as televisões. “O papel dos cineclubes não é mero entretenimento nem só de passar filmes que normalmente não passam nas salas de cinema comerciais. Têm outras áreas como literatura, faz-se uma reflexão do mundo através de cinematografias. Nos cineclubes podem visualizar-se filmes sem necessidade de ter salas de cinema”, explica.
A dirigente associativa defende que o papel dos cineclubes deveria ser muito mais trabalhado junto das populações mais jovens. Em Abrantes iam às escolas com frequência, actividade que foi interrompida com a pandemia. A associação Palha de Abrantes tem a Escola do Ócio, para onde os alunos mais pequenos vão no final das aulas. Lá têm a primeira ligação ao mundo do cineclube, que inclui também música, entre outras actividades.
Lurdes Martins explica que os cineclubes continuam a ser os maiores divulgadores do cinema, ajudando a formar novos públicos sobretudo nas aldeias do interior do país, onde é mais difícil ter acesso à sétima arte. O cineclube de Abrantes, o Espalhafitas, começou por funcionar no Cine-Teatro São Pedro, que se encontra fechado há vários anos e aguarda por obras de requalificação.
Segundo Lurdes Martins, existem cerca de 770 cineclubes federados no país e há mais a trabalhar mas que não estão federados. A Federação Portuguesa de Cineclubes foi fundada em 1978, sendo a representante legal dos cineclubes no país e no estrangeiro. Lurdes Martins refere que esta é a primeira vez que o Espalhafitas preside à FPC, embora já tenha feito parte da direcção em anteriores mandatos. A FPC promove regularmente acções de promoção da cultura cinematográfica, acções de formação, seminários e apoios à criação de novos cineclubes.

“Falta uma sala de espectáculos em Abrantes”

Lurdes Martins diz que faz falta uma sala de espectáculos em Abrantes que dê outra dignidade à cidade. A dirigente da associação Palha de Abrantes defende a importância da cultura para cada comunidade. “Abrantes está a viver um vazio cultural, não há espaços para se poder fazer cultura, como também não há uma programação cultural. Não é o novo museu que vai preencher essa lacuna”, critica a O MIRANTE.

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