Sociedade | 05-08-2022 11:59

Uma viagem pelas lendas urbanas e mistérios históricos de Vialonga

Dezena e meia de participantes ficou a conhecer no Trilho Boca da Lapa alguns dos segredos e mistérios que Vialonga encerra

Do assassino em série da Granja que nunca foi apanhado ao crítico da procissão da terra que acabou esmagado por um crucifixo, Vialonga é terra de lendas, mitos urbanos e mistérios arquitectónicos únicos que foram revelados numa visita promovida pelo museu municipal.

Quintas que foram em tempos conventos de frades franciscanos, capelas soterradas desde o tempo das invasões francesas, fortes militares onde o marechal francês Masséna quase levou um tiro na cabeça e, claro, a famosa história do crítico da procissão que acabou esmagado por um crucifixo. Estas são histórias, lendas, relatos e mistérios que Vialonga encerra e que ainda hoje são desconhecidos da maioria da comunidade.
Foram partilhados num evento promovido pelo Museu Municipal de Vila Franca de Xira e a Casa do Povo de Vialonga, no dia 23 de Julho, em que os mais curiosos puderam percorrer o chamado Trilho da Boca da Lapa onde se deu a conhecer um pouco mais da história da vila. O MIRANTE acompanhou os técnicos e os 15 visitantes na viagem. Paulo Silva, 50 anos, técnico superior do Museu Municipal de Vila Franca de Xira, e Júlio Sampaio, 42 anos, investigador ligado à Casa do Povo de Vialonga, foram os guias.
O principal achado histórico é, para Júlio Sampaio, a ponte de origem romana encontrada na zona do Morgado, depois de largos anos de investigação, o que muda a percepção da história de Vialonga e abre portas a mais investigação sobre o passado da localidade. Um dos factos históricos mais aleatórios que encontrou foi documentação datada da época da dinastia filipina em Portugal, com um pedido oficial do Duque de Alba para que não se tocasse ou destruísse a quinta do Monteiro Mor. “Até hoje estamos para descobrir o porquê de ter sido dada esta ordem, não faz qualquer sentido e não entendemos a ligação do duque com o espaço”, conta a O MIRANTE.
Há rumores de ter existido um assassino em série na Granja e lendas urbanas como o caso de Elias Garcia, que de tanto criticar a procissão acabou por ser “divinamente castigado” com a queda de um crucifixo em cima. Os técnicos focam os trilhos e as suas investigações em “factos palpáveis, comprováveis e focados no melhor da história da vila e nunca em sensacionalismos e mitos urbanos”, ressalvam.

O susto de Masséna
O ponto principal do trilho é o Forte Militar 127, criado durante as invasões francesas a Portugal, que culminaria mais tarde com a fuga da família real e da corte para o Brasil. Ali, os formadores explicaram que graças ao trabalho de mais de 120 mil voluntários se ergueram as Linhas de Torres Vedras. Estas fortificações, em conjunto, tornaram-se Monumento Nacional em 2019. Um dos factos que mais surpreendeu os visitantes foi o do Forte 127 ser essencialmente telegráfico mas mantendo a capacidade de abrigar 154 pessoas. No seu interior contava com um fosso, escarpas e um moinho, de onde astutamente eram feitas comunicações entre fortes através de sinais de bandeiras. O forte está em ruína, permanecendo no seu local apenas duas porções de parede.
Júlio Sampaio lembra um disparo acidental que deu origem à conhecida história do chapéu do marechal Masséna. “Masséna e as suas tropas aproximaram-se da primeira linha de defesa na Calhandriz, onde alguém fez um disparo acidental de canhoneiro cujo projéctil passou a rasar pela cabeça do marechal, arrancando-lhe o chapéu. “O marechal, na sua altivez e arrogância, fez uma vénia ao forte e decidiu retirar-se”, recordam os técnicos.

Uma capela soterrada e outra rodeada de água
O início do trilho, com pouco mais de 2 quilómetros, parte da Quinta da Boca da Lapa, um local que se diz ter pertencido a um dos netos do navegador Bartolomeu Dias. O espaço, hoje na posse de um particular, teve de ser totalmente restaurado no século XX depois de ter caído em ruína, num trabalho de onde se descobriu uma capela, totalmente soterrada desde as invasões francesas. Os técnicos explicam a raridade destas informações, uma vez que a zona ribeirinha de Lisboa e áreas limítrofes foi fortemente afectada pelo sismo e cheias de 1755, o que fez perder muita informação histórica.
Os visitantes caminharam até à Quinta do Convento dos Frades e à Quinta do Caldas, que tiveram de ser observadas do exterior, pois os actuais proprietários não se mostram abertos a visitas. Apesar disso, foi explicado que ambos os locais detinham elevado interesse histórico uma vez que a Quinta do Convento dos Frades tinha sido construída no início do século XVI, no que começou por ser um convento de frades franciscanos e a Quinta do Caldas tinha no seu interior uma capela completamente rodeada de água, algo nunca antes documentado e cuja origem se perdeu no tempo. Essa capela, que no seu interior conta com frescos a Santo António, reza a lenda, foi o local onde rezava Frei Bartolomeu dos Mártires, uma vez que a quinta pertenceria aos seus pais.
“É imprescindível dar a conhecer Vialonga e o seu impacto histórico. Quanto mais venho aos trilhos mais aprendo e quero aprender, é uma zona com diversos tesouros históricos a céu aberto”, partilha com O MIRANTE Joaquim Formiga, aluno da Universidade Sénior e um dos participantes que acompanha as visitas guiadas aos trilhos desde a sua criação.

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