Sociedade | 28-06-2022 07:00

Urgências de Santarém só funcionam porque há médicos tarefeiros e medida do Governo não resolve

Administradora do Hospital Distrital de Santarém, Ana Infante, diz que medida do Governo de contratar mais médicos não resolve problema de falta de profissionais

A administradora do Hospital Distrital de Santarém diz que todos os dias se fazem omeletes sem ovos e que a medida do Governo de contratar mais médicos não resolve o problema. A ortopedia e anestesiologia estão numa situação desesperante que pode agravar-se com a reforma de sete ortopedistas que têm mais de 60 anos, mas só foi autorizado contratar um especialista para cada uma das duas áreas. Já foi necessário desviar doentes e feridos para outras unidades. Ana Infante diz que é preciso coragem política para dar autonomia aos hospitais e condições aos médicos.

As 28 vagas autorizadas pelo Governo para o Hospital Distrital de Santarém contratar médicos não vão resolver os problemas da falta de clínicos que vão agravar-se se não forem tomadas medidas estruturantes, avisa a presidente do conselho de administração, Ana Infante. Para a ortopedia e para a anestesiologia, que são as áreas mais carenciadas, foi atribuída uma vaga para cada uma. Se o hospital conseguir que algum médico concorra é melhor que nada, mas cada uma destas especialidades precisa do dobro dos profissionais e os serviços estão a ser garantidos com recurso a médicos tarefeiros que ganham à hora fazendo aumentar os custos. Por isso a administradora mete o dedo na ferida: “Tem que haver coragem política para dar autonomia aos hospitais, para que possam contratar os profissionais que precisam e dar condições de trabalho e de remuneração”.
Ana Infante esclarece que o hospital para poder contratar um médico para os quadros tem de pedir autorização que passa por vários organismos, como a Administração Regional de Saúde e o Ministério das Finanças, o que normalmente demora um ano. Os pedidos ou vêm algumas vezes indeferidos ou se são autorizados o clínico que até estava interessado na vaga já não a quer porque percebe que ganha mais como prestador de serviços, do que com contrato de trabalho. Muitas vezes também acontece que quem aceita a vaga acaba por sair passado pouco tempo, normalmente para o sector privado.
A administradora esclarece que Santarém não tem dificuldades na obstetrícia por falta de obstetras, que são 20. As limitações que possam surgir nesta área será por falta de anestesistas, que são oito para todo o hospital, incluindo as urgências, tendo o hospital que recorrer a 10 clínicos em prestação de serviços numa relação laboral com menor garantia de estabilidade já que um tarefeiro pode nem aparecer ao serviço. A ortopedia é a área que pode tornar-se um caos a curto prazo tendo em conta que os sete ortopedistas do quadro têm mais de 60 anos e podem reformar-se em breve. Ana Infante diz que esta especialidade deve ser vista como muito importante num hospital que na sua área tem três auto-estradas, uma delas, a A1, a mais movimentada do país, onde os acidentes podem causar vários feridos politraumatizados.
Ana Infante assume que se o hospital não tivesse médicos prestadores de serviços as urgências não podiam estar abertas. Mesmo assim na segunda e terça-feira houve restrições e tiveram que ser desviados doentes para outros hospitais por falta de ortopedistas. “Somos criativos todos os dias. Andamos a fazer omeletes sem ovos”, desabafa a administradora alertando que se não forem dadas condições aos médicos do Serviço Nacional de Saúde eles vão procurar quem lhas dá. “As vagas que nos atribuíram não são solução a longo prazo”, acrescenta.
O hospital foi autorizado a contratar cinco médicos de Medicina Interna, três de Psiquiatria e dois de Oftalmologia. As restantes vagas visam a contratação de um médico em cada uma das especialidades de anestesia, cardiologia, cirurgia geral, dermatovenereologia, doenças infecciosas, gastrenterologia, ginecologia/obstetrícia, medicina física e de reabilitação, medicina intensiva, neurologia, oncologia médica, ortopedia, otorrinolaringologia, pediatria, pneumologia, psiquiatria da infância e adolescência, reumatologia e urologia.

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