Três Dimensões | 26-02-2022 12:00

“Ajudar as colectividades da nossa terra é um acto de cidadania”

Empresário, dirigente associativo e sportinguista ferrenho José Rego é um rosto conhecido de Samora Correia

José Rego, 69 anos, sócio da Funerária Senhora da Paz, Samora Correia.

José Rego começou a trabalhar aos 12 anos como servente de pedreiro, passou por uma fábrica de vidros e plásticos e foi pára-quedista quando ingressou no serviço militar. Depois do 25 de Abril rumou ao Canadá, onde trabalhou numa gráfica. A forma como eram feitos os funerais do outro lado do Atlântico inspiraram-no para abrir, juntamente com o sócio, a funerária Senhora da Paz que faz as coisas com proximidade, carinho e atenção.

Quero trabalhar enquanto tiver saúde, o trabalho nunca me meteu medo. Não me vejo parado em casa ou andar nos cafés. Gosto de ter uma ocupação e sou feliz assim. Sou natural de Samora Correia e aos 12 anos comecei a trabalhar como servente de pedreiro. Fui sempre subindo a pulso. Passei pela antiga empresa de transformações VM, depois estive numa fábrica de vidros e plásticos e ingressei no serviço militar onde me formei como pára-quedista. Nunca tive medo. A preparação antes de ir para o salto era tão grande que já só queria ir para o avião e saltar (risos).
Trabalhei numa empresa de fibras que me ficou a dever quatro meses de salário. Foi nessa altura que, através de um amigo, decidi ir para o Canadá, para Toronto, onde fiquei a trabalhar numa gráfica de grande dimensão que imprimia jornais, revistas e folhetos comerciais. Vivi lá 28 anos e fiz toda a minha vida em Toronto. Não sabia uma palavra de inglês mas não me sentia bem em ir para a escola aprender por isso decidi começar a trabalhar num hotel a lavar pratos durante um ano para aprender a a língua inglesa.
O Canadá é um excelente país mas sempre tive muitas saudades da minha terra. Em Toronto era tudo gente muito educada e tinha-se uma boa qualidade de vida. Não faltava comida, havia bons hospitais e dava para vir um mês de férias seguido a Portugal. Quando o frio apertava fugíamos uma semana para a República Dominicana ou para Cuba. Trabalhava-se no duro mas podíamos viver a vida e desfrutar de alguma coisa, porque o ordenado não era à conta para comer como em Portugal. Toda a gente gosta do trabalho dos emigrantes portugueses e muito pouca gente tem alguma coisa a apontar-nos.
Todos devemos ajudar as colectividades da nossa terra. Contribuí para a Sociedade Filarmónica União Samorense (SFUS) onde estive vários anos na direcção e alguns como presidente. Em jovem aprendi música e cheguei a jogar futebol nas camadas jovens do Vilafranquense e a pegar toiros nos forcados de Vila Franca de Xira. Cheguei a um ponto em que tinha de conjugar tudo, bola no Inverno, toiros no Verão e os ensaios da música. Cheguei a ter as três coisas no mesmo dia e foi aí que percebi que tinha de abdicar da música.
Foi no Canadá que percebi que os funerais podiam e deviam ter mais dignidade. Os funerais eram muito bonitos comparados com os nossos, com cortejos e com a polícia a mandar parar o trânsito. Tudo muito digno. Foi então que em 2014, quando já estava em Samora Correia, decidi com o João Rocha abrir a funerária Senhora da Paz. Temos uma forma diferente de fazer as coisas e gostamos de servir bem as pessoas. Estamos com os clientes como se fossemos da sua própria família e com isso tentamos sempre ter uma grande proximidade e dar todo o carinho que é preciso nestas alturas.
Sou um apaixonado pelo que faço. Sinto que estou a ajudar as pessoas nos seus momentos difíceis e isso dá-me muita força. Preparamos o corpo do falecido com muito respeito e honestidade e temos excelentes condições nas nossas instalações, que ampliámos recentemente. Vejo este trabalho como se fossemos médicos a fazer uma operação. Limpamos a pessoa, arranjamos, vestimos, temos o cuidado de ter tudo direitinho e arranjado. Já tive de enterrar familiares e amigos próximos e isso custa imenso. Mas tenho de pensar que é o nosso dia-a-dia e temos de manter a honra da nossa profissão e respeitar todos por igual. Fico muito orgulhoso quando as pessoas nos elogiam.
Ultrapassar o luto e a perda de alguém que nos é querido é um processo diferente de pessoa para pessoa. Nunca nos esquecemos de quem parte mas temos é de saber viver com isso, rezar por eles todos os dias e lembrar os momentos bons que vivemos com essas pessoas. Enquanto a pessoa estiver viva nos nossos corações nunca parte verdadeiramente. Há pessoas que têm mais dificuldades em ultrapassar o luto. Nessas situações o melhor é procurar ajuda clínica.
Sou viciado em trabalho e quando me telefonam venho logo. Mas tento sempre esquecer o trabalho com alguns prazeres. Sou sócio do Sporting, vou aos jogos todos, tenho lugar cativo em Alvalade e apoio o clube com muito orgulho. Faço também parte da Confraria do Torricado com Bacalhau, que é um grande convívio de amigos. Isso é o mais difícil que a pandemia nos trouxe, impedir essa confraternização.
Gostava de chegar aos cem anos. Gosto de tudo em Samora Correia, foi aqui que fui criado e gosto muito da feira, da semana taurina, do Carnaval, são momentos especiais que gosto de viver. Nada me tira do sério porque sou uma pessoa calma. Mas fico triste quando vejo pessoas a ir por maus caminhos. Acho que o novo aeroporto no Campo de Tiro seria bom para Samora Correia, dinamizando o comércio e movimentando a cidade, quem sabe não traria mais hotéis e empregava mais pessoas. Tudo o que mexa com Samora Correia pela positiva é bem vindo.

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