Três Dimensões | 01-06-2022 18:00

“Concelho do Cartaxo precisa de uma reviravolta”

Luís Felício é proprietário da Astrolabirinto, empresa de instalações eléctricas, no Cartaxo

Luís Felício, proprietário da Astrolabirinto, empresa de instalações eléctricas, Cartaxo.

Luís Felício é proprietário da Astrolabirinto, empresa de instalações eléctricas, sediada no Cartaxo. Trabalha desde os 14 anos nesta área pela qual é apaixonado desde criança. Foi forcado durante um ano mas assim que os pais descobriram teve que sair. Com muita pena. Em casa tem três toiros e um cavalo. Nem todos os elementos da família apreciam a festa brava mas respeitam as opiniões de cada um. O empresário diz que o concelho do Cartaxo precisa de uma reviravolta para fixar pessoas. É coleccionador de chávenas de café e considera que as redes sociais vieram afastar as pessoas.

Comecei a trabalhar aos 12 anos a ajudar na carpintaria do meu pai. Acabei a escola mas depois fui trabalhador-estudante. De dia trabalhava e à noite estudava. Comecei a trabalhar a sério aos 14 anos como electricista, que foi sempre o que gostei de fazer. Desde miúdo que mexia em tudo o que estava relacionado com electricidade. Gosto de saber como se resolvem este tipo de problemas e trabalhar nesta área.
Tive sempre trabalho e clientes durante a pandemia. Tenho uma oficina no Cartaxo onde tenho tudo o que é necessário para a minha profissão, mas trabalho muito fora. Felizmente tenho sempre clientes, por todo o país, e não preciso de andar à procura. Até foi uma altura boa porque o Estado deu dinheiro para quem montasse painéis solares em casa. Instalei muitos painéis nessa altura porque as pessoas, além de estarem em casa, aproveitaram o dinheiro que era comparticipado pelo Estado e adquiriram os painéis solares.
O aumento dos preços tem levado à diminuição do poder de compra e a tendência é para piorar. Felizmente o aumento de preços não tem prejudicado o meu negócio mas nota-se que já há pessoas com dificuldade em comprar as coisas essenciais, como comida e medicamentos. Acredito que a situação vá piorar e não sei como vai acabar. Isto tudo deve-se à guerra na Ucrânia, que não tem qualquer sentido. Parece que não aprendemos nada com a História e o passado da Humanidade. Já houve tantas guerras que terminaram mal e as pessoas são as principais prejudicadas. Quem manda tem que tomar atitudes. Não podemos estar reféns de uma pessoa que acha que pode fazer tudo o que quer.
O concelho do Cartaxo precisa de uma enorme reviravolta. A cidade está morta, não há lojas nem comércio. No concelho são necessárias empresas e indústrias que invistam e se instalem por cá para que a economia local possa crescer. É uma pena ver um concelho destes, que está junto à capital de distrito, e onde não se passa nada. Isto faz com que os jovens não fiquem a viver por cá porque não há emprego, logo vão à procura de melhores condições noutras cidades. É lamentável que tenham deixado o concelho chegar a este ponto.
Quem diz que não tem medo do toiro durante uma pega está a mentir. Na adolescência fui forcado durante cerca de um ano. Assim que os meus pais descobriram tiraram-me logo de lá. Fiz pegas de caras e no momento em que estamos cara a cara com o toiro não se pensa em nada. Claro que se tem medo, dá um frio na barriga, mas a adrenalina é superior a isso tudo. Nunca parti nada, tive apenas algumas nódoas negras. Sou mesmo aficionado da festa brava e sempre que há corridas de toiros estou lá todas as semanas. Esta paixão nasceu comigo porque os meus pais nunca ligaram muito.
Tenho um cavalo e três toiros em casa. Já tive 14 cavalos mas agora só tenho um. Comprei um toiro por brincadeira porque tenho uma filha que foi forcada, no grupo de Benavente, só de mulheres. Ela ia lá para casa treinar com as amigas. Tenho três filhos. Um não liga nada aos toiros, a do meio adora e é tão aficionada como eu e a mais nova, que tem 19 anos, é anti-taurina. Não poderia ter filhos tão diferentes (risos) mas ninguém briga por causa disso, porque nos respeitamos a todos e cada um tem direito à sua opinião e maneira de ver as coisas.
Acredito que a festa brava, daqui por algumas décadas, vai tornar-se um espectáculo de luxo. Infelizmente, muitas das pessoas que vivem nas grandes cidades não entendem o sentimento e o espírito do mundo rural, que tem tradições que deveriam manter-se. Há uma pressão muito grande para terminar com a festa brava, o que é errado. Não gosto de futebol e não sou obrigado a gostar. Nem sequer vejo jogos de futebol na televisão, mas respeito quem gosta. Deveria ser assim com tudo. Cada um tem o seu gosto e deve ser respeitado. Este é um sector de actividade que gera muito dinheiro para o país e também muitos postos de trabalho.
Tenho milhares de chávenas de café. Gosto de coleccionar e sempre que vou a algum café peço ou compro. Em Espanha tenho sempre que comprar. Não sei explicar porque gosto mas sou fascinado. As redes sociais vieram afastar as pessoas. Pode ter aproximado aquelas que já não se viam há muito anos, mas afastou quem está próximo. Nos restaurantes é só ver as pessoas a mexerem no telefone, não conseguem desligar. Por mim o telefone estava sempre arrumado. Só ando com ele por causa do trabalho.

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