Três Dimensões | 16-04-2022 18:00

“Santarém precisa de mais turistas que valorizem o comércio e economia local”

Fernando Fernandes fez carreira militar e, actualmente, é director da Escola Internacional de Línguas de Santarém

Fernando Fernandes é um homem bem disposto, sempre com um sorriso no rosto. Superou as adversidades da vida com determinação e continuou o seu percurso militar e de professor com sucesso. Natural da Bemposta, concelho de Abrantes, onde jogou futebol na juventude, vive em Santarém há mais de 30 anos. Tive um acidente de viação,…

Fernando Fernandes é um homem bem disposto, sempre com um sorriso no rosto. Superou as adversidades da vida com determinação e continuou o seu percurso militar e de professor com sucesso. Natural da Bemposta, concelho de Abrantes, onde jogou futebol na juventude, vive em Santarém há mais de 30 anos.

Tive um acidente de viação, em que tive que levar 250 pontos na cara, e ia ser pai pela segunda vez. Tinha 32 anos e ia ter com os meus pais à Azambuja. Ia sozinho no carro. Ainda hoje não sei exactamente o que aconteceu mas, na altura, tinha dois empregos e acho que o cansaço acumulado me fez adormecer. Embati num autocarro e não havia sinal de travagem do meu carro. O ano de 1992 foi muito mau. A única felicidade foi o nascimento da minha filha mais nova. Lembro-me de ter conseguido dizer a quem me socorreu para terem atenção à forma como davam a notícia à minha esposa porque estava grávida.
A força de vontade e determinação foram fundamentais para a minha recuperação. O acidente foi a 12 de Janeiro e em Outubro tinha a possibilidade de ir ao curso de oficiais superiores. Estava pronto para ir mas não me deixaram. Estive internado muito tempo, fiz muita fisioterapia e tentei fugir ao máximo da cadeira de rodas, que é um instrumento imprescindível mas para um curto espaço de tempo. É preciso muita força mental para conseguirmos ultrapassar os momentos mais difíceis da vida. Consegui assistir ao nascimento da minha filha em Junho.
Tinha o sonho de ser piloto de aviões. Concorri à Força Aérea mas como não consegui decidi entrar nos pára-quedistas. Fiz carreira militar até chegar a coronel. Comecei pelo serviço militar. Entretanto concorri à Academia Militar onde fiz o curso superior em Lisboa. Depois voltei para a Base de Tancos como pára-quedista. Temos que fazer pela vida. Cheguei a coronel do Chefe de Estado-Maior da Brigada de Reacção Rápida.
Deveria ser obrigatório o Serviço Cívico Nacional do qual o serviço militar seria uma parte. Todos deveriam ter formação de civismo e interesse nacional e usar a competência de cada um e trabalhar nela. Talvez os jovens estivessem melhor preparados para a vida e para as dificuldades e oportunidades que surgem. Muitas vezes deparamo-nos com rotundas na nossa vida e temos que saber qual a saída que vamos escolher. Quando abraço algo sou determinado na minha escolha.
Conjuguei a carreira militar com a actividade de professor. Dei aulas de Informática no ISLA de Santarém durante cerca de dez anos. Quando me reformei da vida militar tinha 46 anos e como não sou homem de estar parado, em 2012, tornei-me director da Escola Internacional de Línguas e sócio-gerente da SLI (Independent Language School). Na nossa escola somos exigentes com as pessoas com quem trabalhamos e cuidadosos na forma como administramos os cursos. Os nossos alunos fazem os exames de Cambridge e tenho orgulho em dizer que, além de termos zero por cento de reprovações, temos uma elevada percentagem de alunos com nota máxima. A qualidade de ensino é muito importante.
O nosso cérebro necessita de desafios de áreas diferentes. Todas as pessoas deveriam aprender duas línguas de alfabetos diferentes. Consigo ler os alfabetos árabe, latino, grego e russo. Saber pelo menos duas línguas diferentes, para além da língua-mãe, é muito importante. Vivi em Florença durante três anos durante um cargo internacional. Durante esse tempo estive em missão militar na Albânia durante seis meses. Depois fui para a Macedónia do Norte como oficial de ligação entre dois italianos e um alemão, o que não é fácil (risos). Como militar trabalhei ainda na Bósnia e em França.
Santarém necessita de uma atitude mobilizadora com toda a gente a remar no mesmo sentido. Se isso não acontecer corremos o risco de os concelhos à volta crescerem e Santarém perder o rumo. O problema de Santarém está relacionado com a atitude das elites moradoras das cidades acasteladas que olham para o futuro de forma feudal. Não existe uma atitude pró-activa. O centro histórico está morto e a história da cidade poderia ser uma mais-valia para trazer turistas que valorizem e dinamizem o comércio e a economia local.
As redes sociais vieram tornar a nossa memória preguiçosa. Antigamente sabia o nome de todas as ruas de Lisboa e onde ficavam; sabia os números de telefone da minha família e amigos. Hoje temos a vida facilitada porque temos toda essa informação na internet por isso a nossa memória está muito pior. As redes sociais tornaram tudo mais estranho. Como é que, por exemplo, marido e mulher que estão juntos trocam mensagens nas redes sociais? E os jovens, que estão juntos, e estão agarrados ao telemóvel e a conversar através do telefone em vez de conversarem pessoalmente. As redes sociais aproximaram-nos mas, ao mesmo tempo, também nos afastaram da conversa cara a cara.

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