Três Dimensões | 20-09-2022 21:00

“Um aeroporto iria trazer ao de cima as potencialidades de Santarém”

Jorge Humberto Malacas é solicitador, com escritório em Santarém, há 24 anos

Jorge Humberto Malacas procurou a sua independência financeira aos 19 anos. Mais tarde fez-se solicitador, já lá vão 24 anos. Diz que a procuradoria ilícita vai sempre existir e alerta para que não se caia no erro de não se procurar profissionais. Foi criado na mercearia do avô, na Azóia de Cima, aldeia onde vive e proporcionou bailes com 113 cassetes. Meteu-se na política e no associativismo. Quanto a Santarém, cidade onde trabalha, diz que é preciso reconhecer-lhe e valorizar o seu potencial turístico.

A procuradoria ilícita sempre existiu e vai continuar a existir. Cada vez mais pessoas procuram técnicos habilitados, mas já me vieram parar às mãos muitos processos feitos por quem não tem essa competência. Um solicitador tem o conhecimento jurídico para encontrar as soluções, documentação e fazer o acompanhamento necessário ao cliente.
É um grande risco ir à Internet buscar modelos de contratos-promessa de compra e venda. Quer-se poupar alguns euros e mais tarde tem-se problemas com isso. Este tipo de contratos são mais importantes que depois o normal tratamento da burocracia por isso é fundamental que as pessoas se acautelem e procurem profissionais.
Considero-me uma pessoa prática e objectiva no campo pessoal e profissional. Encaro a vida como uma aprendizagem. Ninguém está livre de um dia errar. A maior parte das pessoas não quer saber dos problemas dos outros. Não sou psicólogo mas se me entrar alguém pela porta tento, com os meus conselhos, motivar a pessoa. Sou daqueles que prefere ver o lado positivo daquilo que acontece e que procura o equilíbrio.
Deixei de estudar após o liceu porque queria autonomia e independência financeira. Com 19 anos fui ter com o patrão do meu pai e pedi-lhe emprego. Ter trabalhado como comercial, o que implicava viajar sozinho por sítios desconhecidos e abordar pessoas, foi para mim uma escola de vida. Houve um dia em que decidi estudar solicitadora; na altura o curso era ministrado pela actual Ordem dos Solicitadores. Há sete anos licenciei-me pelo Instituto Superior de Ciências da Administração.
Sou solicitador há 24 anos e nada me dá mais satisfação do que conseguir resolver problemas a quem me procura. Costumo dizer que neste meio tudo tem solução, mesmo que para quem me bate à porta possa parecer que traz um grande problema. A vida de solicitador absorve muito tempo. Por norma não deixo o escritório antes das 21h00 e trabalho aos sábados de manhã.
Nasci há 51 anos no Hospital de Santarém e cresci na Azóia de Cima. Quando mudei para a cidade senti falta do sossego do campo e há 10 anos voltei para a aldeia. Gosto de estar perto dos amigos e da família. A minha infância foi passada a brincar na rua e a ajudar os meus pais a cuidar de 300 porcos, de um hectare de milho e do café.
Santarém tem um potencial enorme em vários sectores que não estão a ser explorados. O sector do turismo é um deles. Não se compreende por que não exploram a Escola Prática de Cavalaria, onde podiam colocar um museu e os autocarros a parar lá. Santarém tem um potencial turístico para Portugal equivalente ao que este país tem para o mundo.
A recuperação do centro histórico é fundamental para a cidade de Santarém. Sei que não é fácil, pois para se pintar uma simples fachada é preciso pedir autorização. Defendo que se podia atenuar muita burocracia e quiçá isentar de taxas e custos os proprietários que queiram recuperar os seus imóveis. O comércio tinha a ganhar também se se apostasse numa cobertura para criar um género de centro comercial ao ar livre.
Um aeroporto iria revolucionar e trazer ao de cima as potencialidades de Santarém. Basta olhar para o Algarve antes e depois do aeroporto. Claro que também teria os seus contras, como a perda de tranquilidade para a população residente. Com ou sem aeroporto faz falta uma nova zona industrial em Santarém.
Com sete anos sentava-me ao colo do meu avô a fazer a contabilidade da mercearia escrevendo o que me ditava. Um dia enganei-me e houve um fiscal das Finanças que o chamou a atenção. O meu avô António Pedro é a minha referência de vida. Venho de uma família tranquila e harmoniosa. Tenho a sorte de ter crescido num meio longe de conflitos. Era costume almoçarmos todos juntos no meio da mercearia onde se vendia de tudo, desde cordas, botas, selos e medicamentos.
Fui disc-jockey nas festas da Azoia de Cima. Fiz muitas matinés e bailaricos com aparelhagens e 113 cassetes. Tocavam sempre as mesmas músicas, mas a casa estava sempre cheia. As pessoas divertiam-se verdadeiramente. Na adolescência tocava órgão nas festas e nas missas.
Fui vice-presidente da Cruz Vermelha Portuguesa de Santarém e fiz parte da Amicaioza, a associação que organiza as festas de Azóia de Cima. Também integrei o executivo da Junta da Azóia de Cima em 1997, como secretário. Na altura não havia funcionários e eu ia para lá aos domingos redigir as actas das reuniões. Mais tarde fui presidente da assembleia da mesma freguesia.
Valorizo pessoas com capacidade de diálogo e com as quais é possível conversar em harmonia e sinceridade. Agradeço tudo o que tenho e aquilo que construí. Antes de adormecer rezo a Deus. Sou católico, actualmente não praticante. Acho que cada pessoa deve ter uma educação espiritual seja ela católica ou não.

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