Arquivo | 22-03-2006 11:31
Os agricultores têm que produzir para o mercado
Quando é que as ajudas à agricultura vão acabar?As ajudas directas vão reduzir-se, claramente, a curto e médio prazo. Nós temos que ter a noção que essas ajudas não são para todos os sectores agrícolas. A hortofruticultura não tem essas ajudas, por exemplo. Elas estão concentradas sobretudo no sector dos cereais e na fileira da carne - bovinos e sector do leite.Nesse cenário de redução de ajudas não podemos andar mais tempo a gastar dinheiro inutilmente em culturas que não são rentáveis a prazo. Temos que apostar na reconversão e temos que apostar numa lógica de fileira. Não basta produzir, é preciso produzir com qualidade e saber comercializar. Os agricultores portugueses já perceberam essa mensagem?A PAC (Política Agrícola Comum) mudou a partir de 1992, mudou em 2000 e mudou substancialmente em 2003. Mas há uma má interpretação da reforma da PAC por parte de alguns dirigentes de associações que tenho ouvido. A reforma da PAC ao desligar as ajudas da produção foi para dizer aos agricultores: produzam em função daquilo que o mercado vos vai comprar. Orientem a vossa produção para o mercado. Não foi, deixem de produzir e fiquem em casa. É essa orientação que o Governo quer apoiar.Os políticos não são responsáveis pela subsídio-dependência da nossa agricultura? Nos primeiros anos era mais importante a quantidade. Fazer chegar dinheiro à agricultura portuguesa porque estava descapitalizada. Demorámos demasiado tempo a perceber que tínhamos que mudar o paradigma. Mais importante que a quantidade de dinheiro que vem, é sabê-lo utilizar bem. Ou damos sustentabilidade às fileiras ou a prazo vamos encontrar uma situação em que deixa de haver subsídios e deixa de haver produção agrícola.A Agricultura Portuguesa pode viver sem subsídios? Há uma agricultura que pode competir a prazo sem apoios e outra que tem outras funções. De prevenção do ambiente, de guardar as populações rurais lá onde elas são necessárias como gestoras de paisagem, da floresta. Para esta agricultura temos um outro tipo de apoios. Temos a chamada diversificação. O agricultor pode ter apoios porque presta um serviço social ao país, para fazer outras actividades que completem o seu rendimento, na medida em que na agricultura só por si ele não tem rendimentos que lhe permitam manter a sua actividade.Há realmente uma agricultura que pode competir sem apoios?Há uma agricultura que tem poucos subsídios e que provou ser possível ser competitiva no mercado aberto, toda a fileira do vinho por exemplo. Mas esses sectores vão continuar a ter o apoio do Governo na parte dos investimentos. Defende nova revisão da PAC antes de 2013?Não sou favorável a mudanças a meio da aplicação de uma reforma, porque a agricultura não é um mercado bolsista onde se compra e vende todos os dias. Quanto se decide fazer um pomar, por exemplo, tem que se dar estabilidade porque ele só entra em regime de cruzeiro para colher a fruta 4 a 5 anos depois. É natural e até é bom, que entre 2007 e 2013 se faça uma avaliação da reforma aprovada em 2003 mas isso não pode levar a uma alteração radical das condições da sua aplicação.
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