Arquivo | 29-10-2013 12:40

Emigrantes estendem culto do Dia dos Finados à aldeia mais luxemburguesa de Portugal

Em Fiolhoso, Murça, redobram-se os cuidados no cemitério, limpa-se, põem-se flores e velas para homenagear os mortos, familiares de muitos emigrantes que regressam também por estes dias para passar o Dia de Todos os Santos na terra Natal.Numa destas manhãs, cinco mulheres limpavam e embelezavam as campas de familiares e amigos no cemitério. É com olhar desconfiado que olham para quem chega e é por isso também que se recusam a dar o nome.A conversa vai surgindo aos poucos, entre os baldes de água lançados sobre as campas ou as vassouras que limpam os terrenos à volta. É um trabalho de que se ocupam durante todo o ano, mas os cuidados são redobrados nesta altura do ano, visto que se aproxima o Dia de Todos os Santos.Estas mulheres, quase todas emigrantes que já regressaram de vez à terra Natal, trocam flores, compõem arranjos e lápides, colocam velas. Em todas as campas a história de um familiar ou um vizinho, a história também de alguns que, mesmo vivendo lá fora, quiseram ser enterrados no sítio onde nasceram.“Às vezes tomo conta de cinco campas. Dos meus e dos outros que não podem estar cá. Olhe, faço o que posso e enquanto puder”, afirmou uma das mulheres à agência Lusa.E até nas campas dos que não conhecem dão um jeito. Uma outra mulher aproveita umas flores de plástico para colocar numa pequena campa, que está mesmo ao lado da dos seus familiares.“É para ficar um pouco melhor”, salientou atarefada.Por aqui é um trabalho que se faz com cuidado e de graça. Os outros, os que estão lá fora, depois apenas pagam as flores ou as velas.A aldeia de Fiolhoso, no concelho de Murça, é mesmo conhecida como "a mais luxemburguesa de Portugal", visto que a maioria dos seus emigrantes rumou até aquele país.Durante o ano a aldeia não terá mais de 200 habitantes. Já no verão, ganha nova vida com a chegada de centenas de emigrantes.Mas não é só nos meses de Julho e Agosto que eles regressam à terra Natal. Há também muitos que viajam de propósito no Dia dos Finados, que se assinala no domingo, dia 03 de Novembro.“É para estarem com os familiares no cemitério. Só para isso. Porque eles vêm, estão aqui dois ou três dias e vão embora”, afirmou o presidente da Junta de Freguesia do Fiolhoso, José Manuel Marcolino.O autarca referiu que, mesmo estando longe durante o resto do ano, as pessoas têm o cuidado de ter as campas “sempre arranjadas”.“Muitas pessoas que vivem fora daqui querem, depois, ser enterradas no Fiolhoso, por isso, depois, os seus familiares têm o cuidado de cá vir nos Santos. Uma grande parte vem agora”, frisou.José Manuel Marcolino compreende esta ligação à terra. Também ele foi emigrante no Luxemburgo durante uns anos até ter regressado há 12 anos, para abrir um café na aldeia.E, numa terra pequena, o autarca conhece as histórias de quem parte e de quem teimosamente aqui quer ser enterrado.“Ainda há duas semana faleceu uma senhora no Luxemburgo e veio ser enterrada aqui”, salientou. “É o amor à terra”, sublinhou.A emigração para o Luxemburgo começou nos anos 60 e, no início dos anos 70, os portugueses já eram a maior comunidade de estrangeiros no país. São actualmente quase 18 por cento da população, estão espalhados por todo o país e todos os anos continua a haver uma nova vaga de emigração portuguesa.

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