Economia | 20-11-2013 17:23

Os transgénicos não são para combater a fome no mundo mas para ganhar dinheiro

Os transgénicos não são para combater a fome no mundo mas para ganhar dinheiro

Botânico Jorge Paiva na décima edição da biodiversidade da Escola Santa Maria do Olival

Porque é que as cores das flores, dos animais, de todos os seres vivos em geral, varia em latitude, em longitude, em altitude e até temporalmente? Ao longo de cerca de uma hora e meia o botânico e ambientalista Jorge Paiva deu explicações e mostrou inúmeras fotografias a uma plateia atenta que ocupou grande parte do auditório da Biblioteca Municipal de Tomar no dia 15 ao final da tarde. A conferência “A Biogeografia da Cor” foi organizada pela Escola Secundária de Santa Maria do Olival, do Agrupamento de Escolas Nuno de Santa Maria. Foi a décima “Edição da Biodiversidade”, em dez anos consecutivos, realizada em Tomar pelo investigador principal no Departamento de Botânica da Universidade de Coimbra, agora aposentado, a convite da Escola.Na parte reservada a perguntas dos presentes e falando sobre os transgénicos, Jorge Paiva desmistificou a ideia de que são uma forma de combater a fome no mundo. “A vantagem dos transgénicos é unicamente económica. As grandes companhias já produziam alimentos em grande quantidade. Depois quiseram produzir mais quantidade mas a preços mais baixos e começaram a espalhar os pesticidas, os herbicidas. Quando viram que isso era um risco para a própria espécie e que estavam a emporcalhar esta gaiola em que estamos metidos, passaram para os transgénicos que são, no fundo, plantas que são capazes de resistir às pragas, às doenças, e ao mesmo tempo...até há alguns que matam outras espécies que estão à volta delas. É um processo económico. Não é para resolver a fome mundial. Basta ver que quando os preços dos produtos baixam os excedentes não são distribuídos mas destruídos”, lembrou. O ambientalista deixou mais alguns avisos que repete há anos e anos por todo o lado. “O risco das plantas clonadas e dos transgénicos é que fica tudo igual. Mas a espécie humana, que criou esta sociedade de consumo, já chegou à conclusão dos riscos que está a correr. E já percebeu que é preciso proteger ao máximo a biodiversidade. É por isso que, apesar de nos campos só vermos milho todo igual, temos, por exemplo em Merelim, perto de Braga, um banco de sementes com setecentas variedades de milho. E também estão a ser feitos bancos de germoplasma. É uma protecção para evitar uma catástrofe. Neste momento há uma praga nos pinheiros que não se consegue combater e as bananeiras que dão aquelas bananas grandes que estão nos supermercados estão a sofrer de um mal idêntico em África e na América do Sul. Sem biodiversidade não sobrevivemos. Não pode ser tudo igual. E também não podemos sobreviver sem florestas. O homem não consegue produzir florestas porque só faz florestas com uma única espécie e a realidade é que só existem 20 por cento das florestas que existiam quando surgiu o homem”, alertou. No fim da palestra realizou-se, como é habitual, o chamado “Jantar Lusitano”, na Escola Santa Maria do Olival, fronteira à biblioteca. Trata-se de um jantar que o próprio Professor Jorge Paiva ajuda a confeccionar, que incluiu entre outras coisas, pão feito com farinha de castanhas, salada Jorge Paiva em que são utilizadas 12 espécies de plantas nativas de Portugal, carnes de lebre, javali e veado, sopa de chícharos e queijo de cabra.Antes do jantar um grupo de estudantes apresentou uma coreografia da autoria da professora Ana Carvalho, durante a qual, utilizando caixas de cartão como peças de um puzzle, montaram uma fotografia de grandes dimensões do palestrante. Ao facto de se estar a realizar a 10ª edição da biodiversidade juntou-se também a celebração do 80º aniversário de Jorge Paiva (ocorrida a 17 de Setembro) a quem os presentes cantaram os parabéns e a quem foi oferecido um quadro com a sua imagem, feito com folhas. O Professor levou para oferecer aos participantes no jantar, um licor de ervas com a sua idade e prometeu à directora do Agrupamento, Maria Celeste Sousa, que voltará no próximo ano à escola. A professora Maria de Deus Monteiro, ex-aluna de Jorge Paiva, revelou que o seu antigo mestre tinha celebrado o seu aniversário com uma subida ao pico da Nevosa no Gerês. Uma caminhada de 24 Km.

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