Entrevista | 02-01-2013 10:48

Faltam líderes e falta amor por Santarém

Faltam líderes e falta amor por Santarém

Tem uma vida marcada pela tragédia. Aos 16 meses já não tinha pai nem mãe. Duas vezes viúva, Rosalina Melro tem mesmo assim ânimo para continuar a gostar da vida, a melhor obra de arte que diz conhecer. Figura multifacetada, católica e comunista, subiu na vida a pulso. Começou a trabalhar muito jovem, candidatou-se a uma bolsa de estudo para se licenciar e chegou a professora na mesma escola onde era auxiliar. Apaixonada pela sua cidade, diz que faltam líderes que façam ouvir a voz de Santarém e do Ribatejo em Lisboa.

Que prenda gostava de ter visto Santarém receber neste Natal?Gostava de ouvir falar de uma equipa para governar Santarém. O melhor presente era ter esperança.O panorama é assim tão desanimador?Não, mas é muito complicado. Há pessoas que poderiam fazer um bom trabalho, se soubessem reunir uma boa equipa. E aí penso que há algumas dificuldades, porque todas as equipas hoje acabam por ser dominadas pelos partidos. O que vê quando olha para a cidade?Uma tristeza. Já perdi as lágrimas de tanto chorar. Faz-me muita pena. Ainda hoje fui à cidade tomar café e é uma dor de alma ver o comércio a morrer, ver tudo a cair. É na verdade uma tristeza para quem viu esta cidade ter esperança de ser património mundial (embora eu pense que o caminho não foi bem desenhado) ter o centro histórico no estado em que está...E a crise não explica tudo.Não. Há uma falta de interesse e de amor à terra e à região. Aquela que era a capital do Ribatejo devia ser mais cuidada e mais amada.Falta amor aos escalabitanos pela sua terra?Falta interesse, falta amor. E sobretudo faltam vozes que se façam ouvir nos governos da nação. Repare-se no que está a acontecer com as barreiras de Santarém. Há quantos anos caíram? E continuam a ser um perigo sem que se faça nada.Não há líderes?É isso. Não temos vozes importantes. Fez muita falta o dr. Viegas, porque esse homem tinha uma boa relação ao seu tempo e fazia-se ouvir em Lisboa. Hoje não temos vozes que se façam ouvir junto do Governo central. E actualmente nem temos Governo central, mesmo que tivéssemos as vozes. Sinto-me muito triste.Foi a esperança de ter essa voz forte que a levou a apoiar Moita Flores como candidato à Câmara de Santarém?Não, de maneira nenhuma. Nessa altura não raciocinava assim nem conhecia o dr. Moita Flores suficientemente bem. Nunca acreditei no amor que o dr. Moita Flores apregoava pela cidade.Então porque o apoiou?Porque na altura eu apoiava um grupo de presidentes de juntas de freguesia que estavam muito dependentes do dr. Moita Flores e da sua candidatura.Foi um apoio por interesse, digamos assim...Foi por interesse do grupo que apoiava. Fomos buscar apoio a quem era mais forte, a quem sabíamos que ia ganhar a câmara.Parece existir algum desencanto relativamente a Moita Flores, mas nem tudo terá sido mau. Pôs a cidade no mapa durante algum tempo.Pôs mas a despedida dele é algo que me desgosta, que me desilude. Porque quem apregoava tanto amor por esta gente não trocava agora Santarém por Oeiras.Foi esse sentimento de rejeição que a magoou mais?Isso não se pode simplificar assim. Comecei a afastar-me antes. Houve um esfriar de esperança e de confiança na obra que disse que iria fazer.A Santarém de hoje era a que esperava ter após a gestão de Moita Flores à frente da câmara municipal?Não, de maneira nenhuma. Não podia ter muita esperança numa força mais conservadora.Com a sua idade, depois do que já escreveu, depois do que já pensou, acha que a ideologia ainda conta na estratégia para uma cidade?A ideologia conta para formar grupos de pessoas com finalidades. E depois os partidos formam interesses. Esses interesses têm sempre a ver com eleições. Não tenho esperança que neste momento possa surgir um grupo de pessoas na nossa cidade que possa lutar pela sua afirmação, nos partidos, na sociedade civil e até mesmo na Igreja. Se estamos a falar de líderes, penso que devíamos tentar encontrá-los. E eu olho à volta e não os vejo.Os partidos já não dão resposta a esses anseios.Pelas minhas experiências partidárias tornei-me desconfiada, crítica, relativamente aos grupos que se formam e aos interesses que surgem. Mas a vida política precisa de partidos, pois sem eles não há democracia. Precisamos de melhorar a cultura política, de se fazer alguma coisa dentro dos partidos.É das poucas pessoas em Santarém que opinou escrevendo. Alguma vez sentiu dor ou frustração por repercussões daquilo que escreveu?Os cronistas têm a arte de atirar as palavras como se atiram pedras. De modo que também estamos escudados para receber as facadas, as alfinetadas e até as pedradas sem nunca ficarmos de cabeça partida. *Entrevista completa na edição semanal de O MIRANTE.

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