Entrevista | 16-01-2013 13:11

A experiência de vida é mais que um curso superior

A experiência de vida é mais que um curso superior

José Batista não teve uma infância fácil. Começou a trabalhar aos 14 anos como aprendiz numa oficina e foi singrando na vida. Com mais dois sócios montou uma oficina que hoje é uma referência no concelho de Ourém e que completa 50 anos de existência esta sexta-feira, 18 de Janeiro. A empresa Moderna Oureense é hoje de um dos filhos, mas José Batista continua a trabalhar como gerente para não pensar nas dores e na velhice. Nesta entrevista conta como foi a infância, como era o concelho e como é hoje. Só vai a Santarém se tiver mesmo necessidade e não se importava que Ourém passasse para o distrito de Leiria, com o qual a população tem mais afinidade. Foi bombeiro 45 anos e chegou a comandante tendo sido agraciado pela Liga dos Bombeiros Portugueses. Por tudo o que já fez por Ourém, a câmara também lhe atribuiu a medalha de ouro de mérito municipal.

Começou a trabalhar muito cedo e quase a fazer 82 anos ainda continua. Não se sente cansado de trabalhar?Se nos pomos a pensar na doença, nas dores, na morte é pior. Por isso, se andar entretido a trabalhar não tenho tempo para pensar nisso. Se não pensarmos na velhice temos mais força para agarrar a vida. Se vou para o banco do jardim fico velho num instante. Não deve ter passado uma infância fácil.Antigamente andávamos pelas aldeias e só se via carroças e burros. Hoje cada família tem dois e três carros. Hoje a vida está pior do que se calhar há uns 20 anos, mas é bom que se saiba que há 60 ou 70 anos era muito pior. No meu tempo de criança não se comia como hoje, por exemplo. Passou fome?Fome não passei porque os meus avós maternos tinham uma padaria e o pão não faltava lá em casa. Mas comia-se muito mal. Sobretudo na altura da Segunda Guerra Mundial, era eu pequeno, em que tinha que ir para as bichas do racionamento. Podia haver dinheiro mas não havia comida para comprar. Entristecia-me estar nas bichas porque ao fim de uma hora, quando chegava a minha vez, já não havia nada para comprar ou só conseguia levar 100 gramas de arroz. Começou a trabalhar com que idade?Os meus pais eram pessoas pobres, trabalhavam no campo. Quando saía da escola ia ajudá-los nas tarefas agrícolas. Isso até me fez bem porque aprendi muita coisa e deu-me experiência de vida. Os jovens hoje não sabem o que é trabalhar no campo. Fiz a quarta classe, não havia dinheiro para mais. Aos 14 anos os meus pais foram pedir para ir para uma oficina para aprender mecânica. Passei por três oficinas sempre com o mesmo patrão. Tinha 30 anos quando pensei estabelecer-me por conta própria. Não tem pena de não ter tirado um curso?Hoje a quarta classe não vale nada. Mas o que aprendi ao longo da vida é mais do que um curso superior. A prática ainda é um grande curso. Lembra-se de qual foi o primeiro trabalho que fez quando começou a aprender mecânica? Foi na firma Vieira Graça e Lopes. Fui ajudar um dos patrões a tirar um motor de um camião Autocar, uma marca que já não existe. O meu trabalho era dar as chaves. Na altura não havia guinchos eléctricos. O motor era preso com correntes a uma tranca e era tirado a força de braços. Quando me estabeleci, em 1963, não havia as ferramentas e aparelhos que há hoje. Às vezes tínhamos que pedir ferramentas emprestadas. Em Ourém não havia um torno mecânico e quando era preciso reparar ou fazer algumas peças tínhamos que ir a Tomar. Nessa altura ter um carro era um luxo.Já havia bastantes carros. Mas quem os tinha ainda eram os mais ricos. Como o concelho era grande havia trabalho para as oficinas irem vivendo. Como eram as estradas?Eram estradas estreitas, más. Ir a Leiria demorava-se mais de uma hora, hoje faz-se o caminho em 15 minutos.Qual foi o seu primeiro carro?Foi um Morris 8. Era um carro que tinha uma bomba eléctrica e um dia estava a repará-lo em casa e tirei o tubo da gasolina. Um dos meus filhos deu à chave, a bomba começou a trabalhar e entornou a gasolina toda para o chão. * Entrevista completa na edição semanal de O MIRANTE.

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