Entrevista | 08-12-2016 01:08

"Houve má gestão na Câmara do Cartaxo"

"Houve má gestão na Câmara do Cartaxo"
ENTREVISTA

Fernando Amorim é vice-presidente de um dos municípios mais endividados do país.

Fernando Amorim é vice-presidente da Câmara do Cartaxo desde 2013. Entrou numa altura em que o município estava à beira da bancarrota e houve momentos em que esteve em causa o pagamento dos vencimentos dos funcionários. Até ao final do mandato gostava de arranjar as estradas do concelho mas afirma que é algo complicado uma vez que não há dinheiro. Uma entrevista a O MIRANTE em vésperas do fecho das comemorações do bicentenário da criação do concelho do Cartaxo.

Que balanço faz deste mandato na Câmara do Cartaxo?

Da forma como encontrámos o município, com as complicadas questões financeiras, os processos de contencioso, a desorganização interna, e como está tudo actualmente, penso que o balanço é bastante positivo. Hoje os nossos dias já não têm tantas surpresas como tínhamos há três anos. Já não andamos com o coração nas mãos.

Como é que se governa uma das câmaras mais endividadas do país?

Com muito trabalho e uma excelente equipa. Os três elementos da maioria, com muito trabalho, muita dedicação e persistência têm resolvido os problemas. A única forma de ter sucesso, seja onde for, é pelo trabalho.

Tinha noção da real dimensão da situação em que se encontrava a câmara quando chegou em 2013?

Os problemas financeiros eram conhecidos mas antes de entrar na câmara não tive acesso a nenhum processo. Tinha apenas as informações que o presidente Pedro Ribeiro nos comunicava. Quando cá cheguei chovia no interior da câmara, andei a arredar computadores e mesas por causa da chuva. Aí comecei a assustar-me e pensei "onde é que me vim meter?".

Se soubesse o que sabe hoje tinha-se metido numa câmara cheia de problemas?

Gosto de desafios e tem sido um grande desafio. Quando entramos neste tipo de projectos começamos do zero. Aqui começamos em valores negativos. Continua a ser um desafio. Estou na política porque gosto, apesar de também gostar muito da minha actividade profissional.

Dá-lhe prazer ter melhorado a situação financeira da câmara municipal?

Dá muito prazer não estar preocupado com o pagamento à Rodoviária, por exemplo, ou com o pagamento dos salários dos funcionários, que foi algo que me preocupou muito quando cá cheguei.

O pagamento dos salários aos funcionários esteve em risco?

Durante três meses esteve em risco. O dinheiro que recebemos das transferências do Estado não chega para pagarmos os salários. Foi uma aflição.

Como é que o têm conseguido fazer?

Fomos a todas as obrigações e tentamos negociá-las. Passamos também por um maior controlo na aquisição de bens e serviços. Há um controlo rigoroso. Deixamos praticamente de ter stock. Compramos apenas o que é necessário. Existe uma maior preocupação de todos naquilo que utilizamos. E cortamos também em muitas gorduras.

O PAEL (Programa de Apoio à Economia Local) ajudou a equilibrar as contas?

O PAEL veio permitir reestruturar a nossa dívida. Tínhamos encargos com juros de mora de cerca de um milhão de euros por ano e agora já não temos que nos preocupar com os juros de mora, o que permite criar alguma folga financeira para criarmos uma tesouraria e conseguirmos gerir melhor o município. A dívida mantém-se mas conseguimos equilibrar as contas. Se não fosse o PAEL seria difícil fugir da bancarrota. Mas é um processo moroso, que vai demorar cerca de 30 anos para recuperar e os principais prejudicados vão ser os munícipes.

Os políticos devem ser responsabilizados criminalmente por má gestão?

Qualquer empresário que não cumpre com as obrigações fiscais ou que, por negligência, leve uma firma à falência, cause dívidas a tudo e a todos, o seu património responde por essas dívidas. Porque é que os políticos não estão nesse mesmo patamar? Cada político devia ser avaliado durante o tempo em que está no exercício do poder.

Houve gestão danosa na Câmara do Cartaxo?

Danosa não sei, mas houve má gestão. Não foram acauteladas as receitas necessárias para o nível de despesa que estavam a fazer e isso é má gestão. Não podemos gastar mais do que ganhamos por mês. Não podemos ter receitas de 13 milhões e estar a submeter compromissos no valor de 30 milhões, que era o que acontecia.

* Notícia completa na edição semanal de O MIRANTE.

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