O MIRANTE dos Leitores | 23-03-2024 12:00

Estamos a desperdiçar o potencial?

Fazer um curso por “amor” quando se antevê uma fraca empregabilidade só mesmo para os bons.

Fazer um curso por “amor” quando se antevê uma fraca empregabilidade só mesmo para os bons. O jovem que quer ser engenheiro porque gosta muito de som, mas que não gosta de matemática, está no caminho errado. E este não é um exemplo extremo. Na Suíça, famosa pelo fabrico de relógios, há falta de técnicos relojoeiros. Vale-lhes a portuguesa escola de relojoaria. E porquê? Porque na década de 60, graças ao impulso dinamizador do suíço Jean-Pierre Delay e do seu colaborador Mestre Américo Henriques, a Escola de Relojoaria da Casa Pia de Lisboa formou centenas de relojoeiros e técnicos de relojoaria.
Mas a falta destes técnicos não é caso único. Se passar na zona da Marinha Grande, fora dos percursos principais, vai encontrar anúncios a pedir “operadores CNC”.
Mas pior: a grande indústria da manutenção automóvel, que nunca percebeu verdadeiramente o que é uma viatura nascida depois dos anos 90, que tem vivido de habilidosos, está hoje com oficinas cheias de viaturas eléctricas por falta de mão-de-obra. A esfarrapada desculpa é: “pois, mas isso é uma especialidade”, quando na realidade o que se passa é que as escolas não reagiram atempadamente à necessidade que deviam ter antecipado.
E a situação agravou-se com a globalização. Hoje Portugal está em enorme dependência de Espanha. Desde a cadeia de abastecimento aos centros de decisão, estamos a transformar o que foi um erro estratégico num erro sistémico.
Quanto ao ensino, e isso foi dito, escrito e realçado durante um congresso realizado em Lisboa no passado mês de Setembro, que juntou mais de 800 técnicos e cientistas dos mais desenvolvidos países e das maiores tecnológicas mundiais. O estreitamento do ensino, levando os jovens massivamente para cursos ligados à programação e informática, quando da previsão à realidade tudo aponta para a necessidade urgente nas engenharias.
Na agricultura, desde a locomoção à colheita já todos os sistemas recorrem à automação, mas também o controlo ambiental das estufas ou a gestão dos aviários vivem já de sofisticados sistemas de automação de funções e gestão computorizada, onde a instalação é simples, mas a manutenção complexa e exigente de saberes.
Sobre estas matérias já deficitárias em recursos humanos, que cursos foram introduzidos nas nossas escolas e institutos para suprir a falta? Que potencial estamos a desperdiçar?
Rui Figueiredo Jacinto

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