Saúde | 19-04-2006 09:59

Quando dormir é um perigo

Se estiver a conversar com alguém e essa pessoa de repente adormecer, isso nem sempre quer dizer que a conversa seja entediante. O motivo da sonolência diurna pode estar relacionado com uma doença que é quase tão prevalente na sociedade como a asma. Chama-se apneia do sono e pode ser tratada no Hospital de Santarém, onde existe uma consulta específica para esta patologia, que afecta mais os homens. No ano passado o médico responsável pela consulta de apneia do sono, no serviço de pneumologia, realizou 693 consultas. Em cerca de um terço dessas consultas foram atendidos novos pacientes o que não significa que a doença esteja a aumentar. No entender do doutor João Roque Dias o que se passa é que as pessoas começam a dar mais atenção aos problemas do sono pondo de lado antigas ideias que ligavam a sonolência e outros sintomas a formas de ser mais pachorrentas.Esta enfermidade que faz parte de um conjunto de 84 doenças do sono, onde se inclui a conhecida insónia, só há pouco tempo começou a ser estudada e tratada. Até 1984 era pouco conhecida, lembra João Roque Dias. E em Portugal só em 1990 é que a mesma passou a ser mais conhecida e divulgada com a entrada em funções de um serviço próprio no Hospital de Santa Maria em Lisboa. Os utentes do serviço de Santarém chegam através dos médicos de família que estão devidamente alertados para a sintomatologia. A doença pode ter consequências graves. Há quem adormeça ao volante, por exemplo, colocando a sua vida e a dos outros em perigo. Na primeira consulta, mesmo antes de ter na sua posse os resultados dos testes, o médico pneumologista aconselha os pacientes a não pegarem no carro por medida de prevenção. Muitos doentes que aparecem na consulta do Hospital de Santarém têm roncopatia (ressonar alto), uma situação que, geralmente, está associada à apneia do sono. O médico recorda que uma vez consultou um camionista de longo curso que ressonava tão alto quando estava a dormir dentro do camião nos parques de descanso, que os outros colegas se viam obrigados a bater-lhe nos vidros da cabine a fim de o acordar. O barulho era bem mais incomodativo que o do motor do próprio veículo.Desde 1997, ano em que abriu a consulta no Hospital de Santarém, João Roque Dias já recebeu milhares de doentes com as mais variadas queixas. Algumas situações relacionadas com o problema têm o seu lado caricato mas são bastante perigosas. Como a de um homem que costumava ir à pesca e geralmente caía à água porque adormecia. Ou a do paciente que circulava nas auto-estradas sempre na faixa da esquerda, junto aos rails de protecção porque, segundo dizia, se adormecesse o carro batia nas placas metálicas e ele despertava de imediato. A apneia do sono pode estar relacionada com outras patologias, como a rinite, ou com estilo de vida (ver caixa). Ocorre devido a paragens respiratórias. Todos podemos durante o sono parar momentaneamente de respirar cinco vezes por hora. Tudo o que for além disso já configura uma síndrome de apneia. Há pessoas que fazem 20, 40, 80 paragens respiratórias sem que tenham noção disso. A partir de dez segundos de paragem começa a apneia e há casos que estas demoram mais de um minuto. É este sono sobressaltado, esta falta de descanso, que leva à sonolência diurna. Quando a pessoa volta a respirar o coração bate mais rápido, a tensão arterial sobe, o que representa também um risco, sobretudo para as pessoas que têm problemas cardiovasculares. É também por isso que alguns doentes têm que dormir com uma bomba de ar, que impede o colapso das vias aéreas superiores.

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