ESPECIAL S.Martinho | 02-11-2005 11:20

A manta que custou uma fortuna

A manta que custou uma fortuna

Maria Clementina Cachado, 91 anos, é uma goleganense de gema. “Nascida, baptizada, casada e aqui hei-de ficar para a terra me comer”. Tem recordações da antiga Feira de São Martinho, que na sua opinião já não existe. “Agora é a feira só para os ricos”.

Para Maria Clementina, antigamente a Feira de São Martinho era uma feira popular. “Ainda me recordo de ser apenas na praça da igreja, e o circo era em frente da boca do Salvador”, diz com emoção. Emoção porque, como diz, as jovens da Golegã desse tempo estavam sempre à espera do último dia de actuação do circo para irem assistir ao espectáculo.“Só íamos uma vez por ano ao circo e era no dia em que eles faziam o bilhete para dama e cavalheiro. Era mais barato e nós aproveitávamos”, diz acrescentando com um sorriso nos lábios: “Não era para irmos com os namorados, íamos com os pais, porque a minha mãe não nos deixava andar com o namorado”, diz com um sorriso maroto.Eram outros tempos e Maria Cachado garante que, se não fosse a miséria que havia, ainda eram recordados com saudade. A Feira de São Martinho era muito diferente do que é hoje. E mesmo dizendo que as coisas estão melhores, recorda que “não havia cavalos todos os dias, era só no dia de São Martinho e eram poucos”.Para Maria Cachado nos outros tempos a feira era mais dos goleganenses. “Hoje é só dos ricos, os pobres coitados não matam cá o bicho”. Antigamente era a feira da castanha assada e da água-pé. “Hoje ainda há, mas não tem a mesma graça de antigamente”.A feira é numa época de fim de searas e, noutros tempos, os pobres conseguiam ter algum dinheiro para comprar uma manta lobeira, um bocado de chita para um vestido ou uma peça de fazenda para uma saia. “Uma vez, já era casada, comprei uma manta muito bonita, custou na altura quatrocentos e cinquenta escudos. Quando vinha para casa passou por mim um senhor muito rico da Golegã, ficou admirado por eu trazer a manta e perguntou-me quanto é que ela tinha custado. Eu disse-lhe e ficou admirado por eu ter dinheiro para aquilo. Ainda hoje a tenho para me tapar no Inverno”, diz a rir Maria Cachado.

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