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O médico que cresceu no movimento do Neo-Realismo

Como é que aparece ligado ao movimento literário do Neo-Realismo…Ainda antes do Neo-Realismo existiu um outro movimento importante que era a Mocidade Esperançosa e no qual estive com o Alves Redol. Era um grupo de filhos de pessoas com um certo nível económico e social e com possibilidades de estudarem. O Alves Redol era um companheiro muito próximo?Eu era muito amigo dele, éramos quase família. Os pais de Redol foram padrinhos de baptismo da minha irmã. O meu pai projectou a casa dos pais dele na esquina da Avenida dos Combatentes da Grande Guerra com a, agora, Rua Alves Redol.Para além de escritor, Redol era um homem inteligente e com sentido humanitário?Era uma pessoa notável. Grande criador, artista (pintor e escultor) e com uma dimensão humana elevada. Estava avançado no tempo.Tal como o pai do doutor Arquimedes…O meu pai foi um homem extraordinário e muito avançado no tempo. Foi um engenheiro civil que projectou e construiu muitas casas em Vila Franca e em vários pontos do país. Projectou também o Café Central.O Café Central é um espaço muito associado ao movimento cultural de Vila Franca. Foi aí que o senhor se iniciou?A minha ligação aos movimentos juvenis começa mais cedo, aos 15 anos, com o recrutamento para a Mocidade Portuguesa com vários amigos de Vila Franca. Fui dos primeiros graduados, fui comandante de Castelo, em 1937. Acabei por ser expulso mais tarde porque não aceitei integrar as milícias com armas.O seu grupo de amigos tinha uma enorme vocação cultural e organizou iniciativas que ainda hoje são recordadas…O Alves Redol tinha muita iniciativa e começou a organizar as excursões com visitas guiadas aos museus de Lisboa onde um técnico nos orientava e explicava o que víamos. Isso marcou muito a vida cultural de Vila Franca.E a sua vida política. …Eu nasci numa família Republicana.Na minha casa falava-se de política e muito cedo, aos 15 anos, tive curiosidade de ler sobre os grandes pensadores. Algum tempo depois surge a consciencialização das implicações da Guerra de Espanha.Comecei a ler e a estudar o pensamento Marxista e, em Julho 1941, liguei-me à Juventude Comunista Portuguesa. Os passeios de Redol no Tejo também influenciaram a sua juventude?Fizemos muitos passeios com o Álvaro Cunhal, o Bento de Jesus Caraça e outros grandes intelectuais. Sabe, numa altura em que o PCP estava a reorganizar-se, era perigoso falar-se em qualquer local. O barco no Tejo era mais seguro porque falávamos à vontade e ninguém nos ouvia. Mas também fazíamos outras coisas: recitais, palestras, colóquios e teatro.Nunca teve medo de serem apanhados no barco?Nessa idade não tínhamos medo de nada. Nem pensávamos nisso. O que pensa da escultura de Redol em Vila Franca?Não faço considerações críticas da arte em público porque não tenho dimensão para o fazer. Tenho muita gratidão por todos os artistas. Tenho a minha opinião, mas não quero transmiti-la.

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