Cavalos água-pé e cultura

A Golegã ostenta o título de “capital do cavalo” e atrai milhares de visitantes anualmente, pelo S. Martinho, por causa do nobre animal mas muitos habitantes nunca experimentaram a sensação de montar. A água-pé, outro elemento identificativo da terra, é consumida mas há quem prefira outros néctares mais consistentes. No capítulo da cultura as obras do Mestre Martins Correia, natural da Golegã e já falecido, estão em exposição permanente no edifício equuspolis, mas são poucos os que as visitam.

Andar a cavalo não é saber montar a cavaloJoão Martinho, 52 anos, Golegã, ComercianteJoão Martinho foi moço forcado nos grupos da Golegã, Azambuja e Lusitanos, mas nunca aprendeu a montar um cavalo. Já andou a cavalo, mas como o próprio explica, montar e andar não são a mesma coisa. “Para montar a cavalo é preciso saber e ter lições e andar a cavalo é estarmos em cima do animal e darmos uma voltinhas. Por isso digo que nunca montei”, explica. O comerciante é apreciador de um bom vinho que gosta de beber às refeições, mas nesta altura do ano também gosta de beber a tradicional água-pé. Sempre que dispõe de tempo livre gosta de visitar a feira com a família e rever os amigos. Para João Martinho a Feira da Golegã é o ponto mais alto do concelho e que dá visibilidade nacional e internacional à capital do cavalo.João Martinho já visitou o Museu Martins Correia, situado no equuspolis, e destaca este como outro ponto importante na divulgação da cultura goleganense. Numa terra que considera acolhedora, João Martinho lamenta a falta de emprego no concelho. “Com mais empresas criávamos mais postos de trabalho o que ajudava no desenvolvimento do concelho”, conclui.“Com tanto trabalho nem tempo tenho para ir ver a feira”Maria do Céu Gonçalves, 44 anos, funcionária de restaurante, GolegãApesar de gostar muito do ambiente que se vive na Golegã durante a Feira de São Martinho, Maria do Céu Gonçalves não tem o hábito de visitar a feira. Funcionária do restaurante Cú da Mula, no centro da vila ribatejana, Maria do Céu diz que esta é a época do ano em que o trabalho aumenta significativamente. Na sua opinião, os cavalos e o convívio com as pessoas são o melhor da feira que considera ser uma tradição reconhecida internacionalmente.A viver na capital do cavalo há cerca de 30 anos, Maria do Céu Gonçalves confessa que foi nas Caldas da Rainha que experimentou andar de charrete. “Costumo dizer a brincar que tenho os cavalos praticamente à porta de casa e foi nas Caldas que andei de cavalo”, conta. Mas passear de cavalo só mesmo numa charrete. “Tenho medo de cavalos”, confessa.Água-pé é a sua bebida de eleição sobretudo nesta altura do ano. Em relação ao Museu Martins Correia, Maria do Céu chegou a visitá-lo quando este ainda funcionava junto à igreja da vila. Desde que passou para o Equuspolis ainda não teve oportunidade de conhecer o espaço. A funcionária de restaurante gosta do sossego e da terra que escolheu para viver garantindo que não a trocava por outra.“Só andei de burro e parti um braço”Jacinta Coelho, 80 anos, Santarém, ComercianteJacinta Coelho é proprietária da chapelaria mais procurada pelos visitantes durante a Feira de São Martinho na Golegã. Natural de Portalegre, mas a viver em Santarém há muitos anos, Jacinta Coelho possui a Chapelaria Coelho há oito anos. A comerciante confessa que a Feira da Golegã vale pelo resto do ano. “Aguento o negócio todo o ano por causa das vendas durante a Feira de São Martinho”, explica.Apreciadora de vinhos de qualidade, Jacinta Coelho conta que bebe diariamente um pequeno copo de vinho à refeição. A comerciante nunca se aventurou a andar a cavalo embora goste muito de apreciar estes animais. “Quando era pequena andei várias vezes de burro na minha terra. Mas depois parti um braço numa queda de burro e ganhei medo”, conta.Jacinta Coelho garante que se fosse mais nova fazia questão de aprender equitação, danças de salão e patinagem artística. Lamenta o facto de ainda não conhecer o Museu Martins Correia até porque conheceu o artista que foi seu cliente. Na sua opinião, a Golegã é uma terra que está bem desenvolvida e à qual não falta nada. “Tem muita qualidade de vida”, diz. “O Museu Martins Correia é bonito por fora mas nunca lá entrei”Silvino Sousa, 57 anos, Golegã, Proprietário de RestauranteProprietário do restaurante “A Tijela”, Silvino Sousa confessa ser muito raro visitar a Feira da Golegã uma vez que são dias de maior trabalho, sendo o dia de São Martinho um dos melhores do ano para o seu restaurante. Natural de Trás-os-Montes, Silvino Sousa andou muitas vezes de burro mas nunca se aventurou a montar na garupa de um cavalo. “Na minha terra só havia burros por isso nunca experimentei andar de cavalo. Depois comecei a trabalhar e perdi a oportunidade.Entre um vinho e uma água-pé Silvino Sousa opta por um bom vinho, mas diz que se a água-pé for de confiança também gosta de saborear. O empresário da restauração nunca teve oportunidade de visitar o Museu Martins Correia, mas pelo que viu diz que a parte exterior e toda a zona envolvente está “muito bonito”. “A autarquia tem-se empenhado em dar a conhecer tudo o que o concelho tem de melhor e as personalidades da região que mais se destacaram”, afirma.Para Silvino Sequeira, o executivo municipal devia apostar na criação de mais indústria no concelho criando mais emprego. O que “prenderia” mais jovens à sua terra.“Em vez da água-pé bebo uma ginjinha ou um abafado”Rita Carrilho, 28 anos, Mediadora Imobiliária, RiachosRita Carrilho faz questão de visitar a Feira da Golegã todos os anos. Vai com a família comprar castanhas e mostrar os cavalos à filha de 18 meses. A mediadora imobiliária tem a percepção que esta é a melhor semana do ano no concelho e arredores uma vez que os arrendamentos de casas disparam significativamente. Apesar de ter amigos que possuem cavalos, Rita nunca experimentou montar um. “Nunca surgiu a oportunidade”, diz. A mediadora imobiliária confessa não ser muito apreciadora de bebidas alcoólicas. Por isso, quando vai à feira prefere deliciar-se com um pão com chouriço, uma fartura ou castanhas. Mas não dispensa o abafadinho ou a ginjinha que se vendem nas ruas.Rita Carrilho diz ser uma falha grave ainda não conhecer o Museu Martins Correia e aproveita para deixar o alerta. “A Golegã só se foca no cavalo e na Feira de São Martinho esquecendo-se um pouco o rico património que possuem”, diz acrescentando que falta espaços de lazer para sair à noite e mais postos de trabalho.

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