Retrospectiva 2009 | 04-02-2010 10:13

“Falta-me sempre fazer mais e mais pela festa dos toiros”

“Falta-me sempre fazer mais e mais pela festa dos toiros”
Tem que fazer muito exercício para se manter em forma para tourear?Durante o dia faço muita ginástica. Só a montar a cavalo são cerca de seis horas por dia. Ainda não é o exercício físico que devia fazer e tenho alguns quilos a mais mas tento estar bem preparado.Já pensou fazer dieta?Já experimentei milhares de dietas. No Inverno engorda-se sempre um pouco e depois há que fazer tudo para estar em forma no Verão. Deve ser dos poucos toureiros licenciados e dos raros que exerce uma profissão que não está ligada à tauromaquia. Isso traz-lhe alguma vantagem enquanto toureiro?É sempre uma mais valia estudarmos e adquirirmos conhecimentos, seja em que área for. Mas foi uma complicação imensa conseguir conjugar os horários das aulas com as horas de treino. É toureiro, organiza eventos, empresário tauromáquico, arquitecto e agricultor. Como é que arranja tempo para isto tudo?Não tenho tempo para uma coisa que queria, que é ser pai. A família é a que acaba por pagar e isso pesa-me na consciência. Vejo os meus filhos crescerem e tenho medo de não conseguir acompanhar as várias etapas que se vão sucedendo, lembrando-me que para mim foi importante ter os meus pais ao lado em muitos momentos. De resto, é uma questão de gerir o tempo. Quem corre por gosto não cansa. E tenho a sorte na vida de fazer muita coisa que gosto, o que torna tudo mais fácil. E para hobbies? Tem tempo para isso?Gosto de coleccionar carros antigos. Tenho uns 23 carros puxados a cavalo, dois estão a ser recuperados. Esta colecção começou com o meu pai. Depois passei a coleccionar carros a motor. Quando há eventos na quinta costumo mostrar a colecção. Já pensou no dia em que terá que abandonar a actividade de cavaleiro tauromáquico?Penso muitas vezes. O equilíbrio e constância que temos de mostrar dentro da praça para continuarmos a ser figuras de relevo no meio taurino dependem de nós próprios e do cavalo. Enquanto conseguirmos ter bons cavalos continuamos a ser figuras de destaque. Como não me sinto neste momento inferiorizado em relação às minhas capacidades físicas, dependo única e exclusivamente do cavalo. Como gostaria de sair?Gostaria sobretudo de ter o bom senso de perceber quando é o momento exacto para me ir embora. Quando era miúdo brincava muito? Como eram as suas brincadeiras? No dia em que decidi que queria ser cavaleiro tauromáquico estava com o Gustavo Zenkl, um cavaleiro austríaco que conseguiu ser figura no nosso mundo e que foi a pessoa que de princípio me ajudou e me amparou mais. Ele foi um refugiado da segunda guerra mundial que foi recebido pela família Infante da Câmara em Vale de Figueira (Santarém). Nesse dia tinha ido lá, com os meus pais, treinar. Quando lhes comuniquei a minha decisão, o meu pai avisou-me que a partir dali tinha que abdicar de muita coisa. Que jogaria menos futebol, que ia ter menos tempo para brincar. E eu, com as lágrimas nos olhos, olhei para o meu pai e perguntei-lhe: “Mas posso andar às vezes de bicicleta?” O que lhe falta fazer? Falta-me sempre fazer mais e mais pela festa dos toiros que é uma tradição secular em Portugal e que tem sido mal apoiada pelo Governo e mal compreendida por algumas pessoas. Receio que os meus filhos não consigam explicar aos meus netos o que nós fomos, não só na tauromaquia mas como portugueses. Que não lhes consigam explicar a nossa história e cultura.O toureiro que desenha as suas próprias casacasAos 45 anos, Rui Salvador sente que ainda tem muito para dar à tauromaquia nacional. Cavaleiro que tem sabido manter-se como figura de destaque da tauromaquia, Salvador completou em 2009 os seus 25 anos de alternativa. É uma pessoa que não esquece quem o ajuda, nomeadamente os amigos com quem aprendeu e aprende. Tem no coração figuras da festa brava como José Mestre Baptista, João Moura e Gustavo Zenkl. Natural de Lisboa onde nasceu a 1 de Janeiro de 1965, cedo se habituou a caminhar para Tomar onde os pais tinham uma quinta. Começou como cavaleiro aos 11 anos, apresentando-se em público na praca de Vila Nova da Barquinha. Fez a prova de cavaleiro praticante em 19 de Abril de 1981, em Tomar. E três anos depois, a 9 de Agosto de 1984 entrou na arena do Campo Pequeno (Lisboa) para a cerimónia de alternativa. Levanta-se diariamente por volta das nove da manhã e gosta de se deitar tarde. Durante o dia anda pela Quinta do Falcão com botas de montar e roupa de trabalho. Aproveita as noites para pôr os papéis em ordem no escritório porque é quando está sozinho e mais concentrado. Viaja frequentemente entre Lisboa, onde a mulher trabalha como gestora e onde estudam os filhos, e Tomar. Anda sempre com malas de roupa de um lado para o outro. Já esteve mais longe o desejo de fixar a família definitivamente em Tomar. Estudou em Lisboa no Liceu Francês, fez o primeiro ano do curso de Arquitectura no Porto e fez os restantes quatro em Lisboa, cidade que diz adorar. Com jeito para o desenho, ou não fosse arquitecto, é ele que desenha os seus trajes de cavaleiro que enverga quando entra em praça.Empenha-se com paixão na manutenção da praça de toiros de Tomar que tem o nome do seu pai, José Salvador, e cumpre religiosamente a tradição de organizar anualmente a corrida do emigrante. E agora está empenhado em criar a primeira escola de toureio a cavalo no país, projecto que iniciou no ano passado.

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