Retrospectiva 2009 | 04-02-2010 10:20

“Se não estivermos bem não vamos conseguir fazer bem aos outros”

A Associação que fundou e dirige, dedica-se a ensinar uma arte marcial e tem sucessos desportivos, mas curiosamente acaba por ficar conhecida por uma ligação a um acto de solidariedade.O Shorinji Kempo é uma técnica de defesa pessoal oriunda do Japão mas assenta numa filosofia muito própria que é unir os povos em torno da paz, melhorando o mundo.Como é que se muda o mundo no interior de um ginásio?A primeira regra para ajudar os outros é fortalecermo-nos a nós próprios. Se não estivermos bem não vamos conseguir fazer bem aos outros.Construir e mobilar uma casa para uma família carenciada foi um teste à forma como estavam a interiorizar a filosofia em que assenta o Shorinji Kempo.Podemos não conseguir mudar o mundo na sua totalidade mas podemos ir mudando o nosso próprio mundo e o daqueles que vivem perto de nós. Se conseguirmos que essas pessoas se sintam satisfeitas cria-se um ambiente que é bom para todos e também para o desenvolvimento da sociedade.A mãe das crianças pediu-lhe ajuda quando lhe tiraram os filhos e os levaram para um Centro de Acolhimento longe de Foros de Salvaterra?Ninguém nos pediu ajuda. Nós é que reagimos a uma situação de extrema injustiça. Conhecíamos a família e as crianças e sabíamos que as acusações eram, e são, infundadas. Mexeram com crianças que frequentavam a Associação e tínhamos conhecimento que não havia perspectivas de solução para o caso uma vez que o casal não tinha bens materiais e financeiros para arranjar uma casa em condições. Por isso decidimos agir. Durante um ano membros da Associação juntamente com outros voluntários deram o melhor de si para construir uma nova habitação que permitisse o regresso da Tatiana, do Filipe e da Soraia. Esperava a resposta que teve?Tinha esperança mas nunca tinha visto uma onda de solidariedade tão grande da sociedade civil em torno de uma família. Espero que a técnica responsável pelo acompanhamento desta família deixe de ver este caso como uma guerra pessoal e reavalie as suas decisões.O Shorinji Kempo começou a ser conhecido também pela sua vertente humanitária e não apenas pela vertente desportiva. Têm recebido pedidos de ajuda?Sim, isso tem acontecido. Alguns são casos de pobreza extrema. Vamos tentando ajudar como podemos. Mas confesso que temos muito receio de encaminhar as pessoas para a Segurança Social e CPCJ de Salvaterra de Magos porque, pela experiência que temos, as consequências não serão boas. É um risco as pessoas procurarem os organismos que tratam de crianças de risco neste concelho.Que reflexos teve o Shorinji Kempo na sua vida?Veio encaixar-se de forma perfeita na minha vida. O Shorinji moldou a minha personalidade dentro daquilo em que eu acreditava mas com alguma sistematização. Permite-me ver o mundo de forma mais defendida, os pensamentos utópicos de querer um dia mudar o mundo que eu tinha são agora mais racionais porque não se pode remeter essa responsabilidade no além. As pessoas são as únicas responsáveis para conseguir mudar o mundo, é nelas que acredito. E para isso é preciso agir.Em criança gostava de ver os filmes de artes marciais?Os filmes de karaté ou kung-fu apareceram nos anos 70. Eram diferentes e atraíam-me. Gostava muito de ver o Bruce Lee apesar daquilo ser mais encenação do que outra coisa. Dos filmes mais recentes, gosto muito do Jackie Chan. Tem muita piada.É inspector da Polícia Judiciária (PJ). Alguma vez teve que utilizar as técnicas do Shorinji Kempo na sua profissão?Utilizei muitas vezes. As técnicas eram excelentes na minha actividade profissional porque eu, sem aleijar ninguém, resolvia algumas situações.(Entrevista com o Mestre Jorge Monteiro)* Parte da entrevista é retirada de uma outra publicada em 12/11/2009Uma modalidade que era vista com desconfiançaA principal filosofia do Shorinji Kempo, uma técnica de defesa pessoal nascida no Japão, é unir os povos em torno da paz melhorando o mundo. A Associação de Shorinji Kempo de Foros de Salvaterra, concelho de Salvaterra de Magos, passou a um nível superior daquela arte marcial ao construir uma casa para que uma mãe pudesse voltar a ter consigo os três filhos menores que lhe haviam sido retirados por falta de condições de habitabilidade. Infelizmente, até agora, os princípios do Shorinji Kempo, ainda não foram absorvidos por quem decide e as crianças continuam à guarda do Estado. Criada há cerca de sete anos e dirigida por Jorge Monteiro, a associação tem quatro escolas no concelho de Salvaterra de Magos, frequentadas por 70 alunos com idades compreendidas entre os seis e os 15 anos e uma classe adulta. O Mestre que fundou e dirige a Associação é Jorge Monteiro. Nasceu a 30 de Agosto de 1958 em Lisboa, vive em Foros de Salvaterra há cerca de 12 anos. Interessou-se pelo Shorinji Kempo aos 19 anos depois de praticar judo, karaté e boxe. Inspector da Polícia Judiciária, Jorge Monteiro conta que, quando começou a expandir a modalidade na sua zona de residência, era olhado com desconfiança porque as pessoas não sabiam o que era e o nome também não ajudava.Nem o nome nem o símbolo utilizado, o Manji, que tem algumas parecenças com a cruz suástica. O próprio confessa que, sendo um defensor dos direitos humanos e por uma sociedade mais justa, teve alguma dificuldade em habituar-se.O objectivo da Associação é expandir o Shorinji Kempo no concelho de Salvaterra de Magos dando prioridade às freguesias mais desfavorecidas em actividades destinadas a crianças e jovens.

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