Especial 25 de Abril | 21-04-2010 17:16

Não tolerar os intolerantes

Sou daqueles que nasceram antes do 25 de Abril, mas que não “viveram” antes da revolução. Eu e “ela” somos quase da mesma idade. Sou por isso daqueles que viveram e se construíram em democracia, que apreenderam o seu modelo, que acreditaram enquanto cresciam nas suas virtudes. Abril conferiu-nos imensos direitos. O direito à liberdade de expressão, à livre opinião. O direito de contestar, de exigir. O direito de protestar, de concordar e de discordar. O direito de achar bem ou achar mal. O direito de não sermos oprimidos pelas convicções individuais que temos e que manifestamos. O direito à diferença.O idealismo de Abril, no que concerne às liberdades, é hoje intrínseco à sociedade portuguesa, numa fase plena de consolidação e maturação do processo democrático. Hoje esses direitos são legítimos, normais e banais até, para quem só “viveu” no pós- 25 de Abril. São um património inalienável que é nosso. De todos nós.Abril aconteceu há 36 anos. Preservar e defender essa memória é um acto de justiça, em especial para todos os que intervieram para que pudéssemos hoje usufruir desse indelével “privilégio”.Porém, olhar hoje Abril a esta distância, aconselha a um acto de reflexão e adequação do nosso posicionamento face às idiossincrasias da sociedade contemporânea. É pois premente recordarmos o conceito de liberdade e destrinçá-lo com clareza do conceito de libertinagem. E é hora de exercermos quotidianamente o verdadeiro poder que nos foi conferido enquanto cidadãos de pleno direito democrático, em vez de nos refastelarmos comodamente a cobrar dos outros. E podemos todos fazê-lo das mais diversas formas, intervindo activamente nas nossas comunidades, ajudando e contribuindo para modelarmos uma sociedade mais justa e mais solidária, mais rica portanto sob o ponto de vista da intervenção individual. Mas é hora sobretudo de que em Portugal se insista também no conceito do dever. O dever do respeito pelo direito à diferença. O dever da compreensão pela divergência. O dever da não opressão dos que não comungam das mesmas convicções. O dever de aceitar os que não concordam, os que pensam de outra forma. É hora de perceber que liberdade também é o dever de reconhecer o direito à mesma, porque se o regime de liberdades pode tolerar quase tudo não pode ainda assim tolerar os intolerantes.*Engenheiro Técnico Civil

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