28º Aniversário | 18-11-2015 11:32

“A liberdade está dentro de nós”

Fale-nos da sua vida de empresário e da forma como chegou a este negócio? No início do ano de 2012 decidi abrir uma escola de línguas. Inicialmente pensei fazê-lo em Lisboa, porque julgava que o mercado na cidade de Santarém estaria saturado. Durante a fase de busca de informação e de instalações soube que haveria uma oportunidade para entrar no mercado em Santarém. De imediato mudei o plano de negócio e implementei-o aqui na cidade onde resido há 25 anos.A minha experiência como empresário é ainda pequena, mas gostaria de destacar a credibilidade, o rigor e a liderança que me advém dos quase 30 anos como oficial do Exército e dos 10 anos como professor de ensino superior.A SLI tem usado a marca “Escola Internacional de Línguas” possuidora de elevada credibilidade que ultrapassa os limites regionais. Por isso obviamente seguiremos a filosofia que a marca encerra. Ao fim três anos de vida com resultados positivos de parece-me que deveremos continuar e aprofundar a estratégia que definimos em 2012 para a nossa Escola.A família ajuda e é parte importante da estratégia empresarial? No nosso caso a família é essencial em três aspectos. Em primeiro lugar é o que nos faz mover para traçar objectivos ambiciosos e atingi-los, em segundo lugar é o elemento fundamental de estabilidade que permite a concentração nos assuntos empresariais e, finalmente, a família está presente na estrutura societária e na direcção dos assuntos empresariais.Como classifica os recursos humanos disponíveis no mercado? Concordo com a afirmação da maioria das pessoas de que vivemos num tempo em que os recursos humanos disponíveis têm cada vez mais acesso a informação e têm cada vez mais formação profissional. Mas, infelizmente, o terem crescido com algum proteccionismo das famílias e do Estado leva a que sinta falta de resiliência e adaptabilidade para lidar com situações novas. Por outro lado, esta facilidade de acesso a grandes volumes de informação com enorme rapidez, e sozinhos (com o seu telemóvel, computador ou smartphone), veio reduzir a criatividade e a capacidade para trabalhar em grupo. Curiosamente, o mercado, percebendo isso, lançou as drop box, as clouds e afins… que mais não são do que formas de colmatar esta brecha e simular que se trabalha em grupo.Está preparado para tudo na sua vida de empresário? Com certeza! Sou um sobrevivente e uso o meu treino e a minha experiência militares para enfrentar situações adversas e dificuldades. O futuro está em frente e é lá que eu quero ser feliz. Comente a situação actual do país onde vive e da sua região em particular. O país vive uma situação de saída muito difícil. Por um lado temos um sistema político completamente desadequado da realidade actual que necessitaria de ser mudado. Sempre nos queixámos dos 48 anos de fascismo, mas vivemos agora há 41 anos num sistema, copiado da 4ª república francesa, desenhado para a revolução de 25 de Abril de 1974. No entanto, esse sistema já tinha sido considerado inadequado e substituído pela 5ª república francesa há mais de uma década, em 1958. Por isso considero que seria hora de mudar para um sistema em que o Presidente fosse executivo, à semelhança do que se passa na França, na Alemanha e nos Estados Unidos da América. A quantidade de ex-ministros e ex-presidentes da República que são pagos pelo Estado seriam mais que suficientes e adequados para constituírem uma câmara alta de senadores que ficasse titular dos poderes de arbitragem e supervisão do actual Presidente da República. Por outro lado, haveria que reduzir drasticamente a quantidade de deputados e de titulares de cargos públicos, bem como o número de membros dos seus gabinetes e demais mordomias. O financiamento das eleições deveria apenas ser possível no seu ciclo normal e dever-se-ia acabar com o financiamento público permanente dos partidos. Aos titulares de cargos públicos deveria estar vedado o acesso a cargos de direcção e assessoria em empresas públicas e privadas durante um período adequado (5 anos?), após o termo do seu cargo em funções públicas, para evitar o favorecimento e o uso de posição/informação privilegiada.Haveria que devolver as competências aos ministérios, que mantêm todos os seus quadros, muitos deles bastante competentes e acabar com os estudos e assessorias externas que quase duplicam os gastos públicos. Torna-se ainda necessário e urgente definir padrões mínimos de experiência técnica para os titulares de cargos públicos. O nível político tem que ser claramente definido, evitando a promiscuidade que muitas vezes se verifica, com nomeação de políticos para cargos técnicos para os quais não têm nem experiência nem formação adequadas.A região do Ribatejo beneficia da proximidade da capital e de todas as maiores infraestruturas de apoio e de acessibilidades de enorme qualidade e disponibilidade. Em conjunção com essas vantagens apresenta excelentes condições para a fixação de famílias jovens e muito elevada disponibilidade de mão-de-obra com excelente qualificação. A pertença à NUT II-Alentejo deveria permitir melhor acesso a fundos comunitários e uma actividade empreendedora muito mais activa. Apesar disso, a vitalidade da região deveria ser muito mais visível e mais significativa no quadro nacional, para obter alguma vantagem relativamente a regiões vizinhas.Viu algum filme do cineasta Manoel de Oliveira do princípio ao fim? Infelizmente não. Não sou cinéfilo. Lembro-me, no entanto, de alguns que vi quase completos. O que seria para si uma tragédia? Já provei o sabor amargo de importantes perdas prematuras. Mas, para mim, uma enorme tragédia seria perder uma filha. O que é bom é para se ver? Claro que sim. O que é bom e o que é bonito. Mas com regras. Acredito no princípio de que não devemos ferir a susceptibilidade dos outros em espaço público. Em espaço próprio devidamente referenciado, com certeza que o que é bom e bonito é para se ver!Fecha a água enquanto escova os dentes ou enquanto se ensaboa no banho? A preocupação ambiental está sempre presente na minha família. Por isso as torneiras de fecho rápido fazem parte do equipamento quer na escola quer na residência e uso-as para fechar enquanto escovo os dentes, me ensaboo ou me barbeio.Alguma vez assistiu a uma tourada ao vivo? Sim. Embora não seja aficionado, considero que a tourada é parte integrante da cultura da região onde nasci, cresci e vivo e acho que dificilmente se manteria a criação dos touros de lide se não fosse a tourada. Quem lhe contava histórias quando era criança? As histórias de criança, na aldeia, à volta da lareira eram contadas pela minha mãe. O meu avô também era um excelente contador de histórias. Nas safras agrícolas havia sempre algumas vizinhas que também contavam algumas boas histórias.O que gostava de fazer e não faz para não cair no ridículo? Gostaria de voltar a ser criança, com enorme simplicidade, a brincar muito e sem grandes preocupações.De quantas horas de sono precisa para acordar bem-disposto? Durante a minha vida sempre me habituei a dormir muito pouco e, muitas vezes, de forma repartida. Dormir pouco e quando possível. Por isso acordo sempre bem-disposto, mesmo se dormir pouco. Gosto, no entanto, de dormir sete ou oito horas.Alguma vez sentiu orgulho em ser cidadão europeu? Na verdade, neste aspecto, continuo a ter aquele sentimento de apego a Portugal. Acredito na Europa das Nações. Considero que esse possível orgulho de ser cidadão europeu serve mais a burocracia e os burocratas instalados confortavelmente em Bruxelas do que o cidadão comum.A Justiça é igual para todos? Claro que não! Veja-se os casos mais recentes. Alguns têm de passar o seu tempo na prisão, mesmo por crimes menores. Outros podem pagar cauções, optar por prisão domiciliária ou por outras medidas de coacção. Além disso uns podem pagar os melhores defensores. Outros nem a defensor oficioso têm, por vezes, acesso. Quando era criança sonhei com isso de justiça igual para todos. Mas depois cresci e caí no Mundo real…À mesa, de que lado do prato é que deve ser colocado o telemóvel ou smartphone? Pode ser colocado em qualquer lado, desde que esteja desligado, ou, no mínimo, em silêncio. É muito raro tomar uma refeição sozinho e incomoda-me as pessoas que passam o tempo na mesa mas sempre a usar os aparelhos eletrónicos de comunicação. Sabe algum refrão de uma cantiga do Quim Barreiros? Quim Barreiros e muitos outros cantores do género fazem parte da nossa cultura e independentemente de sermos ou não seus fãs somos bombardeados com essas músicas diariamente. Naturalmente que alguma coisa há-de ficar… Acabam por ser recordados alguns refrões um pouco maliciosos que ele usa nas suas canções e as músicas que nos fazem mexer.Ler jornais é saber mais? Com certeza! Mas não é apenas ler jornais. É ler jornais, ler revistas e ler livros que nos faz saber mais. Encontrar o mix perfeito é o segredo do sucesso na aprendizagem e no conhecimento.Sente-se livre? A liberdade está dentro de nós. Por isso sinto-me livre, com aquela liberdade que me vem do íntimo. Embora deva confessar que é uma liberdade condicionada pelas minhas escolhas pessoais. Alguma vez escreveu um poema? Escrever poemas, especialmente sonetos, faz parte dos meus hábitos em alturas de alegria ou de tristeza extremas.O que tem que fazer um homem para ser um verdadeiro homem? Não existe forma perfeita de definir um verdadeiro homem. Ao longo da minha vida conheci verdadeiros homens, alguns na simplicidade da vida da aldeia, outros na complexidade dos corredores do poder ou das lides universitárias. Para ser considerado um verdadeiro homem, ele deve ter marcado positivamente um grande número de pessoas que o rodeiam, através dos afectos, dos valores transmitidos, do conhecimento ou da obra efectuada.

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