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Uma oliveira milenar de Mouriscas pode estar a caminho de Londres como “Árvore da Aliança”

Uma oliveira milenar de Mouriscas pode estar a caminho de Londres como “Árvore da Aliança”

A ideia partiu de um vereador em Londres que tem raízes ribatejanas e visa evocar o tratado que desde 1373 une os dois países.

Pode muito bem ser uma realidade a curto prazo: uma oliveira milenar das Mouriscas ser transferida para Londres, replantada e passar a ornamentar uma praça da capital de Inglaterra, onde terá uma placa com a frase “A Árvore da Aliança”, numa evocação ao tratado que desde 1373 une Portugal àquele país. A ideia partiu de Guilherme Rosa, português com raízes em Tomar que é vereador em Londres pelo Partido Trabalhista.
Embora a oliveira do Mouchão, nas Mouriscas, no concelho de Abrantes, tenha 3350 anos, esta história começou há pouco mais de um, quando António Louro, Aristides Lopes e João Abreu criaram um grupo de cidadãos - que hoje já envolve cerca de 100 pessoas - dedicado a desbravar trilhos, no sentido de formar várias rotas turísticas na aldeia. Entre elas conta-se a Rota das Oliveiras Milenares.
Fizeram pesquisa, andaram no terreno e perceberam que naquela que outrora fora a Mata de Alfanzira, existiam muitas oliveiras com mais de dois mil anos, entre elas a do Mouchão classificada, na época, de interesse público pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) com 340 anos. “Ridículo”, observa António Louro, certo de que a oliveira seria “muito mais antiga que isso”.
Entre outros cálculos matemáticos, a datação das oliveiras envolve parâmetros dendrométricos (dimensão e forma) do tronco das árvores. “Por curiosidade medi e comparei com aquelas que eram tidas como as mais antigas de Portugal: uma na Póvoa de Santa Iria e outra em Monsaraz. A de Mouriscas tinha dimensões muito superiores”, explica.
Entusiasmado escreveu para o Departamento Florestal da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), instituição que detém a patente para datar oliveiras em Portugal e após a troca de várias mensagens com o investigador José Luís Lousada, a empresa parceira da UTAD, Oliveiras Milenares, deslocou-se ao terreno, fez a recolha e o certificado foi atribuído em Setembro de 2016. O estudo custou mil euros, quantia que o grupo de cidadãos das Mouriscas não tinha. Valeu-lhes o apoio de uma empresa de São Miguel do Rio Torto, a Ourogal, dedicada à exportação de azeite que financiou a datação.
Neste momento existe mesmo “um protocolo entre a Ourogal e a Câmara Municipal de Abrantes para tratar de tudo o que a oliveira precisa”, como uma vedação, uma placa indicativa e solos próprios, adianta António Louro. A intervenção irá acontecer pela mão da Escola Agrícola das Mouriscas, supervisionada pela UTAD através da empresa Oliveiras Milenares.
“Como havia a ideia de procurar outras, encontrámos centenas de oliveiras velhas para a Rota das Oliveiras Milenares das Mouriscas” que o grupo quer implementar com o apoio da autarquia. Até porque, a oliveira do Mouchão foi doada à junta de freguesia em troca de uma dívida, o que facilita a ideia do projecto. A maioria está em propriedade privada mas o grupo conta com o apoio de muitos proprietários para implementar a rota turística.

Vereador londrino esteve em Mouriscas
Foi através da classificação da mais velha oliveira portuguesa que o vereador londrino teve conhecimento do projecto do grupo das Mouriscas. “Veio às Mouriscas, deixou um cartão no único café de Cascalhos e pediu a minha ajuda no projecto de levar uma oliveira para Londres”, refere António Louro.
Esta iniciativa é vista pelos empreendedores como “uma mais valia que irá dar visibilidade a todo o concelho de Abrantes, ao olival mourisquense, contribuindo para a preservação das oliveiras milenares”, uma vez que a oliveira a transferir para Londres terá uma placa com várias informações. A viagem está agora em estudo.
Em estudo estão ainda outras rotas, como a de Ribeira de Arcês e a da Ribeira do Rio Frio, embora a prioridade seja a preservação do olival milenar. À do Mouchão, com 3350 anos comprovados, atribuem-lhe a resistência ao clima, ao solo, mas também ao facto de originariamente ser um zambujeiro, uma variante de oliveira selvagem mais resistente. “Esta é enxertada, por isso dá duas qualidades de azeitona”, diz António Louro. Agora, velha como é, precisa de cuidados primários.

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