Retrospectiva 2018 | 14-02-2019 14:49

“Orgulhamo-nos do passado mas o que nos entusiasma é o futuro”

“Orgulhamo-nos do passado mas o que nos entusiasma é o futuro”
Ateneu Artístico Vilafranquense é Personalidade do Ano na Cultura F.

É uma casa de cultura com um passado exemplar que lhe serve apenas de referência para perspectivar o futuro. Para além das múltiplas actividades que disponibiliza para os seus associados e população em geral, tem vindo a promover espectáculos de qualidade no seu auditório com capacidade para cerca de seiscentas pessoas. O contínuo reforço da sua ligação à comunidade é uma prioridade permanente.

Como está actualmente o Ateneu?

A nossa história é rica e todos nos orgulhamos do passado do Ateneu, que é feito de muitas dificuldades e momentos bonitos. Vivemos hoje um presente feliz mas olhamos com muito entusiasmo para o futuro. Somos uma instituição da cultura mas que também tem nas suas actividades o desporto e a recriação. O ex-líbris do Ateneu é a banda, que tem uma longa tradição e um prestígio que transporta consigo há 127 anos. Movimentamos nas actividades regulares perto de meio milhar de praticantes, não é coisa pouca. Sabemos o nosso papel na comunidade.

Herdaram uma situação financeira frágil. Como estão a conseguir dar a volta a esse cenário?

Em jeito de balanço, podemos dizer que o ano passado ultrapassámos os objectivos que tínhamos definido. Herdámos o Ateneu numa situação muito frágil e havia um vazio directivo há muito tempo. Esta direcção não tem nenhuma ligação às direcções que por aqui foram passando e não nos conhecíamos uns aos outros mas enche-me de orgulho liderar este grupo porque todos se dedicam de forma exemplar, extrema e muito profissional, ao Ateneu. E todos de forma benévola.

Inicialmente surgiram relatos de carência extrema. Falou-se que tiveram de pagar do vosso bolso a conta da luz por falta de dinheiro.

Sim, isso aconteceu. Há oito meses, quando entrámos, perguntámos a cada um com quanto é que podia contribuir para pagar as facturas. Neste momento já não temos problemas de tesouraria e a nossa gestão corrente está garantida. Mas temos dificuldades, porque herdámos a casa com défice e dívidas correntes de 15 mil euros. Estamos a fazer caminho mas estamos muito optimistas. Este ano vamos dar um salto enorme em termos de orçamento. Ainda estamos a apurar contas mas já podemos dizer que movimentámos cerca de 300 mil euros. Foi um salto enorme.

Como conseguiram?

Realizámos muitas actividades e foram geradas receitas extraordinárias. Isso aconteceu a partir da legalização do edifício. Dormimos descansados porque temos espírito de missão e sentimos que as coisas estão a evoluir favoravelmente. No ano passado investimos mais no Ateneu em obras do que se investiu nos últimos 30 anos. Foram feitas pinturas e outras pequenas intervenções. Foram colocadas lâmpadas LED, o ar condicionado foi reparado. Hoje já não estamos com o credo na boca mas temos ainda um caminho a percorrer.

Como sentem que a cidade olha para a associação?

Sentimos que a população voltou a olhar para o Ateneu com orgulho. Ele é de todos e é para todos. Verdade se diga que a associação não estava fechada mas não tinha a abertura à comunidade que neste momento tem. As portas do Ateneu escancararam-se na nossa gestão e as nossas actividades não ficaram circunscritas a este espaço. Fomos para a rua, estamos perto das pessoas e há dois anos sucessivos que fazemos as animações de Verão no largo do município. Queremos ir mais além e ter outras responsabilidades na organização de grandes eventos da terra e da cidade, como o Colete Encarnado.

O vosso auditório é único no concelho. Tencionam explorá-lo mais?

Quando começámos a promovê-lo deparámo-nos com situações impensáveis, de vilafranquenses que não o conheciam. O auditório era também uma despesa mas este ano vamos inverter a situação e ele vai começar a gerar receita. Aliás, isso já aconteceu em 2018 e vai continuar.

Como?

Trazemos espectáculos de fora e nós próprios promovemos iniciativas. Com esta legalização do auditório queremos inscrevê-lo na rede das grandes salas de espectáculos nacionais. O grande objectivo que temos é fazer do Ateneu uma instituição de referência nacional, pelas boas práticas de gestão e pela qualidade da nossa oferta cultural e desportiva.

Sem pessoas não há associações. Têm conseguido que a população saia de casa e adira aos vossos eventos?

Não tem sido fácil tirar as pessoas de casa mas ainda assim tem sido mais fácil do que pensávamos. Tem havido um incremento de espectadores nas nossas iniciativas. Antigamente fazia-se um espectáculo ocasionalmente, agora durante pelo menos sete meses do ano temos espectáculos todos os fins-de-semana e conseguimos ter casa cheia, na maioria deles. Estimamos, em 2019, atingir a cifra de 20 mil espectadores e 60 mil utilizadores do edifício. É um valor realista.

Qual o critério para a escolha dos espectáculos?

Temos tentado oferecer cultura e diversidade cultural para chegar a vários públicos. Temos desde os espectáculos de revista à portuguesa até festas de associações de estudantes. As pessoas são um pouco comodistas apesar de se passar imensa coisa em Vila Franca de Xira. Há sempre muita coisa a acontecer mas muitas pessoas não vão. É uma questão de hábito que pode ser alterada. Admito que não temos tido capacidade de promover da melhor maneira o que vamos fazendo mas vamos melhorar.

Como se relacionam com as restantes associações do concelho?

Somos adeptos de uma rivalidade saudável que nos ajude a ser melhores. Se os nossos concorrentes forem bons teremos de ser melhores para os poder superar. Gostamos de uma rivalidade praticada com valores e princípios. Estamos a desenvolver a esgrima hoje, por exemplo, porque não havia mais ninguém a oferecer a modalidade de esgrima no concelho.

O Ateneu esteve vários anos sem direcção. O associativismo está doente?

Os políticos dizem que o associativismo está pujante mas não é assim. A sociedade actual é mais individualista e isso tem reflexos no associativismo, que é um exercício de equipa.

O que mais desincentiva quem quer fazer alguma coisa no associativismo?

Há um fenómeno muito desagradável. Por vezes, quando alguém decide dar o seu tempo em prol do associativismo surgem boatos a dizer que essa pessoa só quer atingir um objectivo pessoal, subir aqui ou ali, especialmente na política. É provável que haja quem use o associativismo como rampa para a política mas não é o nosso caso. As pessoas que estão disponíveis para dar o seu tempo às colectividades não estão disponíveis para levar com essa conotação, sentem-se injustiçadas.

Os dirigentes deviam ser remunerados?

Não é esse o nosso entendimento e por isso o nosso trabalho é voluntário. É assim que nós queremos que as coisas sejam feitas. Não há dinheiro nenhum que pague o nosso trabalho. Sou dirigente associativo desde os 18 anos e profissionalmente fui militar.

Que objectivos têm para o futuro?

Queremos dar continuidade ao aumento do número de sócios. Quando começámos tínhamos 840 e hoje já somos 1.100. Queremos incrementar o número de praticantes das modalidades e dar continuidade a todo este processo de requalificação do edifício. Temos necessidade de reorganizar os espaços e criar salas multifunções. As relações com a câmara municipal tiveram altos e baixos nos anos anteriores mas somos hoje parceiros, demos essa garantia de equilíbrio e sustentabilidade da associação. E a câmara tem ajudado bastante. Esta casa tem um potencial enorme para crescer e desenvolver-se.

*Entrevista realizada com o presidente da direcção, José Luís Ferreira, na presença de outros membros da equipa directiva - Cristina Mateus, Carlos Paizinho, Filipe Valente e Catarina Amaral. João Fernandes também integra o grupo mas não pôde estar presente.

A maior casa de cultura do concelho

O Ateneu Artístico Vilafranquense, uma das maiores colectividades do concelho de Vila Franca de Xira, celebra em 2019 os seus 128 anos de existência e passa por uma fase de crescimento e mudança. Depois de vários anos de um vazio directivo encontrou, em Março de 2017, novos rostos para o dinamizar. A prioridade é consolidar as contas da colectividade ao mesmo tempo que mantém as portas abertas à comunidade, oferecendo actividades culturais e desportivas diferenciadoras.
O Ateneu foi formalmente criado em 1939 mas as suas raízes datam do dia 1 de Maio de 1891 quando arrancou a Fanfarra 1º de Maio. Em 1906 a colectividade passou a designar-se por Grémio Popular Vilafranquense e em 1916 a Fanfarra deu lugar a uma banda de música, passando a associação a designar-se por Grémio Artístico Vilafranquense. Uma década mais tarde adoptou o nome que tem actualmente e foi consolidando o seu papel na comunidade vilafranquense.
Durante o período da ditadura, e em particular na década de 70, o Ateneu viveu um dos seus maiores picos de actividade. Em 1993 foi reconhecido como instituição de utilidade pública. Em 1999 o Governo distinguiu a associação com a Medalha de Mérito Cultural e também a Junta de Freguesia e a Câmara de Vila Franca de Xira lhe atribuíram a medalha de mérito, prata e ouro, pelos seus serviços em prol da cultura na cidade e no concelho.
A banda de música é um dos ex-líbris da associação, com uma longa tradição e qualidade que transporta consigo há décadas. Além de uma orquestra juvenil, o Ateneu tem também uma escola de música onde ensina não apenas os instrumentos de sopro que integram os naipes da banda como também tem aulas de piano, guitarra e violino. O seu auditório, com capacidade para 570 pessoas, é a maior sala do concelho de Vila Franca de Xira e acolhe anualmente dezenas de espectáculos, do teatro à música passando pela dança.
No último ano a maioria dos eventos realizados no auditório do Ateneu teve casa cheia e para este ano a expectativa dos dirigentes é chegar aos 20 mil espectadores. O último ano foi também um ano de melhorias na sede da associação. Houve pinturas e reparações, mas o mais importante foi a legalização do auditório, que ainda não tinha alvará de utilização emitido.
O Ateneu Vilafranquense tem ao dispor da comunidade aulas de dança contemporânea, dança criativa, hip-hop, ballet, teatro, coros, escola de flamenco, aulas de taekwondo, esgrima e ténis de mesa. Também funciona no edifício uma oficina de desenho e pintura. As actividades regulares movimentam cerca de meio milhar de pessoas e tem actualmente mais de 1.100 associados, números que os dirigentes esperam conseguir aumentar nos próximos anos.

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