Retrospectiva 2018 | 14-02-2019 14:49

“Os aficionados não podem ficar indiferentes perante os ataques à cultura taurina”

“Os aficionados não podem ficar indiferentes perante os ataques à cultura taurina”
Poisada do Campino é Personalidade do Ano na Tauromaquia

Quase tudo o que está relacionado com a tauromaquia em Azambuja tem a marca da Associação Cultural - A Poisada do Campino. Grupo de Forcados, Escola de Toureio e Praça de Toiros são da sua responsabilidade. E a Feira de Maio, um certame anual dos mais castiços do Ribatejo, é organizado pela câmara municipal, tendo como parceiro principal a Associação.

Que balanço faz do seu primeiro ano à frente da associação?

Está a ser positivo e tenho contado com a ajuda de toda a minha equipa. A associação está ligada às tradições e cultura da Azambuja, que é uma terra muito taurina e é isso que queremos preservar. Tudo o que tem a ver com a festa brava, toiros, campinos e cavalos é connosco. Somos a associação responsável pela dinamização da praça de toiros e temos como secções o grupo de forcados e a escola de toureio. O mundo da tauromaquia não é fácil mas temos conseguido cumprir com os nossos objectivos e somos hoje uma associação aberta à comunidade.

Qual o ponto de situação do grupo de forcados?

O grupo de forcados passou por uma altura menos boa e chegou a haver uma fase em que só fazia uma corrida na Feira de Maio. Quando assumi ficar à frente da Poisada do Campino, o meu objectivo era zelar pelos forcados e pela escola de toureio. Temos conseguido dar-lhes mais corridas com a ajuda do empresário Ricardo Levesinho. Estamos a conseguir elevar o nome dos forcados e em 2018 eles fizeram cinco corridas e dois festivais. E já conseguimos mais duas corridas para 2019. Não tem sido fácil renovar o grupo mas há gente nova a entrar. O futuro está assegurado, disso não tenho dúvida.

A escola de toureio também passou por momentos atribulados recentemente...

Na escola de toureio esteve cá o maestro Ernesto Manuel, por quem tenho grande estima e fez um trabalho excelente. Houve aí um momento tenso de ameaças de fechar no tempo do anterior presidente, que entrou em choque com ele. Isso foi tudo ultrapassado. Fiquei cá e desde a primeira hora quis salvar a escola e conseguimos. O Ernesto foi embora em Abril por causa de não ser remunerado. Entretanto falámos com o Carlos Pimentel, que é uma pessoa que nos tem ajudado muito na escola de toureio, e neste momento está o Fábio Machado, uma pessoa com ligações à Azambuja. Temos 13 alunos e alguns já muito bons. E outros estão a interessar-se pela escola e a quererem experimentar.

O futuro da festa brava depende da escola de toureio?

Depende dos alunos e do seu entusiasmo e valor. Acompanho-os todos os dias e dá-me alegria vê-los crescer. Temos um menino com sete anos, que está aqui há quatro e é fantástico. Tem evoluído bastante. Tivemos também um miúdo com vários problemas familiares, abandonado pela mãe e que era mau na escola, não falava com ninguém. Desde que veio para aqui transformou-se. Isto faz bem. Os miúdos sentem-se bem aqui e esse é um caso sem igual. A escola tem tido procura e ainda há duas semanas admitimos um novo aluno.

Como se cativam os mais jovens?

Vamos apostar nas escolas. Queremos que os miúdos venham conhecer e experimentar. Eles são o futuro. Não duvido que as próximas gerações continuarão a ter muitos aficionados mas tem de se trabalhar muito para que isso seja uma realidade. Se estivermos à espera que as coisas aconteçam de forma natural, como antigamente, não vamos conseguir. A festa tem futuro mas as pessoas devem envolver-se mais.

Quando tentam realizar actividades taurinas da escola encontram dificuldades?

Quase sempre porque as entidades nacionais não facilitam nada. Todos os eventos que temos feito com jovens da escola de toureio temos tido problemas. Ora são queixas de um gabinete de advogados de Lisboa por os alunos serem menores; queixas para a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens ou para a Inspecção-Geral das Actividades Culturais. Assim é complicado. Nunca tivemos de cancelar um evento porque somos persistentes e vamos à luta. Se cedêssemos estaríamos a fazer o que os anti-taurinos querem. Vamos lutar pela nosso cultura e pelas nossas tradições até à exaustão. Poderemos tentar melhorar algumas coisas mas acabar com a festa, como alguns querem, isso é impensável.

O que pode ser melhorado?

Os empresários que dominam a tauromaquia. Tenho aqui apanhado umas decepções grandes com alguns deles e a associação já foi enganada. Fazem contratos que não cumprem, número de corridas por fazer que não fazem, corridas para dar aos forcados que não dão, entre outras coisas.

Há uma máfia nos toiros como dizem alguns aficionados?

Máfia não diria mas há pessoas menos sérias que prejudicam a festa. Nós só temos futuro se trabalharmos com gente séria.

Porque decidiu avançar com uma lista para dirigir a Poisada?

Eu já pertencia à casa desde 2011 e já fazia parte da direcção até que um dia decidi tomar as rédeas da associação. Com o António José Matos as coisas estavam orientadas mas depois ficou um presidente que fazia tudo sozinho e como não concordava com a gestão que estava a ser feita tentei fazer melhor. E sabia que tinha condições para fazer melhor. Estou muito satisfeito e orgulhoso da equipa que tenho, não estou arrependido de ter avançado. Sou aficionado e gosto muito das largadas e dos toiros. Gosto mais do toureio a pé.

Como analisa os ataques à tauromaquia?

É uma questão de interesses. As pessoas preocupam-se muito com os toiros mas depois se for preciso maltratam outros animais. Esses ataques combatem-se dando a conhecer aos jovens o que é a tourada, para que vejam o que é este mundo, o que é um toiro. O toiro deve ser o principal elemento da festa. Do que realmente gosto na tauromaquia é do toiro. Quando vejo um toiro no campo dá-me um prazer imenso. Sou capaz de passar horas a vê-lo.

Ainda há campinos?

Ainda existem e fazem um trabalho importantíssimo. Para nós têm sido uma mais-valia. A profissão alterou-se com os anos, evoluiu, mas muito ainda é o que era. Em Azambuja as pessoas gostam muito de ver os campinos, as largadas, as provas, os jogos de cabrestos. Sempre houve muitos e bons campinos aqui. O espírito do campino aqui está mais vivo do que nunca.

Porquê poisada e não pousada?

Boa pergunta, também não consegui ainda perceber porque motivo. Correndo o risco de errar, acho que terá a ver com o facto de antigamente os campinos usarem, na semana em que ficavam no campo, uma poisada, pequenas casas tipo palhotas...

Quais os objectivos futuros para a associação?

A associação está estável, temos nas nossas contas dinheiro para manter o funcionamento da Poisada e a tendência é para continuar a subir. Temos tentado sempre, à parte de apoiar os forcados e a escola de toureio, manter eventos que fazemos com os campinos e a comunidade. Os alugueres do nosso espaço são uma fonte de rendimento importante. Queremos continuar a melhorar as condições e elevar o nome do grupo de forcados. Ambicionamos que o grupo continue a crescer e a afirmar-se, de uma forma sustentável e com os pés bem assentes na terra, sem pressas. Na escola de toureio gostava que se fizesse aqui um matador de toiros. Não é fácil mas é a tentar que vamos conseguir.

Como sentem que a vila olha para o vosso trabalho?

Acredito que com bons olhos. Toda a gente valoriza o nosso trabalho, nos dá os parabéns e força para continuar. Temos conseguido que muitas pessoas, mesmo as que não tinham ligações à Poisada, apareçam para ajudar e colaborar connosco. As pessoas têm sido incansáveis.

Está satisfeito com o uso dado à praça?

Sim. Na praça de Azambuja fizemos duas corridas e um festival o ano passado, juntamente com muitos treinos dos forcados. Duvido que haja algum grupo no país que faça tantos treinos como o grupo da Azambuja. E fizemos umas 17 vacadas. Uma das primeiras coisas que falámos com o presidente da câmara foi sobre a ideia de valorizarmos o investimento feito na praça. Ainda haveremos de fazer muita coisa ali.

Se encontrasse um anti-taurino o que lhe diria?

Dizia-lhe para ter juízo. Respeito-os e toda a gente devia respeitar-nos. Neste momento não há esse respeito da parte deles para connosco. No Campo Pequeno já me chamaram todos os nomes.

Uma associação que agrega tudo o que diz respeito à festa brava

A Associação Cultural A Poisada do Campino, em Azambuja, foi fundada a 19 de Março de 1989. Na génese da sua criação esteve a ambição de um grupo de homens que quis preservar a memória e identidade taurina da localidade, prestando homenagem a essa figura ímpar da festa brava que é o campino. Um outro objectivo, que se mantém até aos dias de hoje, é ajudar o município na organização da Feira de Maio, evento que agrega em Azambuja meia centena de campinos e atrai milhares de visitantes.
A associação já passou por três sedes diferentes. Actualmente está no centro da vila, perto do pavilhão municipal. O recinto, propriedade municipal que está cedido à colectividade, foi inaugurado em 2008 e reúne nas suas paredes algum do vasto espólio taurino da associação, incluindo raras fotografias de figuras ligadas à tauromaquia. A Poisada do Campino tem 356 sócios e a tendência é para crescer. O actual presidente da direcção, Joaquim Campino, está ligado à colectividade há quase uma década. No início de 2018 decidiu constituir um grupo de pessoas para integrar novos corpos sociais.
A Poisada do Campino é hoje uma referência regional ao agregar em Azambuja tudo o que está relacionado com a festa brava e tem também duas secções. O Grupo de Forcados Amadores de Azambuja, que tem 23 elementos e que está a apostar forte em regressar à glória de outros tempos, e a escola de toureio, que treina 13 alunos e que tem visto nos últimos meses a procura de jovens a aumentar.
A associação é também responsável pela dinamização da praça de toiros da localidade, realizando nela corridas de toiros, vacadas e treinos dos forcados e dos alunos. Para ajudar a financiar as actividades da associação a sede é usada também como espaço para pequenas festas, convívios e colóquios. Um dos objectivos da associação para o futuro é fomentar junto dos mais novos o gosto pela festa brava através de campanhas nas escolas da localidade e manter o rumo de crescimento e consolidação financeira que tem sido conseguido pela actual direcção.

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