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População de Alcorochel perde farmácia para a cidade
Joaquim Nobre, em primeiro plano, e António Gruinho, clientes da Farmácia Inácio

População de Alcorochel perde farmácia para a cidade

Estabelecimento tem luz verde para se mudar para Torres Novas. Parte da comunidade compreende que é difícil fazer negócio na aldeia, mas tem pena que o comércio tradicional esteja a morrer.

Cecília Nobre lamenta a saída da farmácia, mas compreende o proprietário

Cecília Nobre, 68 anos, sempre viveu em Alcorochel e lembra-se de haver farmácia desde a sua juventude. “Foi mudando de dono, mas há mais de 50 anos que aqui temos farmácia”, conta a O MIRANTE
debruçada no varandim do quintal de casa, a poucos metros da Farmácia Inácio. Sofre de problemas pulmonares, dos rins e do coração e gasta em medicamentos cerca de 100 euros por mês. Diz compreender que o proprietário queira sair da aldeia para a cidade. A povoação tem cada vez menos gente e cada vez mais velha. “Ainda hoje faleceu um senhor de 76 anos” revela, acrescentando que os seus dois filhos também dali saíram para procurar emprego e não voltaram.
No largo do Jogo da Bola, local central da aldeia, onde se situa a farmácia, Joaquim Nobre e António Gruinho, de 74 e 70 anos, respectivamente, dizem que são as esposas quem normalmente compra os medicamentos e que nem têm noção do montante que lá gastam por mês. Conhecem, no entanto, o rol de fármacos que mais usam: para a tensão arterial, próstata e colesterol.
Para Joaquim Nobre, operário fabril reformado, é pena que toda a gente fuja das aldeias e condene à morte o comércio local. A farmácia é uma mais-valia para a terra e confessa que só não chora o seu encerramento anunciado por vergonha. António Gruinho, também reformado, mostra-se descontente com a autorização dada pela Câmara de Torres Novas. Para o septuagenário a desculpa da falta de clientes não pode ser levada a sério porque na cidade já há sete farmácias a disputar clientela.

Volume de facturação baixou para menos de metade
Embora ainda não haja uma data confirmada para o encerramento, Marisa Inácio, filha do proprietário, e também ela proprietária de uma farmácia em Constância, refere a O MIRANTE que os clientes de Alcorochel e das localidades vizinhas não vão ficar esquecidos. “Muitos deles já se deslocavam a Torres Novas para adquirir medicamentos e àqueles que não o possam fazer continuaremos a levar-lhes os fármacos a casa, como sempre fizemos”. Marisa refere que o volume de facturação do espaço baixou, em quatro anos, para menos de metade, o que torna incomportável mantê-lo aberto.

Farmácias da cidade não queriam mais concorrência
A Farmácia Inácio viu o seu pedido, feito há mais de um ano, ser aceite pela Câmara de Torres Novas, e vai instalar-se num edifício do condomínio Beira-Rio. O caso gerou alguma polémica na reunião de câmara de 15 de Outubro, aquando da aprovação do pedido, uma vez que na audiência estavam os proprietários das sete farmácias existentes na cidade.
De acordo com os proprietários, Pedro Ferreira, presidente do município, tinha-lhes garantido que não iria aprovar esta deslocalização. O autarca respondeu que compreende a posição dos proprietários e que foi uma decisão difícil. Recordou que em 2018 foi feito um abaixo-assinado para não deslocalizar a farmácia para Torres Novas e a população de Alcorochel não aderiu. “Há carrinhas que fazem a distribuição dos medicamentos pelas aldeias e nada vai faltar a essa população”, sublinhou.
PSD e BE votaram contra a decisão de deslocalizar a farmácia de Alcorochel para a cidade, aludindo ao esvaziamento das freguesias de vários serviços, neste caso ao nível dos cuidados de saúde.

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